domingo, 28 de outubro de 2018

{par} de asas

um pássaro voa sem obstáculo, o céu lhe surge livre, com nuvens que se desmancham em sua passagem. com toda essa liberdade, um pássaro sempre encontra outro pássaro. no mundo das asas, voa-se em bandos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

falar salva!, porém...

falar recupera o fôlego depois do mergulho, te faz explodir a bolha da imaginação, atravessar a ponte e chegar do lado de lá. falar te faz sair da sala de embarque e desembarque, te faz reparar as asas quebradas com o silêncio, e abrir as janelas outra vez. falar traduz nosso coração em linguagem (quase) universal, falar comunica, permite o fluxo de um mundo pro outro. falar requer valentia pra assumir as consequências das palavras, da sina de ser o que se é, e sentir o que se sente. falar te faz pular de cima do muro e se posicionar em quinas das suas verdades. falar desabrocha, convida a pétala pra dançar, faz vontade da semente virar flor. falar com letras gentilmente costuradas é um tipo de abraço, falar cuida, protege o outro de navegar em interpretações sem bússola. falar te dá um endereço, te localiza em uma esquina, e amplia as fronteiras de um corpo aparentemente reduzido à física. falar é um abandono do egoísmo de seguir só pra alto mar, falar constrói portos. porém, e mais importante que tudo, falar de amor, não é amar.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

sem ar

do sul, fui pro norte de Minas. agradeci pela distância [geográfica], e pela impossibilidade de esbarrar em você. na vinda, te procurei entre os carros da estrada, sonhando com aquelas coincidências de cinema. escolhi trilhas sonoras pras 12 horas de viagem, e todas, invariavelmente, lembravam você. faltou fôlego, eu inspirei ar, e me sufoquei de você. agradeci pelo engarrafamento, por cada caminhão que esticava as horas, e atrasava meu retorno pra esse canto de memórias nossas. cheguei em casa, e não tinha carta sua, não tinha nada seu: só o silêncio que você insiste em prolongar, sem ar.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

carta pra você

sempre acreditei no poder das palavras, logo, no poder das cartas. acho bonito letras grafadas no papel, e mais bonito ainda a ideia um tanto quanto romântica de que penso em você enquanto escrevo. acabei de ver o filme "Enrolados" e uma cena lembrou você. foi quando ele disse a ela que o sonho dele tinha se transformado nela. confesso que chorei, e que costumo me inundar com declarações de amor. mas ao mesmo tempo me veio você, na minha varanda, desabafando seu medo de guardar os remos ao tropeçar em um romance. eu sei que te prometi com palavras ditas e escritas na parede, porém, as cravadas em cartas têm maior valor, e por isso, refaço aqui nosso pacto velejante. moço bonito, te conheci já dentro de um sonho, e desde aquela noite às margens do Maleta eu pisei no barco seu. quero te dizer que sonho é coisa séria, sagrada, coisa imensa, e que eu não costumo roubar os amanhãs. pelo contrário: invisto na costura do futuro. sei também que palavras (ditas, escritas ou pensadas) não valem mais que os fatos, e pensando nisso te convido a me deixar tecer o sonho seu enquanto ainda estivermos em solo firme. te convido a construirmos uma despedida consciente, que pode, quem sabe, ser apenas física, ou nem isso. te convido a sonhar o sonho seu comigo, na certeza da concretização. te peço: venha sem medo, eu não sou feita de âncoras. te espero, sem rascunho e com saudade.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...