quarta-feira, 29 de junho de 2011

isso que dá me pendurar inteira num pedaço grande de coração


Ilustração: Fabiana Batista
qualquer que seja o solo
será sempre fértil
se as sementes forem de amor


Ilustração: Fabiana Batista

verdade existe?

verdade mesmo, nunca ouvi falar, já me contaram histórias interpretadas pelas retinas, escritas em páginas de papel ou em poros humanos, mas verdade mesmo nunca me contaram, muitos foram os que me trouxeram fatos polidos pela crença de que a verdade não pode ser dita, porque verdade cada um vai criando a sua, e nesta invenção há que tome posse da verdade anterior a sua, contando, a partir de então, a própria verdade, e nessas tantas verdades que passam de mão em mão eu me pergunto se haverá por detrás de todas elas uma verdade com tom de realidade.

terça-feira, 21 de junho de 2011

quando se encontram

quando Seu Antônio viu Dona Ana passar do outro lado da rua acenou com uma das mãos o seu querer, atravessou a margem de asfalto e abraçou-a até que as mãos cobrissem toda a pele, pra logo em seguida olhá-la com lentes que aumentam a beleza das coisas, e agradecer em forma de beijo mergulhado nas fartas bochechas de Dona Ana.
o sofrimento é o próprio gozo.

domingo, 19 de junho de 2011

são tantas as estações...

beija-flor fica sem lar
quando o vento tira a petála pra dançar

sede de...

vontade de me vestir inteira de preto beirando as curvas, contornar de vermelho latejante os lábios que encontram outros, desejo de me perder na surdez do som no último volume, dançar até que o corpo se transforme em cordas de violão que alguém escolha tocar, vontade de voltar atrás e rasgar as páginas antes da leitura, descer a montanha e pensar que o céu é o limite, desejo de acreditar na embriaguez de um copo de álcool, e deslizar meus pensamentos em um mundo ainda tão utópico, vontade de pendurar o sol e a lua no brindar das taças, e desmanchar as interrogações ininterruptas, desejo de nunca ter saído do meu quarto e entrado em tantos outros, ao ponto de não me reconhecer na minha própria história, vontade de construir um caminho mais tranquilo, desenhado no mapa, desejo de ter ninho e ter sentido.

reprodução...

toda vez que chegava na curva, derrapava, tal era a velocidade, sedenta por um novo modelo de Estado a menina percorria desenfreadamente as possibilidades, e a mínima fresta de luz a fazia acelerar os movimentos, mas se desmanchava nas incansáveis reticências, não havia ainda um projeto que se sustentasse, e mais do que isso, não havia ainda muitos pés que a acompanhassem, os diálogos, muitas vezes, aconteciam quando a menina já estava sozinha, conversava com as próprias idéias, buscava um caminho que a levasse pra outra lógica, e no dia seguinte acordava, seguia pro trabalho, e toda a utopia se desfazia entre as poucas janelas que permitiam enxergar lá fora.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

nova morada

não é sempre que passarinho quer voar
há tempos de pousos de morar debaixo do verbo amar
passarinho também quer outra asa pra guardar a sua
passarinho sabe que certos pousos são os maiores vôos

domingo, 12 de junho de 2011

corpo a corpo

sentir você assim tão perto me faz chegar mais perto de mim, é que quando você deita seu corpo no meu, eu sinto o meu corpo mais profundamente, é que quando você entra nas histórias que são minhas eu paro de escrever sozinha e chego até a sentir o meu cheiro misturado ao seu, e as mentiras que eu contava antes ficaram pra trás, hoje eu sei, que se você me olha você enxerga a mim, é verdade meu bem, seus olhos não mentem.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

próximos capítulos

mais que palavras, dê-me verdades, despeje seus poros dentro dos meus, tire a sua roupa e a sua história, nesta noite quero a nudez dos olhos seus, se prepare, porque vou te pedir aqueles versos que você ainda não escreveu, e nem poderia, não sou projeção sua, meu bem, sou realidade.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

diz a lenda que todo amor é pra sempre, mas como saber se é amor aquilo que nos pulsa?

sábado, 4 de junho de 2011

ela, autora da própria biografia

coragem não é assim tão descabida, preenchida de incoerência, do outro lado da rua os ouvi comentando da coragem dela de seguir adiante numa trilha sem porto de chegada, talvez dissessem isso tal era o medo deles de viver em alto mar, mas ela não era simplesmente corajosa, ela sabia dos seus porquês, e saber as razões nos permite avançar para além das fronteiras que nos contam existir, são tantas histórias inventadas pra nós, que é um perigo quando descobrimos ser o mundo um infinito de possibilidades muito maiores que os capítulos já lidos, nos descobrir autores nos faz descer do palco e se quer precisar de platéia.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

meu relógio sem ponteiros

alguns dirão que ela chegou antes, outros que chegou depois, ou até mesmo que chegou na hora, dirão que está atrasada, ou adiantada, inclusive, pontual, mas ela sabe que a verdade é que qualquer que seja a hora de chegada será sempre a hora exata do seu tempo.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...