sábado, 31 de janeiro de 2009

dia 31 de janeiro

tal era a realidade do dia 31 de janeiro que ele de fato chegou. entre o ar e a minha pele há algo impedindo a respiração. algo como saudade. o oxigênio me parece mais pesado que o meu próprio corpo. hoje não quero janelas. vou me trancar com todos os alfinetes que me fazem sangrar. por isso escrevo. pra ver se me salvo.

a nossa melhor coincidência foi a música. eu e ele quase não existíamos sem barulho. não existe muita matemática em tudo isso. há sim minha toalha molhada deixando seco o corpo dele, meu sabonete partido ao meio, o livro que ele não acabou de ler, uma oração no pescoço, as listras da blusa que ele deixou na cama. não há palavras como amanhã, depois, daqui a pouco. restaram apenas fotos e uma carta que eu beijei com cílios:

"Débora, olhar pra você e ver que você faz da sua missão algo maior que sua vida, me inspira. Eu não tenho o dom de fazer as palavras dançarem balé sobre o papel ou de fazer sua poesia parecer um beija-flor, sempre a dois metros do chão. Porém, eu quero que você esteja certa da enorme admiração que eu tenho por você. Foi, sem dúvida, uma das melhores coisas que me aconteceram na montanha. Pra mim, já é eterno. Enquanto um é todo transparência, o outro é esconderijo por essência. E nisso eles se fascinam um pelo outro: um quer descobrir o que tanto se esconde e o outro quer aprender a ser e só ser. Eu tô me passando dando um de borboleto. Eu só precisava dizer que você é alguém especial e que estará em minhas orações. Deus vai abençoar sua viagem!"

e por isso eu digo que uma coisa é certa: é injusto as pessoas terem sonhos à quimômetros de distância umas das outras.

domingo, 25 de janeiro de 2009


alguém me ajuda a apagar o dia 31 de janeiro do calendário?

pedido de despedida

antes dele ir embora eu queria fazer um pedido de menina. queria um olhar de pupilas, retinas e cílios. queria um olhar de menino. queria um olhar de quem se apaixonou. queria um olhar embaçado, de quando você começa a desfocar o resto do mundo e a sublinhar apenas um certo alguém. eu queria. eu sei. eu acabei de escrever. mas se acontecer... aí vou querer vários outros... e aí... quando ele me ligar farei o prometido: partirei no primeiro avião.
sinto como se tivesse que desligar o telefone depois de horas de silêncio apenas ouvindo a respiração dele...

sobre olhos que se beijam

cada um com seu par. ou com mais de um par. mas cada um com outro alguém. que olhos são esses nossos que abusam assim, tão descaradamente, do poder de olhar. e quando olham atravessam. e quando atravessam arrepiam. e depois que arrepiam... se beijam! cílios com cílios.

calvin klain

antes que esta noite acabasse eu quis vir ate aqui para escrever, pra voce. pra um menino que nao ainda nao sabe ao certo de onde vem o amor. sentimento que vem de lugar determidado, mas com a impossibilidade de ser apontado. mas que vem. assim... sem porque, sem razao. so pra sentir. feito perfume de calvin klain.

sábado, 24 de janeiro de 2009

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

palavras como comércio, vendas, lucro, crise, desemprego, promoção, cargos não deveriam fazer parte do meu mundo. eu tento! e muito!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

