quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

- você adora jogar vinho tinto na blusa branca das pessoas! eu sei que você adora - disse o menino pra mim.
vamos... pular de roupa e batom na Lua! quem quiser ir comigo é só me dar os olhos.

e a vida continua...

não. meu ano não acaba no dia 31. isto são apenas números pra gente acreditar ter controle sobre as vezes que o sol nasce e morre. meus dias continuam. não há fim, não há começo. há sim uma vontade de sair do meu corpo e flutuar entre esses corpos sem poesia. quero ler as pessoas com os olhos. sentir a temperatura com a pele. dizer palavras com o rosto. quero mais que música e gargalhadas. eu quero arrepios e furacões!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

mesmo debaixo de toda essa minha cara de gente sem cor ele ainda consegue ver bolinhas no meu vestido. é ele!

madrugada

atravessei a madrugada pra falar de tristeza. pra falar de como as risadas estão silenciosas. de como o que eles falam não me interessa. e olha que eu tenho me esforçado. queria um abraço daqueles que quebrassem algum dos meus ossos, pelo menos. tenho sede de simplesmente conversar com as estrelas. de não falar só de coisas visíveis a olho nú. preciso experimentar algo mais. agora! estou mudando a minha rotina pra ver se eu acerto o que é. lavo meu cabelo por volta de 3h da madrugada. nao consigo passar muitas horas sem escovar os dentes. recorto partes de mim mesma e colo na porta do meu quarto. alimento-me mais de pensamentos que de comida que vem da terra. ocupo meu quarto com música. mas não era bem isso. e eu não faço a menor idéia do que seja.

domingo, 28 de dezembro de 2008

peixe grande

realidade é coisa pra seres imortais. pra gente de carne e flores é preciso, eu diria, que de vento. de algo assim mesmo. que so se faz visivel com a pele e com a imaginacao. eh muita pobreza pensar que a vida eh isso que a gente pode ver. ha tanto pra se inventar. passando pelo mesmo caminho durante dias a gente ainda descobre que debaixo daquela arvore ha uma sombra gostosa, pronta pra ser abracada com o corpo espalhado na grama. e no outro dia mesmo aquele lugar passa despercebido, porque a gente acaba por esbarrar com tantas outras arvores... mas eu sei. um dia acabamos voltando na primeira arvore. eh um ciclo. imaginario. eu tambem me perco nesse mundo de Alice. vejo-me rendendo a promessas, naturalmente furadas. de nada vale o que uma noite foi dito, pode esquecer aquela carta que voce ainda guarda. o que permanece eh a pele! e pele a gente guarda na memoria e no agora, mas sem querer transformar isso em novos contratos. esqueca as assinaturas. recrie-se. o meu mundo eh particular. tem estorias que sao minhas e que de tao minhas passam de mim pro mundo de fora. realidade inventada. peixe grande eh a escolha da melhor cor para aquele dia. nada de usar um tom qualquer. tem que ter vida ate na tristeza.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

talvez juntando as maos o inverno possa tornar-se mais quente...

mais uma vez, Sabrina

ela me escreve algumas linhas e eu vou logo correndo atras de paginas. ela parece que entra dentro de mim e faz babado e confusao. ela tem um jeito que eu diria ser jeito de gente com asa. ela ate tem uma tatuagem que penso ser o desenho de asas. mas mesmo se nao a tivesse eu enxergaria as mesmas asas nas costas dela. ela eh daquelas tipo tempestade. nao eh pra voce saborear lentamente. eh pra voce comer sem respirar, olhar sem piscar. ela eh mesmo a sobremesa. ela eh aquela que se nao existisse precisaria ser inventada. ela eh ela. e lindamente...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal sem familia eh um dia como outro qualquer...

pra mim deixe apenas os versos

olhar pra ele eu nao olho! e isto eh coisa que se faca? minhas retinas brilham demais pra falar de coisas assim. acabo sendo excesso. entao vou la no meu quarto e me entrego em forma de poesia em um pedaco de papel. pra ele eu deixo apenas esta parte, que esta escancarada, mas que so eu de fato posso saber. tem vezes que eh assim mesmo. um sentimento um pouco sem troca, individualista, egoista. pra eu poder sentir tudo sozinha sem querer saber se dele eu terei um sim ou um nao. tanto faz. dele eu so quero as rimas.
preciso tomar cuidado, porque minha vida esta compondo-se com mais palavras do que olhos. coisa de Clarice...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

e so porque nao se beijam mais pensam que nunca se conheceram um dia...

ja eh noite

por aqui ja eh noite, e por ser aqui, dizer que ja eh noite eh sinonimo de que quase tudo pode acontecer... porque a noite as pessoas pensam que ja nao ha mais luz. e ai se reinventam com a mesma porcao de si mesmos. assumo que isso faz em mim confusao. fico sem saber se eles sao aqueles que vejo debaixo do sol ou se sao aqueles que vejo debaixo das estrelas. pergunto ate mesmo se sao as mesmas pessoas esticando a pele em diferentes horas.

feliz Natal!

o Natal nunca soube ser discreto dentro de mim. ele chega arrebentando a garganta e explodindo os olhos. faz-se puramente exclamacao. tudo pra falar de familia. tudo pra falar o quanto eh maravilhosa a minha familia. e por favor: na ceia peco que me esperem. eu irei chegar em forma de um arrepio bem na virada, so pra falar com suspirros do nosso amor. Feliz Natal!

presente de Natal

meu presente de Natal chegou antecipado, embrulhado num sorriso e com muitas estorias pra contar.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

inverno!

por aqui venta-se neve. impressionante como nestas terras cada estacao grita por sua caracteristica. torna-se inutil o tal do calendario, porque pra saber de datas basta olhar o mundo la fora..
e voce Danilo, nao venha negar... ha mesmo muita beleza em toda essa tristeza! estou feito rio correndo pro mar, enchendo-me de mim mesma.

domingo, 21 de dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

mesmo na simples troca de saliva sinto-me inteira. é inevitável.

tudo branco, é Natal!

lá fora o mundo está branco! os pés chegam a desaparecer nessa manta que se forma. só posso pensar que os anjos devem estar de recesso, pra proteger suas asas. lá em cima deve estar congelado também. não há Sol que sobreviva! no jornal daqui só fala-se sobre isso: acidentes, temperatura, Natal... e é incrível como esses pedacinhos de gelo lembram o dia 25! eu soube que chegava o Natal só de olhar pela janela. são simplesmente encantadores esses floquinhos que caem do céu...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

palavras soltas na noite...

e no meio da música eu chorei. ela chegou até mim e disse que era pra eu não procurar eternidade em todos os beijos, porque simplesmente eu não encontraria. falou da realidade assim. estourando-me em lágrimas... disse também que eu não seria uma, mas a única a sentar no mesmo degrau que os angolanos. a única a sentir e entender através deles... e foi por não querer esquecer que eu vim até aqui registrar essas palavras...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

janela da minha alma

"você suporta o mundo em suas costas e vive por ele, mas morre por causa de um amor que viveu. não tente desviar do vento. voar contra ele pode quebrar suas asas. não deixe de ser borboleta só porque uma flor não se abre para você. existe um jardim inteiro te esperando. não o esqueça, mas o veja como um amor eterno pelas lembranças. não feche seu mundo em apenas um coração. o mundo inteiro pulsa.... e você não viveu nem metade do amor que a vida tem para te dar"

por dentro é só poeira

a gente vive fugindo do escuro, como se houvesse luz pra toda a noite. a gente prefere deitar nos espinhos do que fazer a curva. puramente porcelana. somente a casca. basta um assopro e tudo se acaba como grãos. que comoda fragilidade.
se eu tivesse a certeza do paraíso cortaria a dor com o sangue dos meus pulsos...

domingo, 14 de dezembro de 2008

abaixo de zero

Pela janela daqui eu vejo que a água que choveu antes de ontem ainda não conseguiu chegar ao chão. Está ali congelada nos troncos pelados das árvores sem folhas. Pra chegar ao meu quarto dou passos lentos pra grudar meus pés em terra firme. É que em todo o caminho há gelo sob a terra. Lá fora faz muito frio, de uma forma que insisto em dizer que não é humana. Não há roupa que nos proteja desta temperatura, há apenas as cartas que trouxe de um Brasil quente e as que eu escrevo aqui diariamente.

