domingo, 30 de novembro de 2008

domingo

as camisas ainda não chegaram. o padre cancelou a nossa ida à Igreja hoje. a arrecadação ontem com a ajuda da ambulância não aconteceu. Geraldo não aparece há dias. mas já que somos feitas de pés e mãos nós vamos ver o que mais nos aguarda nas esquinas daqui...

sábado, 29 de novembro de 2008

ele é quase todo o meu Brasil...

até o sol aparecer

Os ponteiros correram entre os números, sem marcar horas. Aqueles minutos eram sem data. Calendário dele e dela. Sabendo que em breve a lua teria que descansar correram pra ver o mundo. Ela precisaria de mais alguns olhos pra enxergar tantas luzes naquela noite. Sorte que uma delas ela pôde fotografar... Ele sentia algo que lembrava medo, como se pensasse que ela fosse de vento. Tinha receio de tentar tocar e por pura realidade ter que abrir os olhos. Então ele a elogiava, tocando-a em todo o corpo com palavras. E no final com as próprias mãos. Grossas. Fazia isso com tal encantamento que ela se desarmou. Apenas por uma noite... e desta vez sem luvas para voltar atrás...
antes de qualquer coisa um segredo: eu não sou tudo aquilo que ele pensa...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

pedido

Que ser jovem não seja uma questão de calendário... que seja sempre um sentimento. Imploro para que eu possa ser jovem mesmo com as mãos enrugadas e bengalas nas mãos...

Hoje tive medo de um dia não sentir mais toda essa vida correndo nas estradas da minha veia. Parei pra pensar e percebi que o tempo passa ainda que eu não perceba isso. Lembrei que não nasci ontem... que já vivi bons 24 anos. Percebi com mais certeza que o tempo está correndo quando me exigi postura de mulher, em uma situação que queria apenas rodas gigantes. Preciso ficar atenta às cobranças que faço questão de não cumprir. Quero vestir todos os dias a minha velha roupa de Alice... no país das maravilhas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"- promete que eu serei o seu único homem pro resto da sua vida?
- não posso. não gosto de juras eternas. promete você... que eu serei a sua única mulher?"

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ponteiros no lixo

Ela quer. Ele também. Mas ela é mulher e acha que por isso não pode querer assim tão rápido. Ensinaram pra ela que é preciso tempo. Ela entendeu e cumpriu isso na primeira vez. Mas agora... ela e ele juntos querendo. Ela fervendo nos desejos vermelhos e ele a convidando. E ela lá... pensando no tal do tempo. E nada do relógio adiantar as horas. Sim, ela foi embora... mas assim que chegou em casa jogou no lixo os ponteiros. Daqui pra frente será ela que irá escolher a hora...

pelas ruas de Nova York

Ele me coroou com um chapéu. Depois disso, quis saber de mim como se tivesse fome de me descobrir. Enquanto a música corria apressada a gente dava passos lentos. Ele já riscava o nosso amanhã, que de fato aconteceu... apesar de não ter sido exatamente o dia seguinte. Foi nesse amanhã que nos derramamos num sofá. Tentamos saber do outro com palavras, mesmo sabendo que não haveria tempo para o desfecho. O silêncio foi a parte que eu mais ouvi. A gente ali... se desvendando a partir da pele. Negro de mãos grossas. Dormiu em questão de segundos quando desenhei linhas em seu rosto. A sombra dos pingos de chuva molhavam a face dele... Este homem disse que seria mágico se nós tentássemos ser um só. Eu me escondi atrás do meu desejo pra cortar as curvas sem conteúdo. Ele acordou com sede de conversa e só se deu conta das horas quando lá fora começou a iluminar. Fui embora sem me despedir, mas levei o perfume dele nas luvas que ele esqueceu...