já entorna demais

se houvesse eternidade faltaria a vontade. não teria a loucura atravessando oceanos a nado. o pulso rasgando a pele que fez-se espaço comprimido para as batidas. não haveria malas prontas em uma hora correndo atrás do ônibus que acabou de partir. os textos seriam menos coloridos. foi pra salvar as lágrimas e as bochechas vermelhas que então criou-se a morte. foi pra gente entender que em um dia acontece uma vida inteira. pra fazermos do rosto um quadro vivo de emoções. mas aí, no meio de tantos possíveis caminhos alguém simplesmente nos interrompe pra dizer que há pouco tempo pela frente e que por isso é melhor manter os flashes. acho que muita gente segue os relógios regados a bateria. essa gente não tem relógio dentro de si. não percebe o quanto poucos minutos são maiores que muitos anos. e isso sufoca-me, como se me amarrasem de costas para o mundo, costurassem a minha boca e furassem meus olhos. é pior que perder os sentidos. é ter tudo tão vivo aqui dentro e ser obrigada a permanecer do lado de dentro. justo eu que coloco minha cabeça pra fora da janela todos os dias. é um exagero! sou mesmo um exagero!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

neva aqui dentro

muitas vezes arrebenta em mim uma vontade de escapar das notícias e estatísticas. desejo de viver entre paredes de abraços. poder me esconder entre muros de calor. sem muito texto. sem muito barulho. mas por aqui... faz frio demais. incrivelmente!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nova York

o homem foi até a pizzaria e pediu um pedaço da pizza que ainda estava no forno. disseram a ele que sairia em vinte minutos. o homem achou razoável e decidiu esperar. acompanhando o ponteiro do relógio ele viu o tempo passar. vinte e um minutos.
- cadê a pizza?
- está quase pronta.
- mas já se passaram vinte minutos.
- desculpe, mas vai demorar ainda alguns minutos - fala o funcionário um tanto quanto sem graça com a situação.
- vocês disseram que levaria vinte minutos pra ficar pronta e agora vai demorar mais?
o homem ficou nervoso como se a vida fosse lhe escapar entre os dedos por conta desses minutos a mais. eu sinceramente não suporto pessoas que pensam que o tempo corre mais que elas mesmas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

meninos de rua

que o meu mundo seja o mesmo que o deles. que a minha casa seja apenas um lugar pra se dormir. que essa mesma casa nunca me pertença. que as minhas roupas não sejam mais que cobertura. que a nossa fome seja a mesma. que a gente sente junto na hora de comer. que nossos olhos se encham no mesmo instante. que na hora de lutar as nossas mãos sejam uma só. que o meu dinheiro seja pra dar sentido. que tudo não seja em vão. que seja pra me igualar. eu e eles. todos eles!
entre os dois há mais que uma parede de quarto.

mais daquele que povoa a minha mente

um cabra nordestino de chapéu e vara na mão. despersonifica-se pra tentar capturar os instantes de sensibilidade. na boca tem estupidez, chocolate amargo, faca afiada. da mesma boca vejo sair sinais de casca de porcelana. é frágil esse menino. dá vontade de carregar no colo e cuidar. de estórias ele se faz, se cria. mas fica sempre a vontade de ser outro personagem, nunca aquele que ele é. pra se aproximar do seu ideal: Bíblia. ajoelha e pede perdão. e no dia seguinte repete a si mesmo. de frente pra esse altar que ele construiu há muita contradição. e ele... ele sabe de cada uma delas e sente o alfinete entrando na pele. mas continua. e depois reza. acima de tudo isso ele é a velocidade do pensamento. a verdade. por isso tantas amizades. ele corre atrás de gargalhadas como quem troca de roupa. o drama não faz parte dele, a não ser nas horas de religião. pra fome dele tem que ter fartura. presunto não o satisfaz, tem que ter massa, prato cheio. o corpo dele pouco descansa. muda muito de lugar esse menino. mal consegue terminar de assistir um filme. é a falta. o vazio entornando álcool e drogas. a mente acompanha o cansaço. pesada. pra cegar ele coloca vendas nos olhos, já que muita luz o faz perder o sono. e ele aqui. nos Estados Unidos tentando ser algo diferente do que ele era... sendo muito do mesmo, mas buscando outras linhas. e já há muito escrito sobre essa mudança. tenho certeza. quisera eu ser mais de um parágrafo. porque pra mim sinto que ele deixa a frieza da necessidade, e não simplesmente os olhos abertos de uma escolha. e é por tudo isso e algo mais que eu não posso traduzir neste texto é que ele é apaixonante. assim mesmo... contra toda a minha razão.