sábado, 13 de dezembro de 2008

África com novo endereço

A partir de hoje vou desenhar as terras africanas em outro blog. Quem quiser me acompanhar segue o endereço: http://tetodeestrelas.wordpress.com/
Nas linhas daqui eu vou continuar a falar dessa avalanche de sensações que acontecem dentro de mim.
era uma vez... uma menina que inventava cores e flores só pra fazer sorrir o próprio dia.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

notícias de fevereiro

Já tenho algumas informações sobre o local que ficarei em Huambo, Angola. Minha casa será um quarto, onde existem duas camas e um armário de cimento (como podem ver nas fotos). Meu banheiro será uma latrina, que fica na parte de fora da casa. Para buscar água eu terei que caminhar 50 metros e para tomar banho usarei uma caneca. Lembrando que toda esta água deve ser tratada antes de ser utilizada. O lugar que irei dormir fica dentro do projeto Escola Professores do Futuro e para chegar na sala de aula devo andar 50 metros e para chegar na escola primária 200 metros. Os estudantes da escola primária, projeto que vou trabalhar, têm de 7 a 27 anos. A população precisa muito de aulas de orientação sexual, pois chegam a desconhecer o que é menstruação e algumas mulheres engravidam sem entender como isso acontece. Para acessar a Internet terei que pegar um ônibus e ir até a cidade, que fica a uns 15 minutos de distância. Cada hora na rede custa 5 dólares. As duas voluntárias que estavam em Huambo pegaram Malária. A japonesa Megume contraiu a doença duas vezes e a brasileira Manô três, sendo que a terceira vez foi um nível mais avançado e devido a dificuldade de cura ela acabou voltando pra casa.

enfim, África!

Terminamos o nosso quarto e último fundraising. Depois de um mês arrecadando fundos estou de volta para a boa e velha montanha. Hoje começo a minha especialização. Irei estudar mais focada no meu projeto e irei preparar as aulas que darei em Angola. Agora sim poderei enxergar Huambo mais perto.

prazer com as próprias mãos

Que ela assuma a fuga da claridade. Entrou no quarto, a casa que inventou dentro da própria casa. Leu páginas de um livro bom e começou. Um dedo. Dois dedos. Em poucos minutos fechou o livro. Levantou a blusa, estimulou a pele. Empurrou a calça e abriu as pernas. Ela gosta de sentir o vento tocando seu corpo. Começou a respirar alto. O rosto espontaneamente se esquentou entregando-se ao prazer e assim ela acelerou os movimentos. Na troca de batimentos a mão invariavelmente se cansa, mas por necessidade permanece. O ar secou e por completo ela se contorceu, até o último segundo daquela sensação. Estranhamente o prazer teve fim e ela se desmontou na cama, pra dormir com o alívio que ainda restou.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

reencontro

Tive que me segurar pra não trancá-lo num quarto de perguntas sem fim. Fazer o quê se eu fiquei mesmo encantada com a pele que ele trocou? Em duas noites de revelações eu já pensava em eternidade. Sentia-me jovem, mais jovem do que sou. Brincávamos de passado e era engraçado como tudo ainda fazia sentido. É em momentos assim que eu percebo que as vezes o tempo não passa a não ser no papel. A gente recordava vivendo aqueles dias. Por isso eu quis separar pétala por pétala daquela rosa, pra deixá-lo compreender que as flores não morrem apenas por isso. Muito pelo contrário, desta forma o cheiro exala muito mais!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

escândalo

Deixei que a dor escandalizasse acreditando que haveria um limite. Quis que ela penetrasse de tal forma a anular o próprio sofrimento. Assim foi... sangrou tanto que já nem a sinto tanto mais.

domingo, 7 de dezembro de 2008

estou a nascer pela segunda vez

pintei de vermelho pra derramar paixão entre os espaços das letras deste blog. tem tempo pra mudar, nem que seja a cor. já não valeria a pena me debruçar por tantas horas naquela mesma janela, cuja paisagem se desfez de mim. estou a engatinhar meus passos de recém nascida. em menos de nove meses haverá uma nova gravidez.

sábado, 6 de dezembro de 2008

nessa noite eu chorei pingando álcool. fui fugir da dor e acabei encontrando a mim mesma no final da festa. encharquei!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

o pior de tudo isso foi descobrir que existe mesmo um fim para tudo. a eternidade mostra-se agora apenas invenção humana para confortar a ansiedade do amanhã.

será que vai virar lenda?

Acabaram de roubar a minha terceira perna. A mesma que tempos atrás eu e Clarice pensamos ser excesso. E foi roubo sim! Eu a tinha conquistado. Eu o vi fazendo juras de eternidade, debaixo do nosso teto de estrelas. Que Vinícius não venha agora me dizer que foi eterno enquanto durou…

De repente os próximos segundos me parecem tão fulgazes. Não haverá mais beleza nem naquela flor azul que um dia eu escolhi pra dar a ele. Lágrimas. Muitas. Estou tentando diminuir a dor com a água que sai de dentro de mim. Mas elas são secas, não há mesmo mais nem uma folha de esperança. Chegou a hora de desfazer os mitos...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

a felicidade, quando não há a própria, faz ranger os dentes. até o silêncio chega a gritar...

melhor guardar a eternidade

Talvez ele seja necessário pra manter minha eternidade no presente. Talvez eu e ele não precisemos de beijos ou alianças, nem de camas. Talvez eu e ele estejamos conectados apenas pra manter as Três Marias fazendo algum sentido no céu. Ele nasceu pra isso. Pra se tornar lenda da minha estória. É que no mundo falta brilho e como ele esbanja luz eu acabei criando esta dependência. Eu estou acostumada a vagar sozinha mesmo de mãos dadas. As peles as vezes trocam apenas calor. Mas tê-lo no meu imaginário é alimento para todo o sempre. Por isso, talvez seja melhor garantir esta forma de eternidade do que tentar aproximar os corpos e afastar as almas. Assim eu serei sempre dele e ele sempre será meu.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

estampa

Antes de sair enrola o cabelo. Quer movimento, com curvas. As mãos se enchem de fios e o pressionam com força pra guardar no ar a forma. Pinta os olhos de preto. Sempre viu outras mulheres fazendo isso e agora acha lindo repetir. Enche de rímel os cílios. A pele também perde a cor, fica desbotada. Por isso ela colore de rosa as bochechas. Derrama um vermelho sangue nos lábios. Ela bem sabe como quer ser vista nesta noite. Olha no espelho e até faz pose. Corre nua pela casa e aumenta o volume da música. Volta dançando bem devagar. Veste a calça mais justa que tem, aquela azul-claro. Blusa preta pra esconder o que é necessário, porque o resto ela faz questão de mostrar. As sandálias. Vermelhas de salto agulha. Pronto! Agora sim ela está pronta pra ser vista...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

dia mundial de luta contra a AIDS

“Há uma coisa dentro de mim, contagiosa e mortal, perigosíssima, chamada vida, lateja como desafio”.
Herbert Daniel

ajuda à Santa Catarina

que bonito é o mundo fazendo parte do mundo. mesmo longe de casa os brasileiros que vivem nos Estados Unidos estão enviando ajuda as pessoas em Santa Catarina. é assim que deveria ser sempre...
"- Quem é você?
- Eu sou quem você quiser que eu seja. E tudo aquilo que você deseja é só desejar que eu faço.
- Então era você que eu pedia nos meus pedidos noite e dia?
- Se não me reconhece peça a prova.
- Qualquer coisa?
- Qualquer uma.
- Eu quero que você tire a escuridão da noite.
- Mas se a noite não é outra coisa se não o dia quando escurece, como é que eu vou retirar somente a escuridão e deixar a noite?
- Se eu soubesse como era eu não pedia. Eu mesma ia lá e tirava.
- Então eu vou ter que inventar toda noite uma estrela nova, até que fique uma tão perto da outra, mas tão pertinho, que ninguém possa enxergar escuridão nenhuma entre elas..."

trecho retirado do filme "A máquina"
imploro, assistam: http://www.youtube.com/watch?v=Ejgf-Ij5rI8&feature=related

domingo, 30 de novembro de 2008

domingo

as camisas ainda não chegaram. o padre cancelou a nossa ida à Igreja hoje. a arrecadação ontem com a ajuda da ambulância não aconteceu. Geraldo não aparece há dias. mas já que somos feitas de pés e mãos nós vamos ver o que mais nos aguarda nas esquinas daqui...

sábado, 29 de novembro de 2008

ele é quase todo o meu Brasil...

até o sol aparecer

Os ponteiros correram entre os números, sem marcar horas. Aqueles minutos eram sem data. Calendário dele e dela. Sabendo que em breve a lua teria que descansar correram pra ver o mundo. Ela precisaria de mais alguns olhos pra enxergar tantas luzes naquela noite. Sorte que uma delas ela pôde fotografar... Ele sentia algo que lembrava medo, como se pensasse que ela fosse de vento. Tinha receio de tentar tocar e por pura realidade ter que abrir os olhos. Então ele a elogiava, tocando-a em todo o corpo com palavras. E no final com as próprias mãos. Grossas. Fazia isso com tal encantamento que ela se desarmou. Apenas por uma noite... e desta vez sem luvas para voltar atrás...
antes de qualquer coisa um segredo: eu não sou tudo aquilo que ele pensa...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

pedido

Que ser jovem não seja uma questão de calendário... que seja sempre um sentimento. Imploro para que eu possa ser jovem mesmo com as mãos enrugadas e bengalas nas mãos...