sábado, 22 de novembro de 2008

muros invisíveis

Existem certos limites em relação a não-intervenção porque certo hábito é cultural. Hoje assisti ao documentário Amandla que fala sobre o poder da música na luta dos negros durante o Apartheid, na África do Sul. Pra mim uma cena rouba todas as outras no documentário. É quando uma senhora diz que eram os negros que cuidavam dos filhos dos brancos e assim acabavam criando laços com as crianças, pintando quase um tom cinza, intermediário. Mas quando esses meninos começavam a dar seus passos as cores voltavam a se dividir e o preto e branco tornavam-se radicalmente distantes. Posso assistir um filme por dia sobre a questão racial que sempre vai me chocar a cor diferenciando seres humanos. E o que mais me incomoda é ver resquícios do Apartheid ainda vivos nos dias de hoje. Em Nova York os bairros onde a maioria dos negros vive são bem definidos. Minhas amigas foram passear em Manhattan e me contaram como um dia no metrô pode revelar o perfil das pessoas em NY. Nas paradas do Brooklin e Bronx já não havia muitos brancos. Ficaram pessoas simples e em sua maioria negras. Aproximando de Manhattan os negros desciam e entravam os brancos, desfilando roupas e dinheiro pelo corpo. Um amigo meu que mora em Manhatan há 5 anos me disse que nunca foi no Brooklin e no Bronx. Só me alivia saber que pela primeira vez um presidente negro estará no poder deste país. Faço questão de comprar uma camisa com a foto do Obama. Quero acreditar que ele pode começar a destruir esses muros invisíveis, pelo menos a olho nú.

E que fique claro: este não é um problema exclusivo de Nova York...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Artur Moreira

chegou poucos minutos antes da reunião começar deixando pelas janelas do vento o cheiro de álcool. estava ali fazendo política, mas notava-se que era por pura necessidade. é artista plástico e deixa nos trabalhos as curvas dos seus pensamentos. foi lá na frente, enfrentou os olhos e nos deu a mão. terminou dizendo:
- Eu não tenho esse problema de estar sóbrio...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

pétalas amarelas

Se Maria correr demais correrá o risco de nunca ser alcançada. Já posso ver os pés atropelando o corpo com essa mania dela se deixar consumir pela curiosidade sem destino. Ela é cheia de porquês. Parece menina pequena que consegue enxergar tudo como se fosse a primeira vez. Dúvidas não a deixam em paz. Atormentam 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ela não aprendeu a lidar com números então tem muita dificuldade em ser exata. A partir de pétalas amarelas jogadas ao chão do passeio ela inventa os mais diversos jardins. Fica encantada quando percebe que uma única pétala mudou de cor. Ou seja, vive a se encantar por aí... Outro dia ela foi tomar café-da-manhã na lanchonete. Estava no caixa quando entrou um senhor. Já com seus 60 e tantos anos a porta ficou pesada pra ele abrir. Ele começou a empurrar o vidro com todo o corpo e a porta começou a se mover. Maria não agüentou e correu pra ajudá-lo. Abriu a porta e deixou o senhor passar. Ele não agradeceu e fez cara de homem forte. Provavelmente sentiu-se inconfortável com a situação... lembrando de quando ele carregava até uma geladeira sozinho. Na velhice retoma-se a infância com mais maturidade e cabelos brancos. É uma volta longa que se dá e deve ser muito difícil aceitar o cansaço do corpo e da mente. Pra Maria isso tudo é muita beleza acumulada. Ela só sabe se lambuzar...
o mundo pode estar em guerra que se houver o sorriso de uma criança eu sempre vou parar para olhar...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

solidão também é companhia. agradeço, apesar de não saber a quem, pela coragem de enfrentar a mim mesma por tantas vezes...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

arrecadação de fundos em Newark

Eu sabia que participar deste programa me traria muitas explosões. Esta terceira arrecadação de fundos tem sido assim... sem muitas páginas em branco.