domingo, 18 de janeiro de 2009

amor que repele

sempre acreditei que a consequência do amor era as mãos dadas. mas descubro então que este mesmo amor pode afastar. como um sinal de que existe uma falsa-imunda hierarquia. como se estivéssemos em níveis diferentes. como se para nos fazermos um só precisássemos ser do mesmo planeta. como se a simples manifestação do sentimento pudesse intimidar a expressão do outro lado da janela. como se o meu amor fosse vergonha pra falta de amor dele. dia após dia eu engulo farpas. muitas! eu literalmente engulo, sem ao menos engasgar. quando é inevitável a dor eu me escondo pra ele pensar que sou como ele gostaria que eu fosse. na ânsia de querer ser tanto pra ele esqueço que sou eu mesma e não ele. perdi-me de mim mesma. isto é um fato! aceito o espinho cortando a pele sem letras pra explicar coisa alguma. não há razão que torne isso bonito. nem os beijos são bonitos. não poderia mesmo ter sido diferente a troca das estações. sinto que preciso de um papel branco. menos música, mais do meu próprio som. preciso parar de amar assim... só por amar. na verdade não acho que preciso disso, sendo que é exatamente disso que eu me orgulho tanto. mas nas palavras de fim de festa uma vez alguém me disse que um dia esse mundo que eu criei pra mim se tornaria pesado, feito guilhotina. talvez. talvez.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

que gente é essa que ama olhando as páginas de um calendário?

uma pena

aquele sim foi um silêncio de escandalizar. tirou-me sentidos. fez-me dormir sem olhos, de frente para a parede. mas quem sabe ser gota sem ir pro mar acaba secando-se, porque pra mim é lei: tem que inundar. refrescos de madrugada evaporam... fazem escoar. eu apenas pensei que por ser inverno o liquido não se tornaria vapor assim tão rápido. uma pena.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

menino batuta

tem um menino que carrega poesia no bolso e todo dia deixa cair sob mim um pouco dela. eu estou esfregando cada letra no meu sorriso, que acontece naturalmente. Evandro, né?

além do que sou: o amor.

descubro então que posso amar qualquer pessoa. isto me dá liberdade pra vasculhar mundos lá fora. lá fora de mim, de tudo aquilo que sou. penetro na diferença que me iguala, nos momentos de eclipse. tudo se amplia desta forma. até mesmo o amor. sem setas eu simplesmente sigo o cheiro da amora. satisfaz-me. embriaga-me. assim fico bêbada permanentemente. em êxtase.

domingo, 11 de janeiro de 2009

faz calor por aqui, dentro de mim

quando ele pegou a minha mão meu corpo se desfez num lento arrepio. segurei meus fios em pé o máximo que pude. deixei minhas mãos debaixo das dele até parar de sentir a existência delas e restar apenas o calor da pele. a temperatura é coisa lá de cima. de repente o inverno dele fazendo-se verão em mim, e no final gotas saindo dos dois, que cruzaram as estações.
Clarice ama tanto, que muitas vezes ama mais de um no mesmo segundo.

sábado, 10 de janeiro de 2009

mais que eclipses

dele eu queria só dias inteiros, com direito a lua cheia. mas dele só terei eclipses de fim de festa, num tom de brinde. sinto preferir o desejo não saciado a me embebedar de flashes. acabou-se, mas não dentro de mim.
Por aqui mais uma noite, com direito a luz de lua cheia e caminhos cintilantes com pedacinhos de gelo.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

com gosto

laranja doce. morango com açúcar. uva roxa. abacaxi. maçã sem pecado. salada. abacaxi com gosto de laranja. maçã com cor de uva. não! eu quero mais sabor, com essência, pureza. sem a ânsia da colher em fazer de tudo um só. destruiria um liquidificador agora com meus dentes. é esconderijo demais, impossível saber quem é quem depois do verbo triturar. escolho a leveza da fruta na árvore, a espera de alguém que a sinta, que não apenas se alimente, mas que a delicie. com casca e tudo. pra deixá-la dançar em cada canto da boca, pra anular o gosto da saliva e fazer parecer que a vida tem sabor daquela fruta. tem que impregnar mesmo. até vomitar.