Hoje tive medo de um dia não sentir mais toda essa vida correndo nas estradas da minha veia. Parei pra pensar e percebi que o tempo passa ainda que eu não perceba isso. Lembrei que não nasci ontem... que já vivi bons 24 anos. Percebi com mais certeza que o tempo está correndo quando me exigi postura de mulher, em uma situação que queria apenas rodas gigantes. Preciso ficar atenta às cobranças que faço questão de não cumprir. Quero vestir todos os dias a minha velha roupa de Alice... no país das maravilhas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"- promete que eu serei o seu único homem pro resto da sua vida?
- não posso. não gosto de juras eternas. promete você... que eu serei a sua única mulher?"

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ponteiros no lixo

Ela quer. Ele também. Mas ela é mulher e acha que por isso não pode querer assim tão rápido. Ensinaram pra ela que é preciso tempo. Ela entendeu e cumpriu isso na primeira vez. Mas agora... ela e ele juntos querendo. Ela fervendo nos desejos vermelhos e ele a convidando. E ela lá... pensando no tal do tempo. E nada do relógio adiantar as horas. Sim, ela foi embora... mas assim que chegou em casa jogou no lixo os ponteiros. Daqui pra frente será ela que irá escolher a hora...

pelas ruas de Nova York

Ele me coroou com um chapéu. Depois disso, quis saber de mim como se tivesse fome de me descobrir. Enquanto a música corria apressada a gente dava passos lentos. Ele já riscava o nosso amanhã, que de fato aconteceu... apesar de não ter sido exatamente o dia seguinte. Foi nesse amanhã que nos derramamos num sofá. Tentamos saber do outro com palavras, mesmo sabendo que não haveria tempo para o desfecho. O silêncio foi a parte que eu mais ouvi. A gente ali... se desvendando a partir da pele. Negro de mãos grossas. Dormiu em questão de segundos quando desenhei linhas em seu rosto. A sombra dos pingos de chuva molhavam a face dele... Este homem disse que seria mágico se nós tentássemos ser um só. Eu me escondi atrás do meu desejo pra cortar as curvas sem conteúdo. Ele acordou com sede de conversa e só se deu conta das horas quando lá fora começou a iluminar. Fui embora sem me despedir, mas levei o perfume dele nas luvas que ele esqueceu...

sábado, 22 de novembro de 2008

muros invisíveis

Existem certos limites em relação a não-intervenção porque certo hábito é cultural. Hoje assisti ao documentário Amandla que fala sobre o poder da música na luta dos negros durante o Apartheid, na África do Sul. Pra mim uma cena rouba todas as outras no documentário. É quando uma senhora diz que eram os negros que cuidavam dos filhos dos brancos e assim acabavam criando laços com as crianças, pintando quase um tom cinza, intermediário. Mas quando esses meninos começavam a dar seus passos as cores voltavam a se dividir e o preto e branco tornavam-se radicalmente distantes. Posso assistir um filme por dia sobre a questão racial que sempre vai me chocar a cor diferenciando seres humanos. E o que mais me incomoda é ver resquícios do Apartheid ainda vivos nos dias de hoje. Em Nova York os bairros onde a maioria dos negros vive são bem definidos. Minhas amigas foram passear em Manhattan e me contaram como um dia no metrô pode revelar o perfil das pessoas em NY. Nas paradas do Brooklin e Bronx já não havia muitos brancos. Ficaram pessoas simples e em sua maioria negras. Aproximando de Manhattan os negros desciam e entravam os brancos, desfilando roupas e dinheiro pelo corpo. Um amigo meu que mora em Manhatan há 5 anos me disse que nunca foi no Brooklin e no Bronx. Só me alivia saber que pela primeira vez um presidente negro estará no poder deste país. Faço questão de comprar uma camisa com a foto do Obama. Quero acreditar que ele pode começar a destruir esses muros invisíveis, pelo menos a olho nú.

E que fique claro: este não é um problema exclusivo de Nova York...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Artur Moreira

chegou poucos minutos antes da reunião começar deixando pelas janelas do vento o cheiro de álcool. estava ali fazendo política, mas notava-se que era por pura necessidade. é artista plástico e deixa nos trabalhos as curvas dos seus pensamentos. foi lá na frente, enfrentou os olhos e nos deu a mão. terminou dizendo:
- Eu não tenho esse problema de estar sóbrio...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

pétalas amarelas

Se Maria correr demais correrá o risco de nunca ser alcançada. Já posso ver os pés atropelando o corpo com essa mania dela se deixar consumir pela curiosidade sem destino. Ela é cheia de porquês. Parece menina pequena que consegue enxergar tudo como se fosse a primeira vez. Dúvidas não a deixam em paz. Atormentam 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ela não aprendeu a lidar com números então tem muita dificuldade em ser exata. A partir de pétalas amarelas jogadas ao chão do passeio ela inventa os mais diversos jardins. Fica encantada quando percebe que uma única pétala mudou de cor. Ou seja, vive a se encantar por aí... Outro dia ela foi tomar café-da-manhã na lanchonete. Estava no caixa quando entrou um senhor. Já com seus 60 e tantos anos a porta ficou pesada pra ele abrir. Ele começou a empurrar o vidro com todo o corpo e a porta começou a se mover. Maria não agüentou e correu pra ajudá-lo. Abriu a porta e deixou o senhor passar. Ele não agradeceu e fez cara de homem forte. Provavelmente sentiu-se inconfortável com a situação... lembrando de quando ele carregava até uma geladeira sozinho. Na velhice retoma-se a infância com mais maturidade e cabelos brancos. É uma volta longa que se dá e deve ser muito difícil aceitar o cansaço do corpo e da mente. Pra Maria isso tudo é muita beleza acumulada. Ela só sabe se lambuzar...
o mundo pode estar em guerra que se houver o sorriso de uma criança eu sempre vou parar para olhar...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

solidão também é companhia. agradeço, apesar de não saber a quem, pela coragem de enfrentar a mim mesma por tantas vezes...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

arrecadação de fundos em Newark

Eu sabia que participar deste programa me traria muitas explosões. Esta terceira arrecadação de fundos tem sido assim... sem muitas páginas em branco.

Semana passada começamos a trabalhar em Newark (NJ), cidade vizinha a Nova York. Chega a ser estranho falar inglês por aqui, onde vivem cerca de 20 mil brasileiros. Até mesmo porque Newark é a cidade que abriga a maior comunidade portuguesa nos Estados Unidos. Na rua principal, chamada Ferry Street, a maioria dos comércios são brasileiros ou portugueses. É neste cenário que eu estou pedindo doações. No meu primeiro dia aqui eu fiquei na porta de um restaurante, no horário de almoço. Passaram muitas pessoas, mas pareciam estar surdas, porque não me ouviam falar com elas. Também não me enxergavam. E olha que eu parava bem na frente delas. Eu não sei lidar com isso e minha única forma de expressão nestas horas são as lágrimas, que tentam desabafar a falta da consciência humana. Chorei e surgiu o Geraldo. Este homem merece um texto só pra ele... Geraldo conhece a terra mais do que as formigas. No nosso primeiro dia em Newark ele nos levou até a Irounbound Ambulance Squad, que presta serviços de emergência a comunidade local. Conversamos com o Manny, um português que trabalha há 25 anos na organização. Ele está nos ajudando muito. Dia 29 de novembro ele irá conosco arrecadar fundos por aqui. Ele faz isso normalmente representando a organização quando alguém pede ajuda a ele. Manny ficará conosco em um sinal de trânsito usando um mega-fone para pedir doações e nós ficaremos com nossas latinhas passando de carro em carro. Ele disse que da última vez que fez isso conseguiu arrecadar 1.700 dólares. Além disso, ele vai oferecer à população um curso de babysitting, sobre primeiros socorros e reanimação cardiopulmonar. O curso custará 65 dólares, sendo que 45 serão para a nossa arrecadação de fundos. Agora nós temos é que correr pelas ruas de Newark e matricular o maior número possível de pessoas.

