quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

de costas para o mundo

não poderia ser ao acaso a mania de desenhar em folhas de papel em branco a menina de costas no balanço. o muro inventado. a fronteira não cruzada. as grades projetadas. a menina no balanço foi criada há cerca de 5 anos, quando a realidade começou a embaçar as lentes. foi então que comecei a balançar de costas para o mundo. de costas parecia mais fácil.  o mundo não me impactava tanto. deixei de acompanhar o jornal, parei de ler as notícias, e moldei um universo paralelo.

só agora reconheço a minha falta de chão.

sábado, 15 de dezembro de 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

dá medo

dá medo de pisar em terra firme. dá medo do tanto que o chão é real, e não deixa escapar nada aos olhos. dá medo de chegar amanhã e faltar o dia seguinte. dá medo dos planos que fiz para o futuro que ainda não aconteceu. dá medo de que não seja nada disso que pensei. dá medo de acordar sem o sonho guardado debaixo do travesseiro. dá muito medo de ter que abandonar a estrada.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

encontro marcado

os nossos encontros sempre caem nos sábados, nestes dias que a gente não tem previsão de partida, nestas noites que pouco importa o correr do relógio.

os nossos encontros sempre vão parar na sombra daquela árvore debaixo de todo o verão, é o contraste, é a vida acontecendo diante da gente, enquanto nós nos ancoramos nas retinas um do outro.

os nossos encontros remam para o alto-mar, lá onde a água salgada é a única imagem em torno do nosso pequeno barco, e a gente não se cansa de seguir adiante, apesar de todo o oceano.

os nossos encontros acontecem bem antes da hora marcada pra gente se ver, logo após a despedida já começamos a longa espera pelo próximo instante de realidade.

sábado, 1 de dezembro de 2012

vôo humano

as grades são invenções humanas. as asas não. mas ainda assim os homens não desistem de incorporá-las ao próprio corpo. e eu juro que existem homens que voam, bem mais alto que os pássaros cheios de asas.

casa comigo?

negou enquanto pôde a vontade de trocar alianças. inventou distâncias, desenhou objetivos pra além das fronteiras, pagou as próprias contas, mostrou-se independente, e quando ele chegou automaticamente desfez toda a maquiagem de mulher solteira. olhava para aquele homem e enxergava o ano seguinte, e o seguinte, e o seguinte... cada dia ela colocava uma dose maior de futuro nos dias de hoje. chegava até a entortar o pescoço só pra ver passar uma mulher com uma vida prestes a nascer em seu ventre. justo ela que não queria ser mãe do próprio filho, justo ela que dizia adotar pessoas pelo mundo afora sem precisar de uma pra chamar de sua. outro dia se viu construindo uma vida com endereço fixo nas contas de luz, debaixo do mesmo teto dele, compartilhando o mesmo edredon, com escovas de dente no mesmo banheiro. a questão é que agora que ela assumiu, a altura do prédio parece aumentar a cada dia que passa, proporcionalmente ao risco da queda. agora ela se vê subindo as escadas, e os degraus vão desaparecendo a medida que se sobe os andares. não dá mais para descer.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...