quarta-feira, 23 de maio de 2018

vim de lá, e vou pra lá

vim de lá, de um mundo bem particular. debruçava-me em olhos, e desmanchava-me em versos. enxergava poesia no sertão, e só percebia a seca depois de atravessar a estação. todo ano era a mesma cena, e nada de eu aprender a abandonar a vontade do mar. a miragem me tirava do conforto, e os passos nunca que me levavam até um porto. duvidei então da existência de um aconchego, e acreditei que a falta de ar era impulso pro lado de lá.

um balanço de idas e vindas

fio a fio foram se encaracolando no vento que se inventava a cada ida e vinda do balançar da menina. os cabelos envolvidos na trança se atreviam a sair do contorno e espiar o sopro; e quando voltavam, não mais retornavam. os braços da menina seguravam as cordas nas laterais do balanço e suas pernas guiavam a corrente de ar que ali se descobria. os pés se protegiam do chão, e o corpo ganhava impulso a cada vez que se aproximava do céu. interessante era notar que os picos se revelavam nos caminhos de ida e de volta, e que a chegada era o desfrute da partida. tudo dependia então da forma como se iniciava o impulso, do tanto que fôlego que se depositava na largada.

tu que não sei porque deixo ficar

tu que vens sem acessórios, sem polidez, sem lapidação. vem sem censura, sem jeito, sem costura. tu que chegastes sem abraço, sem carinho, sem aconchego. tu que vais sem despedida, sem amanhecer, sem café da manhã. tu que ainda assim fica, sem futuro, sem pedido, sem as chaves. tu que segues nos amanhãs sem me reservar um endereço. tu que não sei porque deixo voltar. a tua distância se revela abismo e eu me pus a construir pontes que me levem até o canto onde você se esconde. sim, há um esconderijo. as vezes te descubro nos olhos, outras nas interrogações. te capturo nos descuidos, nas intenções, nas minhas tantas interpretações. te leio o dia inteiro, e assim meus mil devaneios. uso lupas de fazer enxergar teu coração. te amplio, te exagero, te faço oceano. tu que me travastes na dúvida, na incerteza, na insegurança. tu que me faz engolir seco cada pergunta que ressoa a cada segundo. então parei. parei pra deixar você passar, mas principalmente pra te fazer tropeçar (em mim). estou me colocando em seu caminho, me incluindo em seus dias, to me desenhando em sua paisagem. estou aos poucos ficando.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...