Hoje o Geraldo nos apresentou um artista plástico que também irá nos ajudar. Ele vai nos doar 200 camisas para que nós possamos vendê-las. É assim... pode ser que nas ruas a gente não encontre ninguém, mas sinto que existem muitas mãos me segurando...

sendo humana

Eu também me canso de gente. Canso de mim... e me canso dos outros. Vou para o último sofá do bar e injeto altas doses de solidão pra eu voltar a sentir os arrepios. Não nasci pra sorrir todos os dias. Nem acho bonito quem sorri demais. Gosto de cara feia, amassada. É humano ser assim. Cheia de estações. Tem hora pra chover... e se esconder da louca tempestade. E quando for assim pode apostar que em breve vai fazer calor. Ah... ela era exatamente assim. Sabrina!

domingo, 16 de novembro de 2008

gosto de pessoas que quando querem ficar bonitas se maquiam com sorrisos...

acelerando os ponteiros

se ela me espremer sairá um líquido ácido, acumulado desse pedaço azedo de mundo sem mar. ando com ânsia de me deitar naquela rede de cumplicidade, na varanda do nosso sítio. encolher minha pele nas curvas dos dedos de minha mãe. colocar estrelas nos meus olhos em uma longa troca de sangue com meu pai. com ele eu ainda quero sentar na grama e ver a vida passar entre os galhos de madeira cheios de folhas. ando com necessidade de dormir ouvindo a minha própria respiração. acordar com as minhas primas Gisele e Patrícia arrombando a porta com desejos de brigadeiro. quando eu encontrá-las vamos rapar juntas o doce nas esquinas da panela. vou fazer questão de sumir por algumas horas pra memorizar a cor do sorriso da minha irmã. nós teremos muito a contar sobre esses nove meses de saudades. peço apenas que os próximos três meses passem em três dias...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

girando

a vida acontecendo lá e aqui ainda é noite. as pessoas chegando ao trabalho... dando Bom dia! Incrível o fato de lá já ter Sol enquanto aqui ainda posso ver as estrelas. Eh mundão que não pára de girar!

universo particular

Tudo acontecia ao redor delas... e elas juntas, correndo pelo salão de mãos dadas. Achei lindo elas ainda unirem os dedos pra falar de amizade.

a gente se basta

E se eu achar que noite é pra ficar de olhos abertos tateando o escuro?

Aquele dia passou apenas no calendário. Lembro bem que eu queria e você também, mas eu e você não tínhamos coragem de perguntar. Então a gente dançava e se beijava com os olhos. Seguíamos a sombra um do outro. Discretamente. Quando você me procurava eu logo corria com os meus olhos pra outra direção, pra você não perceber o que todos naquela festa já sabiam. Nós nunca soubemos esconder muito bem defeitos debaixo de brigas, saudades temperadas a ciúmes, mãos grudadas na pele... eu e você sempre vivemos debaixo da Lua. A gente não gostava de paredes, a não ser aquelas feitas de árvores e folhas. Já éramos do mundo, porque eu tinha você e você tinha a mim... e isso era exatamente o que a gente queria. Se trancar entre as janelas do mundo e jogar as chaves do andar mais alto pra ninguém conseguir nos encontrar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

terceiro fundraising

Estou na minha terceira arrecadação de fundos, desta vez em Nova York. Chegamos na quarta-feira à noite, dia 05/11. Nesta cidade é muito difícil conseguir doações, acho que cheira demais a capitalismo, passos rápidos e saltos altos. Mas mesmo no meio de tanta correria eu pude ver muitos pés descalços. Na noite de sexta-feira um homem me falou de saudade. Ele abandonou os filhos e veio para os Estados Unidos há 20 anos, porque a ex-esposa o traiu. Agora ele quer voltar... pra ver crescer pelo menos os netos. Molhamos o rosto juntos lembrando assim da vida que se passa sem os nossos olhares. Nesta mesma noite um outro homem me contou que estava com câncer. Ele disse que ficou três meses sem poder sair de casa e que durante todo esse tempo não recebeu nenhuma ligação dos amigos que fez em Nova York. Provavelmente eles estavam ocupados pensando em formas de ganhar mais dinheiro. No sábado mudamos para a casa da Maria, que conhecemos na Igreja Católica. Neste dia fomos para uma cidade próxima, chamada Mount Verno. Eu fiquei em frente a uma churrascaria brasileira, cujo dono chama-se Siminho. Que pessoa fantástica! Geralmente os donos dos comércios pedem que a gente fique na parte de fora para não atrapalhar os clientes. Siminho queria que a gente entrasse e pedisse doações às pessoas nas mesas, não importava como nem quando. Pra ele bastava o motivo! Domingo mais uma surpresa! Fomos a uma Igreja Evangélica em Nova York para provar que toda generalização é burra. Na maioria das vezes os pastores não nos dão tanta abertura para arrecadarmos fundos nas Igrejas. Mas desta vez o pastor Humberto abraçou a nossa causa de tal forma que roubou qualquer resto de beleza nossa pra ele. E não pára por aí! Hoje conheci um americano que trabalha há dez anos limpando os vidros dos comércios. Com um balde cheio de água e sabão ele limpa 255 lojas por semana. Com orgulho ele me disse que é o próprio dono do seu negócio e que ama o que faz. É muita simplicidade pra um homem só!

sem capa

Estes momentos não são raros. Repetem-se tanto que às vezes penso que nasci pra ser assim, como água e fogo, como eu mesma. Eu estava queimando em plena neve e por questão de dias, feitos apenas de horas e minutos, vi minhas mãos ficarem abaixo de zero, mais geladas que o próprio vento. Achei que ela não enxergaria além da minha capa, e que se caso isto acontecesse faria o favor de não me contar. Acontece que dias atrás eu pedi que ela tirasse as capas dela. Mas gente... verdade é uma das piores dores. Falo daquela verdade que você sabe que existe, tenta não mostrar, esconde, faz diminuir, dobra, encolhe, e num momento de frágil-limite acaba deixando-a escancarada. Depois disso... não tem como... tem que assumir. Ser... deixar ser... egoísta!

domingo, 2 de novembro de 2008

meu abraço em mim

Apaguei a luz. Acendi a vela. Incenso. A música começou a cantar. A cintura debaixo da roupa acompanhava o ritmo e dançava de uma ponta a outra sentindo cada movimento dos ossos. Eu olhava o reflexo no espelho, feito platéia de mim mesma. Criava cenas, pessoas, eu mesma. Arrepiava. A minha pele tocando a minha própria pele. Eu me abraçando e me fechando em mim mesma. Amo esses encontros...

maio de partida

E amanhã tem mais despedida. Lá se vai mais um time rumo ao continente de pôr-do-sol colorido. Maio em breve estará com as mãos e os pés em solo africano. Por aqui vão ficar lembranças gostosas, do tempo que eu desenrolava os fios de cabelo da Bia... passava as tardes a procurar a menina Isa que de tão pequena desaparecia entre as montanhas... as faíscas de amor daqueles dois, Júnior e Lívia... a certeza de ser o que se é... Takuhiro! A gargalhada mais cantada: Maurício... Regina e os gritos pelo susto de ver uma simples pluma cair... a pequena japa Mitch passando da pele para o papel a arte viva... Lembro ainda hoje quando me assustei com a idade da Mariko. Os 19 anos dela vão levar fartura para Moçambique. E você Yusuke vai levar essa fibra que eu ouvi tanta gente falar... Vai lá pessoal... chegou a hora!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

pedacinhos de gelo

aquele dia amanheceu prateado. a cobertura de pedacinhos de gelo cobriu as folhas de outono. as gotas nem conseguiram chegar ao solo e congelaram. a marca das botas no chão desenharam as idas e vindas. os corpos se cobriram de panos... deixando apenas os rostos a vista. mas nem precisava de nada mais. os olhos sempre bastam. e foi bem assim... bem debaixo de todo esse tapete branco que eu vi a gente se descongelar. culpa nossa a neve ter começado a derreter... foi calor demais! pura cutícula...

sábado, 25 de outubro de 2008

por ela...