pela segunda vez, meu nascimento.

aconteceu. sem cinzas nem enterro. me deixei morrer no oceano do meu rosto. agora cá estou eu, de novo, mais uma vez. nasci. incrivelmente. naturalmente.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

fios de cabelo

os dedos enrolados entre os fios compridos foi o suficiente pra ela se desmanchar. são muitos os dedos para poucas mãos, mas são poucos os movimentos, são poucas as trocas. sei que cada ser que vive se derrete com um carinho cheio de pele. com ela foi assim também. fazia anos que ninguém misturava seus cabelos ao calor dos dedos. eu percebi isso quando passei minha mão pela primeira vez naqueles fios. bastou um dedo pra todo o corpo dela se abrir em suspiros. fiz caminhos sem volta naquele cabelo. ela não me deixaria naquela noite. eu tinha certeza. ela queria recuperar todos esses anos em horas. esses anos de encontros de bebidas, gargalhadas, conversas, sem cabelos. ela trocou a música pelo carinho. se fechou ali naquela sensação gostosa de se arrepiar com uma pele descobrindo a outra. ela foi um exemplo entre tantos outros que observo todos os dias. penso que os abraços devem ter se perdido na floresta daqui. não vejo gente se tocando. mas toda vez que toco essa gente vejo-as parando pra respirar, como se naquele momento o relógio parasse de funcionar. então elas jogam ao vento as armas e se convertem em uma carência insaciável. tudo por um carinho cheio de dedos. humano!

se eu falasse tudo...

e se eu disser que tem gosto de brigadeiro feito escondido num domingo a tarde? e se eu contar que sinto bolinhas de sabão estourando dentro de mim? e se eu falar que eu só me escondo nos lugares mais facéis de ser encontrada? se eu disser mais vou acabar contando o que eu não deveria, porque cada ser tem sonhos a sua maneira.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

de mundos diferentes

Ele é tão rude que um simples toque dele tem a dimensão de uma declaração feita sob um palco. Quando ele se ofereceu pra levar minha mala até o carro senti como se ele me desse flores naquele momento. Eu e ele não somos do mesmo mundo. Eu sou da Lua e ele da Terra. Mas tem momentos que a gente se encontra e então forma-se um beijo, que tem sabor, e preciso assumir que eu gosto.

domingo, 4 de janeiro de 2009

coisas dele

o vejo brigando por coisas que ele acredita e fico fascinada. como ele ainda pode ser assim num espaco tao relativizado. ele se guarda de um dos lados da linha. sabe dele. e enquanto ele sabe tanto dele eu me vejo mais uma vez perdendo a mim mesma. perdendo-me dentro dele. pra ele.

sábado, 3 de janeiro de 2009

para a guerra toda a minha decepção

a guerra é ridícula em sua própria natureza. um tiro, dois tiros, o terceiro é vontade de matar, já dizia Clarice. é uma sede por sangue, pela morte daquilo que você não é. sinto vontade de enfrentar um a um, sem armas, somente com os olhos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

assim sou eu


chaves no chão

aceito seus beijos como quem abre a porta de casa pra deixar os pingos da chuva molharem a pele. aceito simplesmente pra cobrir meu corpo de veludo debaixo da neve. como se fosse capa pra toda a tempestade que vi passar. é isso. apenas isso.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

palavras dela

"te peço um favor, volte a ser o que voce é. chega de se esconder. volte, amiga. o que sinto de você hoje não é nada do que você realmente é. vamos colorir essa fase cinzenta. eu levo todos os lápis de cores para você."

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...