sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

escrever é entregar pra você o que antes era só meu

foi ontem que tomei consciência do meu vício pela leitura. enquanto sentia meu corpo se confundir com as páginas de um livro, notei a antiguidade desse hábito. até então não tinha nomeado de leitura o meu gozo, porque as letras se reuniam cientificamente. eu dizia que meu desejo era pelo conhecimento, fonte possível de transformação. acreditava que a tradução do mundo em palavras organizava futuros. eu lia para escrever. quanto maior o engasgo, maior era meu vômito letrado. 

~ diplomei minhas utopias ~ 

comuniquei oficialmente minhas lentes. até ver nascer um furacão dentro de mim. eu me vi ruir quando escrever parecia resultar em diários guardados em minhas gavetas. pra não deixar o texto morrer no papel, circulei a palavra, dei voz ao conteúdo, mas cansei de enxergar as entrelinhas. 

~ comecei a sentir na pele a dor escrita

os livros começaram a invadir meus pulmões, e eu perdi a fé nas palavras carimbadas pela academia. tomei distância da cadeira de aluna. escolhi lugares que descansassem meus olhos e acalmassem minha respiração. dei de cara com os livros. outra vez. mas agora, literários. o desejo antigo - que de tão latente nomeei de sonho - retornou: o livro. 

escrever é a forma mais profunda de tocar em meus continentes internos. este era meu recalque. na escrita me descubro, e na publicação, confio em mim. 

~ escrever é a maior prova do meu amor mais próprio ~

violência é um eco

parecia um grito - de socorro? a vida ainda que cotidiana derrapava às margens das violências, formando feridas não cicatrizavéis.  o tempo não as costurava: elas repetiam, ou se reinventavam com outros nomes e formas. porém, violência não se torna invisível com a vitrine da nova estação. um corpo sente outro corpo violentado. é com a pele que enxergamos a dor. 

a pergunta fatal é: por que a violência não ecoa para todos?


70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...