Vesti uma roupa que adoro, me cobri de cores e flores. Perfumei o ar. Fiz assim porque você me pediu. Me disse que eu deveria cuidar mais de mim. Me falou que amor não era uma condição, mas um sentimento. Que eu não podia ficar procurando corações em qualquer pessoa, pois isto era coisa de toque e cílios. Não dava pra apontar o dedo e ir em frente. Você me disse também que eu sou bonita e que não dizia isso para me agradar, porque era mesmo verdade. Além disso, você ainda disse que sortudo seria o homem que me encontrasse. Falou de mim como se eu fosse jóia, daquelas que você usa quando quer se destacar. Olha... eu decidi acreditar em você. Simplesmente porque a sua mentira encaixou exatamente na minha falsa verdade.

imaginário mundo

Clarice, se você continuar com toda essa poesia a realidade vai passar. Vai pegar o primeiro trem e vai parar do outro lado do mundo. Você pode até colocar seu corpo pra tentar interromper, mas aí já será tão feita de fantasia que se quer poderá ser vista.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

nossa filha...

Tem horas que vejo nossos filhos descendo as escadas da nossa casa de madeira. A mais nova chegando bem devagar com cara de sapeca, com o rosto colorido de tinta. Vem dando passinhos de algodão pra que eu não a veja, mas as mães sempre ouvem os dedinhos de esconderijo. Viro e ela corre para o nosso quarto. Eu acho estranha aquela sombra que ficou no ar, uma mancha colorida. Vou atrás dela... e a encontro deitada com o rosto escondido entre as mãos que de tão pequenas não cobrem se quer as bochechas. Meu lençol antes branco agora está estampado das várias cores que ela usou pra se fazer aquarela. Por minutos menores que sessenta segundos eu relembro a cara de brava que a minha mãe fazia com as minhas travessuras mais gostosas que o bolo de cenoura da vovó. Ela parava e respirava um ar tão profundo que eu pensava que não sobraria nada pra mim. Mas eu fiz diferente... peguei todas aquelas tintas e me cobri delas. Fingi não saber dos números que me separavam da minha filha. Quis ser, como quero sempre em qualquer dia, uma criança e me lambuzar de pedaços de confetes de alegria. Vendo-me assim ela se permitiu ser mais do que acreditava que poderia... e se pintou até nas paredes do vento...

decida

se você autorizar estou indo ver você. se você disser que sim eu sairei do meu corpo pra me diluir em alma. se você ao menos me responder eu começarei agora mesmo as minhas ilusões sem fim. e se você puder ser o homem que olhei no primeiro dia... ah... eu viverei estes dias apenas de você.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

e quando me falta a realidade eu venho aqui e construo a minha fantasia...

mãos geladas

hoje está 5 graus aqui em Williamstown. lá fora as folhas dançam tanto que caem dos troncos. de tão cansadas elas perderam um pouco do colorido... e se pintaram de marrom. cobriram o chão e os meus olhos. é dessa beleza que vou criar todo o calor no inverno...

saudades de você minha irmã

nessa noite ela sonhou comigo. a gente se arrumava pra irmos à uma festa e eu pedi para usar uma blusa nova dela. como sempre ela negou. com raiva eu coloquei a minha roupa mais baranga. e assim fomos... hoje ela me contou isso e disse que jamais me deixaria sair daquele jeito. que delícia ver esses nossos pingos debaixo dos olhos fechados... vendo daqui os defeitos ficam mesmo lindos...
se eu quiser sair agora e prender você dentro de mim quem há de me impedir? nem você poderia!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

só ele mesmo...

pode vir. chegue fazendo barulho. entre pela janela pra todo mundo ver. mas quando me ver não diga nada... eu tentarei imprimir você dentro de mim...

pequena passarinha,

que se a gente precisasse explicar tudo de nada valeriam os olhos... eu amo você além de qualquer texto que um dia eu venha a escrever...

- pai, é leite naquele pote?
- sim meu filho, é leite.
- e aqui? é chocolate? - falou o filho apontando para a pele negra do menino da foto...

eu achei lindo!

domingo, 19 de outubro de 2008

um certo ser desconhecido

morde, mastiga. mas não sente o gosto. engole. come disparadamente. pensa que a comida pode ocupar os espaços e por isso come até esticar a pele. é sal puro que desce rasgando a garganta. pra ele açúcar é só de vez em quando. vem depois da sobremesa que ele nem percebe o quanto é doce. ele é denso demais pra diluir qualquer coisa. então só compra congelados, pra evitar o pensamento e os novos temperos. de manhã já acorda de mau-humor, por sempre achar que o relógio desperta antes dele dormir o suficiente. tem mania de perseguição, não pode ver alguém olhando pra ele. pra fugir disso só anda com os olhos voltados para o chão, esperando brotar algo que faça valer a pena olhar pra cima. um dia ele quer ter um banco, só pra ter o prazer de ver tanto dinheiro circulando. amigos? um dia ele se perguntou se existiam mesmo e não encontrando a resposta desisitiu de saber. ele vive pra chegar em qualquer lugar, a próxima esquina serve. quando vai ao estádio de futebol ninguém aguenta ficar perto dele. ele grita demais. grita tanto que no final do jogo precisa perguntar qual foi o placar. as meias são sempre da mesma cor da camisa. detalhe que as cores das camisas são apenas três: preta, cinza e branca. ele nasceu numa época que cores eram raras e pra guardar um pouquinho de lembrança ele pinta as roupas nos mesmos tons.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

essas folhas

as flores do outono são elas. experimente andar sob várias delas. deixe seu pé dizer o quão macia elas são... e deixe seu ouvido bem livre pra escutar cada gemido delas... agora eu entendo porquê elas se pintaram de vermelho... não era mentira quando meus professores diziam que certas cores eram quentes. lá estão elas se aquecendo para o que está por vir... capa para o inverno.
os dedos correndo pelo teclado deixam clara a ânsia em se dizer algo além das palavras. e acaba que se diz mesmo.

pelas ruas de portas pequenas e idéias grandes

a língua passeando entre os lábios, o suor na pele seca, os fios saltando dos braços, o cabelo esparramando-se ao vento, o sol esfriando a tensão... um pouco de barriga pra mostrar, uma blusa apertada desenhando curvas, o colar caindo entre os seios... e o óculos pra disfarçar a pouca vergonha dessa menina...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

tarde na praça

entre os pingos de água os traços. ele ali, sentado, desenhando a realidade num pedaço de papel. olhava várias vezes para o quadro pronto como se tentasse deixar viva aquela nova pintura. riscava, rabiscava, despenteiava seus pensamentos. ele sabia que não faria cópia nenhuma daquela imagem, mas buscava ao menos ser fiel aos seus olhos. em volta dele havia todo um contorno transparente. as sandálias foram deixadas no chão, pra dar um pouco mais de tato àquele desenho. além disso, ele estava sentado colado no som daquelas gotas eufóricas. delicadeza dele acrescentar música naquele folha.

sei que entre traços perdidos e repetidos algo se formou no papel. e foi por isso que ele foi embora... e eu também.

dia livre

- acho que vou dar uma espiada na cidade. eu tinha pensado em nem sair, mas acho que vale a pena colocar os pés na rua, né?
- isso mesmo! sinta o ar da cidade. vai conhecer, se aventurar. descubra um lugar com porta pequena e com grandes idéias...

americano em exagero

Nessas minhas andanças conheci um americano incrivelmente americano. Estávamos conversando e eu expliquei pra ele que na África ter muitos filhos é cultural, que quanto maior o número de filhos que uma mulher tiver melhor é para a imagem do homem que está com ela. Conclusão dele: como as mulheres africanas são estúpidas, vivem naquela situação e ainda querem ter mais filhos? Continuando... ele contou que o voto dele nas eleições era para o McCain, porque os EUA deveriam manter os olhos abertos em relação aos terroristas. Falou que caso o Obama ganhe os terroristas irão atacar o país e matar os americanos e que por isso a guerra era necessária. Disse ainda que achava que os pais do Obama eram separados e que ele não queria ver na presidência um homem que era a favor da separação, porque ele queria manter os bons princípios. Pode?