Semana passada começamos a trabalhar em Newark (NJ), cidade vizinha a Nova York. Chega a ser estranho falar inglês por aqui, onde vivem cerca de 20 mil brasileiros. Até mesmo porque Newark é a cidade que abriga a maior comunidade portuguesa nos Estados Unidos. Na rua principal, chamada Ferry Street, a maioria dos comércios são brasileiros ou portugueses. É neste cenário que eu estou pedindo doações. No meu primeiro dia aqui eu fiquei na porta de um restaurante, no horário de almoço. Passaram muitas pessoas, mas pareciam estar surdas, porque não me ouviam falar com elas. Também não me enxergavam. E olha que eu parava bem na frente delas. Eu não sei lidar com isso e minha única forma de expressão nestas horas são as lágrimas, que tentam desabafar a falta da consciência humana. Chorei e surgiu o Geraldo. Este homem merece um texto só pra ele... Geraldo conhece a terra mais do que as formigas. No nosso primeiro dia em Newark ele nos levou até a Irounbound Ambulance Squad, que presta serviços de emergência a comunidade local. Conversamos com o Manny, um português que trabalha há 25 anos na organização. Ele está nos ajudando muito. Dia 29 de novembro ele irá conosco arrecadar fundos por aqui. Ele faz isso normalmente representando a organização quando alguém pede ajuda a ele. Manny ficará conosco em um sinal de trânsito usando um mega-fone para pedir doações e nós ficaremos com nossas latinhas passando de carro em carro. Ele disse que da última vez que fez isso conseguiu arrecadar 1.700 dólares. Além disso, ele vai oferecer à população um curso de babysitting, sobre primeiros socorros e reanimação cardiopulmonar. O curso custará 65 dólares, sendo que 45 serão para a nossa arrecadação de fundos. Agora nós temos é que correr pelas ruas de Newark e matricular o maior número possível de pessoas.

Hoje o Geraldo nos apresentou um artista plástico que também irá nos ajudar. Ele vai nos doar 200 camisas para que nós possamos vendê-las. É assim... pode ser que nas ruas a gente não encontre ninguém, mas sinto que existem muitas mãos me segurando...

sendo humana

Eu também me canso de gente. Canso de mim... e me canso dos outros. Vou para o último sofá do bar e injeto altas doses de solidão pra eu voltar a sentir os arrepios. Não nasci pra sorrir todos os dias. Nem acho bonito quem sorri demais. Gosto de cara feia, amassada. É humano ser assim. Cheia de estações. Tem hora pra chover... e se esconder da louca tempestade. E quando for assim pode apostar que em breve vai fazer calor. Ah... ela era exatamente assim. Sabrina!

domingo, 16 de novembro de 2008

gosto de pessoas que quando querem ficar bonitas se maquiam com sorrisos...

acelerando os ponteiros

se ela me espremer sairá um líquido ácido, acumulado desse pedaço azedo de mundo sem mar. ando com ânsia de me deitar naquela rede de cumplicidade, na varanda do nosso sítio. encolher minha pele nas curvas dos dedos de minha mãe. colocar estrelas nos meus olhos em uma longa troca de sangue com meu pai. com ele eu ainda quero sentar na grama e ver a vida passar entre os galhos de madeira cheios de folhas. ando com necessidade de dormir ouvindo a minha própria respiração. acordar com as minhas primas Gisele e Patrícia arrombando a porta com desejos de brigadeiro. quando eu encontrá-las vamos rapar juntas o doce nas esquinas da panela. vou fazer questão de sumir por algumas horas pra memorizar a cor do sorriso da minha irmã. nós teremos muito a contar sobre esses nove meses de saudades. peço apenas que os próximos três meses passem em três dias...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

girando

a vida acontecendo lá e aqui ainda é noite. as pessoas chegando ao trabalho... dando Bom dia! Incrível o fato de lá já ter Sol enquanto aqui ainda posso ver as estrelas. Eh mundão que não pára de girar!

universo particular

Tudo acontecia ao redor delas... e elas juntas, correndo pelo salão de mãos dadas. Achei lindo elas ainda unirem os dedos pra falar de amizade.

a gente se basta

E se eu achar que noite é pra ficar de olhos abertos tateando o escuro?

Aquele dia passou apenas no calendário. Lembro bem que eu queria e você também, mas eu e você não tínhamos coragem de perguntar. Então a gente dançava e se beijava com os olhos. Seguíamos a sombra um do outro. Discretamente. Quando você me procurava eu logo corria com os meus olhos pra outra direção, pra você não perceber o que todos naquela festa já sabiam. Nós nunca soubemos esconder muito bem defeitos debaixo de brigas, saudades temperadas a ciúmes, mãos grudadas na pele... eu e você sempre vivemos debaixo da Lua. A gente não gostava de paredes, a não ser aquelas feitas de árvores e folhas. Já éramos do mundo, porque eu tinha você e você tinha a mim... e isso era exatamente o que a gente queria. Se trancar entre as janelas do mundo e jogar as chaves do andar mais alto pra ninguém conseguir nos encontrar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

