quinta-feira, 28 de junho de 2012

eu quero enfeitar você

e quando você me olha, o que você vê? peraí, me empresta seus óculos? deixa eu ver também pelos seus poros? quero tentar descobrir o que você enxerga quando abre o portão de casa e dá de cara com o mundo inteiro. quero saber o que a sua pele sente, quando, nos encontros marcados, abraça a minha. quero entender o que você pensa quando não há nada para se pensar, quero saber pra onde sua mente vai. quero saber porque você escolheu o tênis preto, com listra branca, pra decorar a sua vitrine. quero saber o que você sente quando me beija como se eu fosse de porcelana. ta aí, quero entrar em você, abrir suas gavetas, destrancar seus armarios, preencher suas prateleiras, e pintar suas paredes.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

encomendas

nesta sexta, podemos comprar pedaços de céu e fazermos de colchão madrugada afora, dá pra comprar também fatias de beijo, com sabor de cereja. vou pedir pra embrulhar tudo em papel cetim, só pra você confundir o mundo com um presente meu.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

páginas de um livro bom

lembrar você é como folhear páginas de um livro bom. enquanto ainda o lia, esperava, de alguma forma, a brevidade da última página. lembrar você dá a sensação de história acabada, mas cuidadosamente rememorada.

domingo, 17 de junho de 2012

racismo explícito

hoje, enquanto eu esperava o ônibus, um homem deu o sinal para o 8106. o motorista parou, e quando o viu, seguiu em frente, não o deixando entrar. pequeno detalhe: o homem era negro. aconselhei-o a manifestar o ocorrido, pois manter o silêncio era como dizer que coisas assim não acontecem. ele preferiu não fazer nada. talvez ele viva isso com tanta frequência que chegou ao ponto de acostumar, quase acreditando na coerência do motorista.

terça-feira, 12 de junho de 2012

agradecimento

despertou para o desuso das armas compradas nos últimos tempos. defendeu-se como pôde das frases que acabaram antes dela pontuar o final. compreendeu então a composição natural da sequência dos dias. por um lado era bom a gente poder ir embora quando o corpo assim pedia, ainda que do outro lado restassem poros abertos. a estrada sem destino perdia o sentido, nem dava vontade de caminhar. pensando assim, ela agradecia a despedida, apesar de conturbada. agradecia pela despedida ainda em tempo de seguir sem olhar pra trás. agradecia. agradecia muito.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

ô trem bão

homem de chapéu fazendo sombra nos olhos, com o cinto de fivela grande apertando e destacando a cintura, calça rente ao corpo contornando a pele, blusa xadrex completando o figurino, conversa ao som do interior bem distante das grades gramaticais, sertanejo de raíz cifrado na sanfona que povoa as noites de lua cheia, homem de fala literal, confundida com grosseria, homem que de tão bruto se desmancha inteiro pra falar de amor.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

caminho da roça

cheiro de boiada atravessando o pasto, pés descalços pintados de terra vermelha, galhos fazendo trilhas até a manga mais alta, sombra da árvore no ápice da montanha, um mundo inteiro pra se enxergar do ponto mais alto, charrete pra chegar na cidade, sol dando bom dia no mesmo instante que se produz o leite, café na caneca descascada com broa de fubá, capina debaixo do calor pro almoço vir da terra, almoço com a família em volta da mesa, varanda transbordando a lua cheia, noite de pouca luz na terra, mas muita luz no céu, sono ao som da natureza embriagada de si mesma.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

beleza emoldurada

quanta gentileza a dele em deixar os fios contornarem a nuca, quanta delizadeza em deixar a barba colorir a pele, quanta beleza misturada nos panos amarrotados pelo desuso guardado nas gavetas, vê-lo atravessar a rua pela janela do ônibus é feito retrato pronto pra ocupar a primeira janela do mundo.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

ainda não acabou.

e mesmo os melhores beijos, todos eles, não eram dele. e por mais bonita que fosse a história, ainda assim, não era com ele. tão difícil isso de continuar uma relação que já não existe, e manter os planos sem qualquer fresta de amanhã.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...