terça-feira, 14 de outubro de 2008

maquiavélica

Desde que cheguei aos Estados Unidos para fazer o treinamento com certeza esta é a minha maior crise de pensamentos. Semana passada fomos tentar a ajuda da Igreja Católica de Philadelphia e conversamos com o padre. Ele disse que nós não poderíamos contar como o apoio dele, porque ele não concordava com as condições que a ONG nos oferecia. Falou que achava um absurdo termos que pedir comida e procurarmos casa para dormir. E que ele não queria ser cúmplice disso tudo. Ele disse que nós éramos estudantes universitários no Brasil e que não precisávamos passar por tudo isso. E finalizou dizendo que enquanto a gente fica ali nas ruas pedindo dinheiro, a ONG constrói seu império na África. Para contextualizar: o programa custa $3.900,00 (cobre os nossos 6 meses de treinamento nos EUA), temos que arrecadar nas ruas $6.000,00 por pessoa (cobre os gastos na África), a ONG recebe ajuda de grandes empresas e também conta com a ajuda do Clothes Colection (as pessoas doam roupas e a ONG as vende para arrecadar fundos). Este discurso do padre foi com uma facada dentro de mim. Estou vivendo a crise maquiavélica, quando os fins justificam os meios. Eu apenas quero chegar lá na Angola e fazer meu trabalho, não me importando com a forma que este dinheiro será usado... mas a gente não pode ser assim! Justo a gente que quer tanto mudar o mundo... Agora está tão difícil pedir contribuições nas ruas, pela crise financeira do país, mas principalmente por eu não acreditar no meu próprio discurso. Tenho vergonha de tirar o dinheiro de tantas pessoas sem saber qual o real rumo dele. Chegou num ponto que não dá mais pra fingir. Está escancarado demais. Ontem nem consegui trabalhar... enquanto meu time estava lá com o corpo entregue eu permaneci dentro do carro refletindo coisas da minha alma.

obs: É essencial que vocês saibam que tudo isso se trata apenas de suposições... e claro, suposições a serem checadas...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

entre aqueles dentes

Pra sorrir ele esticava tantos os lábios que ardia a pele. Estava sempre sorrindo, mais nas fotos que dentro do quarto. Mas insistia em sorrir. Pra mostrar altura e som. Não adiantava. Eu conseguia ver entre os dentes, aqueles tantos espaços de tristeza. Ele deveria saber que sorrisos não escondem as lágrimas.

colorindo de novo

Que delícia seria me sujar numa tinta branca, nadar entre ursinhos de pelúcia, esfregar doce de leite na cara, mergulhar entre fios de macarrão... nesse mundo só meu que crio dia-a-dia.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

cansada

Eu não acredito que a perdi! Justo ela que sempre me manteve sob as águas encostando a palma das mãos no céu. Eu a perdi... e o problema é que ela se esconde tanto que agora custo a encontrar vestígios. Nem um pé pra fora da caixa, nem um fio caído no chão, nem um sorriso atrás da janela. Pelo menos ameniza saber que o sol sempre muda de cor...

A crise americana está batendo nas nossas portas de uma forma que chega a doer. Meu time não está conseguindo arrecadar fundos para os nossos projetos na África. Os brasileiros ainda são capazes de ver as formiguinhas mesmo debaixo da chuva e continuam a doar. Mas não tem sido suficiente e eu não posso culpá-los e nem tenho coragem de pedir por mais. Em um dos restaurantes brasileiros que fui hoje a gerente me contou que com a crise eles mandaram 13 funcionários embora e tiveram uma redução de 60% nos lucros.

Além disso, sinto que estou atravessando o limite do meu corpo. Tenho acordado às 6h e chegado em casa por volta de 20h. São muitas as horas com as pernas esticadas e os pés sobre o chão. Tento buscar meu sorriso nos olhos de quem acredita em mim nas ruas deste país. Hoje um brasileiro, de Goiás, disse que eu não precisava me preocupar com a África, que eu tinha mesmo era que me preocupar comigo e esquecer do mundo. Eu tive tanto nojo que nem vontade de discutir me deu. Ele não valia uma frase minha.

Quando cheguei no estacionamento da casa que estou ficando eu não quis sair do carro. Preciso mesmo ouvir o que minha pele tem a me dizer, no silencio ainda desta noite.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

música pra mim

É tanta coisa pra dizer que haja virtualidade! Hoje finalmente eu fui para uma loja brasileira em Philadelphia (Pensylvania). Ai que vontade de colocar todos aqueles brasileiros dentro de uma caixinha e trazer pra casa em forma de música. Agora sim eu começo a recuperar a minha esperança que estava perdida entre aquelas esquinas de americanos ricos. Hoje sim as pessoas queriam saber sobre meus sonhos, meus projetos na África, eles sim olham além da janela do quarto.
neste tempo de vales e águas salgadas minha pele se encolhe num abraço a si mesma. por fora permanece intacta, mas por dentro se comprime por não encontrar espaço pra relaxar...

no vale

Sentir-se fraco é fundamental pra enxergar o mundo a partir de vales. Descer montanhas... porque o corpo fala demais e chora quando não consegue se expressar. É fácil entender de onde vêm as lágrimas. Nascem dessa nossa incapacidade de comunicação. Quando nossos olhos já não podem falar eles gritam molhando o rosto. Minha sorte é que lágrimas são feitas de água limpa e fazem lavar... este fundraising tem sido assim... molhado, regado... é como eu disse antes, a riqueza faz fechar as mãos. Estamos tentando arrecadar dinheiro em Princeton, uma cidade basicamente formada por estudantes de uma universidade particular muito conceituada. Tem pessoas muito ricas aqui, o problema é que estas pessoas limitam a riqueza ao dinheiro. Como é difícil fazê-las ouvirem, e se o fazem é pra doar um dólar. Ah... que saudade dos brasileiros...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

dor nas costas

estou na segunda parte da arrecadação de fundos para o meu projeto na África. agora me encontro em Princeton (New Jersey), pedindo dinheiro nas ruas em frente à faculdade da cidade. hoje eu precisei parar. sentei no banco, naquela sombra gelada, e chorei. chorei tanto que cheguei a pensar que fossem lágrimas acumuladas. sinto que carrego o mundo nas minhas costas e ninguém pára pra me ouvir. não sei porque, mas hoje o peso me pareceu muito maior que nos outros dias...

sábado, 4 de outubro de 2008

coisa de sangue

Depois de anos casados ela descobriu que o marido a traia. Na verdade ela já sabia... mas preferia mantê-lo dormindo do lado direito da cama, ainda que ele só dormisse. Ela queria continuar a acordar com os chutes dele a noite e perder noites de sono com o ronco. Ela achava isso até bonito. E agora... separados... é como se ele ainda estivesse em casa. Os três filhos fazem questão de lembrar dele. São cópias vivas! Os mesmos olhos caídos, o mesmo sorriso... o sangue não deixa esquecer.

longe de casa

Shamu, 19 anos, americana.
Foi lindo ver você se exibindo, mas... Só consigo pensar que aquela não era a sua casa. Faltava a varanda cheia de areia, o sal diluído na água, faltava oceano.


amanhã?

