sexta-feira, 1 de março de 2024

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor. 

sonhando desde sempre, você não foi parar nas nuvens. você acumulou pegadas no chão. incansável na arte de sonhar, sonho após sonho, já urgia o próximo. começou descalço, percorrendo distâncias cotidianas que pareciam chegar ao mesmo destino. ali mesmo você já compunha a fórmula que valeria para os dias sequentes.  

distanciando-se pouco a pouco de suas raízes, cruzou as fronteiras do céu e da terra, indo morar entre as palavras de Deus. nesse capítulo, convenceu-se de sua fé abundante, suficiente para não temer um amanhã se quer. chegou na capital mineira, e apesar do bigode, conquistou uma parceira a quem sublinhou com seu sobrenome. 

do caso fortuito e de força maior, fez limonada. demitido, parou de sonhar para terceiros, e decidiu dar nome ao próprio sonho: Funcional.  das memórias que tenho - que são poucas - sobressai sua confiança inabalável. pergunto se em algum dia você ao menos supôs que não conseguiria...

e agora, aos 70 anos, que para muitos parece ser a temporada dos sonhos já realizados, vem aí a edição especial que é você rotulado de "Vale dos Sonhos". é pai. o mundo é solo fértil para sonhadores.

enquanto você sonha daí, eu me inspiro daqui. 

já concluindo... apesar do tema ser você, reconheçamos: há quem te coloque em cena anualmente. comemorando através das suas passagens, mãe, você é A protagonista!

sábado, 16 de setembro de 2023

meu primeiro amor ~ depois de tantos.

de tantas idas e vindas, ficamos ~ em nós. de lá pra cá, deixamos o itinerário errante e criamos margens para nossos afluentes. plantamos sementes em nossa orla, às custas de certa escuridão, própria de escolhas desejantes. mirar o desejo provoca redemoinhos em corpos acostumados a ceder a narrativas históricas vestidas de futuro. o desejo costuma estar bem ali - nas sombras. corajosos, encaramos nossos mistérios, e entregamos nosso desejo ao sol. colocamos luz na partícula necessária. 

te vi voltar de lá com outro nome, sobrenome e endereço. te desconheci ao te reconhecer ~ ao meu lado. parei de precisar lhe procurar, você enfim aterrizou. senti você cavando raízes dentro de mim, se apropriando dos meus tempos verbais. meu desejo encontrou você como realização. acho que esse é o sonho de todo desejo: achar na vida a própria sorte. fazendo-se de trevo, você virou minha prece. só eu sei como são meus dias depois de você, meu primeiro amor.   

não se assuste por ser o primeiro, depois de outros. a existência precede a essência - já diria você, o que também disse Sartre. 


sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Mundo em pessoa

conheci o Mundo, com letra maiúscula. de olhos coloridos, ele enxerga pela direita, e sente pela esquerda. fala melhor com a língua no meu corpo, em um silêncio tremido. me beija sem cumprimentos, e aproveita a facilidade do vestido poupando obstáculos para desejos urgentes. no plural, porque ele diz não ter situado o fuso horário de sua ereção, penetrando em mim na sequência de narrativas sem prenúncio de sua chegada. ele diz ser minha a culpa, em uma distância continental dos resquícios racionais do gozo. a paixão é mesmo inconsciente. e alivia saber que me querer escapa ao seu controle, eliminando de antemão a possibilidade de estancar essa vontade pela via da razão. 

~ me desejarás - eis meu primeiro mandamento pra nós. ~

o Mundo diante de mim perde suas fronteiras, e coloca os mapas em desuso - cartografando-se em linguagem. em cima de mim, se derrete em orgasmo. acumulo uma camada de suor mediterrâneo que ele jorra sem economia. seus fios pingam prazer, e eu passo os dedos em seus cabelos pra tocar com a palma das mãos sua libido. 

~ eu devoro - e virei devota - do seu desejo. ~


segunda-feira, 20 de junho de 2022

por que insisto em não te querer

não te querer é um esforço. mas eu não te quero. 

ficou claro ?

sem palavras ~ literalmente!

 não escrevi sobre você, e só notei hoje - 7 dias após o fatídico "então ficamos por aqui". rédeas curtas as nossas. não pulamos nenhuma cerca, nem ousamos atravessar nossos temporais. te conhecer entre as fronteiras da razão conteve meu ímpeto de falar sobre você. 

~ se não escrevi é porque não existiu. ~

seguro meu rosto com as mãos agora, tamanha é minha surpresa. faço intervalos entre as frases, porque descubro a nossa ausência na velocidade das letras que aqui surgem engasgadas. 

~ você não virou palavra! ~

nós não acontecemos. sinto muito, mas mais agora que nos 60 dias que nos renderam pequenas frações de nós. quando te perguntei se nosso objetivo seguia comum, o seu tom já atropelava o meu. eu não te pedia em namoro, tampouco aceitaria um pedido seu. naquela noite, as palavras foram artifício pra encontrar um meio de sair dos bastidores e abrir as cortinas. 

não, você não é a história que quero pra mim. dizer não pode ser e é revolucionário!

sexta-feira, 15 de abril de 2022

fetal

 quando você chorou, eu desapareci. suas lágrimas escorrendo eram nascentes. quis fotografa-lo nascendo a olho nú. você negou, a foto e o nascimento. 

domingo, 10 de abril de 2022

o que poderíamos ser, e por isso, somos

{...}


desbravaríamos o mundo das cachoeiras, sem nunca esquecermos da primeira - inesquecível por assim dizer. áquaticos que somos, nos manteríamos mergulhados em nós. 

eu assistiria seu feminino, antes às avessas, ressurgindo e espiando o amor - entre frestas. valeria checar se as portas, ainda que abertas, velam cadeados. 

lágrimas são vestígios ~ e as suas eu jamais enxugaria, rio que és. não tenderíamos ao sertão, vasto que somos. 

{...}

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...