terceiro fundraising

Estou na minha terceira arrecadação de fundos, desta vez em Nova York. Chegamos na quarta-feira à noite, dia 05/11. Nesta cidade é muito difícil conseguir doações, acho que cheira demais a capitalismo, passos rápidos e saltos altos. Mas mesmo no meio de tanta correria eu pude ver muitos pés descalços. Na noite de sexta-feira um homem me falou de saudade. Ele abandonou os filhos e veio para os Estados Unidos há 20 anos, porque a ex-esposa o traiu. Agora ele quer voltar... pra ver crescer pelo menos os netos. Molhamos o rosto juntos lembrando assim da vida que se passa sem os nossos olhares. Nesta mesma noite um outro homem me contou que estava com câncer. Ele disse que ficou três meses sem poder sair de casa e que durante todo esse tempo não recebeu nenhuma ligação dos amigos que fez em Nova York. Provavelmente eles estavam ocupados pensando em formas de ganhar mais dinheiro. No sábado mudamos para a casa da Maria, que conhecemos na Igreja Católica. Neste dia fomos para uma cidade próxima, chamada Mount Verno. Eu fiquei em frente a uma churrascaria brasileira, cujo dono chama-se Siminho. Que pessoa fantástica! Geralmente os donos dos comércios pedem que a gente fique na parte de fora para não atrapalhar os clientes. Siminho queria que a gente entrasse e pedisse doações às pessoas nas mesas, não importava como nem quando. Pra ele bastava o motivo! Domingo mais uma surpresa! Fomos a uma Igreja Evangélica em Nova York para provar que toda generalização é burra. Na maioria das vezes os pastores não nos dão tanta abertura para arrecadarmos fundos nas Igrejas. Mas desta vez o pastor Humberto abraçou a nossa causa de tal forma que roubou qualquer resto de beleza nossa pra ele. E não pára por aí! Hoje conheci um americano que trabalha há dez anos limpando os vidros dos comércios. Com um balde cheio de água e sabão ele limpa 255 lojas por semana. Com orgulho ele me disse que é o próprio dono do seu negócio e que ama o que faz. É muita simplicidade pra um homem só!

sem capa

Estes momentos não são raros. Repetem-se tanto que às vezes penso que nasci pra ser assim, como água e fogo, como eu mesma. Eu estava queimando em plena neve e por questão de dias, feitos apenas de horas e minutos, vi minhas mãos ficarem abaixo de zero, mais geladas que o próprio vento. Achei que ela não enxergaria além da minha capa, e que se caso isto acontecesse faria o favor de não me contar. Acontece que dias atrás eu pedi que ela tirasse as capas dela. Mas gente... verdade é uma das piores dores. Falo daquela verdade que você sabe que existe, tenta não mostrar, esconde, faz diminuir, dobra, encolhe, e num momento de frágil-limite acaba deixando-a escancarada. Depois disso... não tem como... tem que assumir. Ser... deixar ser... egoísta!

domingo, 2 de novembro de 2008

meu abraço em mim

Apaguei a luz. Acendi a vela. Incenso. A música começou a cantar. A cintura debaixo da roupa acompanhava o ritmo e dançava de uma ponta a outra sentindo cada movimento dos ossos. Eu olhava o reflexo no espelho, feito platéia de mim mesma. Criava cenas, pessoas, eu mesma. Arrepiava. A minha pele tocando a minha própria pele. Eu me abraçando e me fechando em mim mesma. Amo esses encontros...

maio de partida

E amanhã tem mais despedida. Lá se vai mais um time rumo ao continente de pôr-do-sol colorido. Maio em breve estará com as mãos e os pés em solo africano. Por aqui vão ficar lembranças gostosas, do tempo que eu desenrolava os fios de cabelo da Bia... passava as tardes a procurar a menina Isa que de tão pequena desaparecia entre as montanhas... as faíscas de amor daqueles dois, Júnior e Lívia... a certeza de ser o que se é... Takuhiro! A gargalhada mais cantada: Maurício... Regina e os gritos pelo susto de ver uma simples pluma cair... a pequena japa Mitch passando da pele para o papel a arte viva... Lembro ainda hoje quando me assustei com a idade da Mariko. Os 19 anos dela vão levar fartura para Moçambique. E você Yusuke vai levar essa fibra que eu ouvi tanta gente falar... Vai lá pessoal... chegou a hora!

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...