Eu perguntei: Quais são seus sonhos? Ele respondeu que não sabia. Eu tive muita dificuldade pra continuar perguntando...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

restaram apenas conchas

Talvez eu tenha errado a rima, entornando suspiros na tela. Assustei você como já assustei outros homens. Eu não conheço este tempo humano. Não sei esperar a onda chegar, eu saio correndo desesperada atrás dela. O problema é que quando chego lá percebo que onda é água e não dá pra carregar. Pelo menos saio com as mãos lotadas de conchas, pra concretizar as minhas fantasias de menina. Inclusive mandei uma delas pra você. É... foi bom acreditar que era verdade a nossa poesia. Você sabe, seu cheiro tem o dom de me hipnotizar...

irracional

E quando as pessoas falam de mim e eu gosto? Eu não sei se sigo sendo aquelas palavras que tanto gostei ou se continuo a nadar nesse mutante rio. A minha dúvida é: será que as pessoas realmente me enxergam ou elas apenas vêem aquilo que eu mostro? Eu preciso saber se há beleza dentro dos embrulhos. Quero a inconsciência. Preciso mesmo disso.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

justo eu que finjo tanto

Estou descobrindo que ninguém de fato é. São muitas as tentativas em ser. Vários os modelos das molduras com quadros cheios de razão. Se a gente apenas fosse seria tão simples acreditar. Mas as pessoas têm vontades demais. Os desejos atropelam a essência. Morre cada característica singular, tão própria de cada um. Não dá! Pra pintar é preciso fechar os olhos. Deixar as cores desenharem por si só. Mas lá vai ele... abre um cantinho do olho e observa se alguém percebeu... e em pouco tempo já está, mais uma vez, de olhos abertos. Lá vão eles... copiando exemplos midiáticos, fingindo serem capa de revista, imitando a beleza. Estranho... porque eles mantêm os olhos abertos, mas não enxergam. Até quando se olham no espelho o reflexo é produzido. É maquiagem em excesso. Sinto falta de pele, de sujeira, de cor. Justo eu que finjo tanto. Que fico aqui escolhendo as melhores palavras pra falar de mim... faço coisas para os outros pensarem o que eu quero. É muita porta pra abrir. Muita água pra beber.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

a beleza estava mais neles que no próprio lugar...

ele disse que eu era uma princesa... eu só fiz acreditar...



enfermagem

- estou pensando em fazer enfermagem. quero saber mais sobre algo que eu realmente possa ajudar, sabe? sinto que sei coisas mais abstratas... quero algo mais prático!
- mas daí você vai querer abraçar o mundo demais
- sim... sempre quis. mas há problema nisso? vejo mais beleza que problemas...
- nenhum problema... mas... é que eu penso que ser enfermeira qualquer uma pode ser... e qualquer uma pode fazer isso... mas você... você tem uma coisa... que só você pode fazer, sabe... eu não sei explicar... e eu acho que só na Angola você saberá...
"Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali - existam estrelas."

Nietzsche

domingo, 28 de setembro de 2008

parênteses

Entre eu e a África existem pessoas. Encontrá-las no meio disso tudo faz doer mais do que sorrir. Já no primeiro abraço começa a contagem regressiva e é incrível como o relógio acelera sem nem perguntar sobre a minha velocidade. Matar saudades é impossível. Nessa semana eu reencontrei meus pais. Fui para West Palm Beach, na Flórida, onde minha tia mora. Quando vi minha família atrás do vidro do aeroporto eu corri mais que os pés. Me desfiz num abraço cheio de pele, de mãos, de corações. Foram dias de um corpo só, de um único quarto, de uma só voz. Foram várias as vezes que eu parei para admirá-los, mas as lágrimas chegavam rápido demais e eu logo fazia os olhos perderem o foco. Não consegui disfarçar quando meu pai me parou pra uma daquelas conversas longas. Acho que ele ainda não sabe que cresci, que já sou mulher. E sinceramente eu faço de tudo pra ele não perceber... pra eu poder ter pra sempre aquele colo. Na última noite foi difícil manter o silêncio... eu ouvi cada soluço da minha mãe. Fez sangrar demais dentro de mim... eu chorei baixinho pra ela não pensar que eu sentia o mesmo que ela. Segurei firme as mãos finas dela... pra dizer com a pele que estaria com ela onde quer que eu estivesse. Espero que ela tenha entendido...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

orgulho de você meu pai

Para o menino dar um beijo o pai precisou abaixar. Ele ajoelhou e desfez os degraus: plano. O filho, empolgado com o gol que fez com um goleiro tão maior que ele, saiu correndo e derrubou o pai na grama. Segredo: o pai deixou a bola entrar... porque sabia que isto aconteceria. O beijo atravessou o campo... feito cometa. Deliciosamente o pai abraçou o filho e rolou na terra verde. Som de sorrisos largos. Eu vi esta cena hoje no caminho de volta pra casa e senti saudades das conversas pausadas no fim da noite, das nossas festas regadas à natureza... foi assim que eu percebi que ele sempre estava na lateral do gol esperando a bola entrar. Amanhã será o nosso dia, meu pai!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

folhas de outono

Não sei quem pintou as folhas de vermelho. Será que as gotas da última chuva tinham cor? Sei que quando eu voltei elas já estavam assim: com várias pontas descansando sob a terra. Até no chão elas desenharam... Imagine todas as cores entre o verde e o vermelho. Assim são elas. Matam de inveja as flores da primavera. São as folhas do outono chegando...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

só com a própria pele

Sinceramente eu não assustei quando me contaram que eles trabalhavam de sunga. Fiquei pensando... porque mesmo que a gente veste roupas? Pra fazer parte. Pra estar junto. Pra decorar. Enfeitar. Eles também fazem isso, até com certo exagero. A diferença é que eles sabem tirar os panos quando querem. Eu sei o motivo. E hoje de manhã... tinha música do outro lado da grama, entre as folhas que estão mudando de cor. Eram eles...

Huambo...

Tem uma joaninha dando voltas sob a minha pele... Cócegas! Hoje fiquei sabendo que vou pra Huambo, em Angola. Vou trabalhar num projeto que se chama Cidadela. Vou dar aulas para crianças em uma escola primária. Minha amiga vai para Bié, uma cidade próxima, trabalhar na Escola Professores do Futuro. As cores estão aparecendo. Meu sonho começa a se desenhar... e não é que os dias correm?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

de volta...

De todo o suor ficou apenas gotas limpas. Voltei hoje para Williamstown, após duas semanas em Boston arrecadando fundos. Meu time deveria arrecadar 10.800 dólares, com a meta diária de 100 dólares por dia, por pessoa. Objetivo cumprido. A cada passo sinto aumentar a minha responsabilidade. No fundraising percebi que este sonho já não era mais apenas meu. São várias as mãos que nos carregam até a África. E eu que nem sabia que agradecer poderia ser tão complicado. Eu me via ali com minha latinha na frente de tanta gente... e essas pessoas depositavam em mim a confiança dos passos. Um senhor confiou tanto que doou 150 dólares em uma ação feita numa Igreja, em Somerville. Dentro da Igreja a fé legitima os cifrões. Em uma das missas que assisti nesse domingo eu me emocionei muito. Lavei meu rosto quando tocou a mesma música que eu cantava quando freqüentava a Igreja com os meus pais, em Belo Horizonte. Foram lágrimas no meio de um sorriso largo. É feito brisa sentir tanto orgulho por meus pais. Preciso falar também dos brasileiros com tantas fantasias americanas. Vieram deles a maior parte do meu impulso. Na área de Boston se você quiser você vive dentro do Brasil. A minha tristeza é que essas pessoas sempre vêm para os Estados Unidos em busca de dinheiro. Não me agrada a idéia de movimento por buscas financeiras. Pra mim isto sempre deveria ser uma conseqüência. Mas eu bem sei o sentido da correnteza...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sem espelhos a gente pode ser o que quiser... ah! quanta liberdade...

menina de chapéu

Clarice não aguentou ficar muito tempo dentro da caixa. Ela viu o dia e se arrumou pro amarelo do Sol. Saiu pra caminhar e enxergar, seguindo os conselhos de um poeta. De chapéu. Este detalhe é muito importante. O chapéu escondia o rosto e só deixava Clarice ver o que estava a sua frente. Já na primeira rua chegou o vento querendo desfazer a toca que a menina havia criado. Pra mantê-la ela colocou a mão em um lado da cabeça e seguiu segurando o chapéu. Mas ventava demais... Então ela tirou a máscara pra ouvir o que o vento queria dizer. Ah... que delícia. Era sobre a nuca e os espaços entre os fios. O vento queria acariciar... Clarice até parou pra sentir. Ficou ali no meio da rua sorrindo sozinha.
queria mesmo era ter nascido índio

recarregando

- será que sou muito complicada para lidar? eu preciso mesmo de mim... tem horas que tenho que parar e me recarregar
- você é tão simples que o mundo te acha complicada
- como você pode me aliviar assim numa frase?

recesso

Preciso de quarto. Silêncio surdo e cego. Sem frestas de luz. Cortinas fechadas. Porta trancada. Telefone desligado e campainha estragada. Incomunicável. Sem letras nem papel por perto. Caneta sem tinta. Vazio pra ocupar todo o espaço da mente. Preto e branco. Escuro. Dia gelado ainda que lá fora faça sol. Eu mergulhada entre cobertores pra dificultar que eu esbarre comigo por aí. Corpo escondido. Meias, luvas e óculos pra não correr o risco de refletir em espelhos inesperados. Desligada. Desconectada. Por favor, peço que não me achem!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

seja na Angola ou no Brasil

Ser humano: não tem raça, nacionalidade, não tem cor, nem extremidade. Ser humano é ser humano aqui ou do lado de lá. No Brasil ou na Angola. Se minhas mãos vão encostar em solo africano não quer dizer que estarei de costas para o povo brasileiro. Uma ação não elimina a outra. Este é um discurso que tenho que fazer quase todos os dias...

