foi ontem que tomei consciência do meu vício pela leitura. enquanto sentia meu corpo se confundir com as páginas de um livro, notei a antiguidade desse hábito. até então não tinha nomeado de leitura o meu gozo, porque as letras se reuniam cientificamente. eu dizia que meu desejo era pelo conhecimento, fonte possível de transformação. acreditava que a tradução do mundo em palavras organizava futuros. eu lia para escrever. quanto maior o engasgo, maior era meu vômito letrado.
~ diplomei minhas utopias ~
comuniquei oficialmente minhas lentes. até ver nascer um furacão dentro de mim. eu me vi ruir quando escrever parecia resultar em diários guardados em minhas gavetas. pra não deixar o texto morrer no papel, circulei a palavra, dei voz ao conteúdo, mas cansei de enxergar as entrelinhas.
~ comecei a sentir na pele a dor escrita ~
os livros começaram a invadir meus pulmões, e eu perdi a fé nas palavras carimbadas pela academia. tomei distância da cadeira de aluna. escolhi lugares que descansassem meus olhos e acalmassem minha respiração. dei de cara com os livros. outra vez. mas agora, literários. o desejo antigo - que de tão latente nomeei de sonho - retornou: o livro.
escrever é a forma mais profunda de tocar em meus continentes internos. este era meu recalque. na escrita me descubro, e na publicação, confio em mim.
~ escrever é a maior prova do meu amor mais próprio ~