olhares

como pode um espelho e uma foto retratarem realidades tão diferentes? e olha que naquele dia eu me olhei várias vezes no espelho... mas sempre que olho as fotos me confundo. talvez no espelho a gente olhe com foco, abusando da imaginação. e a foto... meu caro, é aquilo ali. não dá pra inventar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

alimento pra tanta fome

São tantas as esquinas a se contar que sobreviver nesses dias depende diretamente das palavras. É em frente à tela branca do Word que eu folheio as páginas desse meu livro. Se as palavras não dão as mãos... pode esperar, porque em seguida virá o enterro. Sentimentos sem expressão. Morte! É assim pra mim. As explosões só se concretizam nos textos. Não há declarações no pé da janela que superem a escrita. É o meu pão diário.

domingo, 7 de setembro de 2008

telepatia

o que acontece se a gente se apaixonar antes dos beijos? antes da outra pessoa saber quem a gente é? antes dos tubos de ensaio?
...cá estou eu tentando uma conquista através de pensamentos...

sábado, 6 de setembro de 2008

memória que arde

Me diz: onde eu coloco toda essa minha saudade? Quando eu a despejo nas palavras ela empurra as laterais do meu corpo. Fica ainda mais espaçosa. Egoísta. Querendo arrebentar a pele. Rasga! O estranho é que nestes momentos eu não sinto vontade de fugir, eu cutuco a dor. Escrevo mais dos detalhes que não vejo. Saio correndo atrás dessa ausência... pra deixar algo concreto. E funciona. Minha memória arde por tamanha insistência em trazer as lembranças pra cá. Imaginar faz realizar... eu tenho certeza disso.

mesma temperatura

Preste atenção menino. Estou pedindo pra você parar e me respirar. Sei que agora sou ar pesado, mas sei que você agüenta. Tenho vivido semanas em segundos, sem pausas. À minha frente vejo muitos números. Todas as noites eu chego e faço cálculos. São subtrações. De quantos passos faltam pra chegar lá. Isso explode demais dentro de mim. Ainda bem que a gente pode dormir e entrar em outro mundo que não esse nosso. Se não fosse meus sonhos debaixo dos meus olhos fechados eu não sei se suportaria sorrir. É muita energia em cada pedido meu nas ruas de Boston. Resta pouco pra mim. E eu preciso tanto de mim mesma. São tantas as pessoas a me carregarem. Eu apenas dou as mãos e sigo com elas. Ouvi estórias demais em tão poucos dias. Perguntas atrás de perguntas. Eu ali. Absorvendo tudo. Acabei me esquecendo de enxugar um pouco. Agora estou aqui implorando por um pedaço do seu abraço. Quero me perder entre os braços seus pra que a nossa temperatura possa ser a mesma. Pra assim você me doar um pouco desse seu calor...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

sabor de um grão de feijão

Quando estamos na semana de fundraising nós temos apenas três dólares por dia pra cada um comprar comida e por isso temos que pedir doações nos restaurantes. Esta é a pior parte do dia. É quando eu me encho de certezas e pinto meu rosto com a cor negra da África. É mais difícil pedir comida do que pedir dinheiro nas ruas. Comida é uma necessidade básica do ser humano. Faz parte da sobrevivência. Hoje um homem me ofereceu uma lata de Coca-Cola. Eu disse que não precisava. Ele insistiu. Eu continuei dizendo que não havia necessidade. Por fim ele perguntou: “Você bebe Coca-Cola?”. Eu respondi com um sorriso tímido: “Bebo sim”. Então ele chegou com uma latinha de Coca e outra de suco de limão para a minha amiga. Ele molhando a minha sede assim... eu nem soube agradecer. Nestes dois últimos dias nós pedimos almoço em dois restaurantes. A comida chegou depois de muito trabalho. Que delícia. Sentir o gosto de cada grão de feijão. Tinha outro gosto aquele prato. Sabor de suor, de esperança, de Angola.

eu acreditei, mas e você?

Foi você quem molhou sentimentos sobre as minhas pétalas. Chegou falando de amor como quem fala de uma simples equação. Pensei que plantava sementes dentro de você. Eu acreditei, mas agora já não sei se você fez o mesmo.

a magali

Todo fim-de-semana ela pede uma melancia ao namorado. No guarda-roupa tem dois vestidos amarelos. Assim ela se diz ser a Magali. É muita pureza dentro dessa linda mulher.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

notas sem som

Nas ruas de Boston eu fico criando teorias sobre estas notas sem som. De um caminhão sempre saem tantos números cinco. Das pessoas mais simples é que vêm as maiores doações. Não acostumadas a terem muito estas pessoas conseguem abrir as mãos, chegando até a esvaziá-las certas vezes. Mas pra quem tem contas altas é complicado tirar um dólar. Há um apego maior ao dinheiro quando há riqueza. É tão contraditório... Porém, também é preciso deixar claro que os números não dizem tudo. Houve quem doasse algumas moedas acreditando ser ponte entre eu e Angola. Teve quem colocasse quantias maiores sem nem ouvir as minhas intenções. Estes me roubam fôlego, porque me privam do que mais busco nas doações: o brilho nos olhos. Ainda bem que tenho meu pai pra dizer: “Filha, cada um tem uma forma de olhar.”

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

áfrica nossa

Domingo, 5h. Despertador. Banho rápido. Malas no carro. Café da manhã. 6h. Rodas girando. Carro em movimento. Destino: Brazilian Day, Nova York. Fundraising. Outro lado da rua: pedinte. Expectativa sem forma. Sem saber se clara ou escura. Cada um a imaginar o fim da própria linha do trem. Tinha aqueles que já faziam do futuro o presente, traçando a incapacidade antes das mãos. Saco sem fundo. Furado. Esquecem que pra buracos há toda essa terra pra tampar. 10h. Chegamos. E com a gente a verdade de cada um aparecendo. Círculos, quadrados, pontas... Quis logo saber da minha. O que formaria a minha linha... Saí para as ruas. Falei das minhas vontades e eles logo acreditaram. As frases curtas não diminuíam a força dos olhares. Eu contei pra tanta gente desse meu sonho. E foram muitos, muitos os que me incentivaram. O valor das notas não dizia por si só. Porque teve um senhor que não encheu minha latinha, mas me levou palavras de um sonho bom. Alguns se quer esperavam eu terminar e já alimentavam os meus anseios. Teve até quem nem me deixasse dizer nada. Um homem simples, de passos lentos e fios brancos, parou pra me ouvir. Ele me deu cinco dólares entre o pouco dinheiro que tinha. Olhou dentro de mim e disse: vai com Deus menina. Sabia que iriam me fazer chorar! Tenho que agradecer por cada pilar que eles construíram em mim. Essas pessoas... são elas que vão nos levar até lá.

sábado, 30 de agosto de 2008

a corda se mantêm esticada

Há tantas batidas nessa tela. Tantas que eu nem podia imaginar. Lembranças da nossa primeira conversa enquanto o ônibus seguia o caminho. A primeira carta que escrevi pra ela... há mais de seis anos... percebo que muitas coisas se mantêm ao longo dos anos. O beijo nas letras pela primeira vez assinado por um eu te amo. Assim... sem esperar o tempo nem a forma. Aconteceu ali... na poesia. 11 de setembro. Que data! Faz quase um ano o nosso reencontro. Depois disso foram tantas as noites debaixo da Lua. E mesmo com toda essa terra entre a gente ela continua a me convidar para as ruas de lá. Aquela menina que pude carregar nos braços ainda me pede conselhos. Espera as minhas palavras pra descomplicar as portas tão abertas. Essa é inesquecível: faz compromissos virtuais comigo. Quer saber de mim, fica me lendo como se eu fosse um livro de páginas infinitas. Com ela vivo a pisar em almofadas. Ah... e as três raízes. Não me deixam esquecer quanto são dois mais dois. Sempre com os pincéis nas mãos colorindo os espaços brancos do arco-íris. Meus dois pilares. Perguntam de mim como se deles eu nem quisesse saber mais. Incrível! Ficam fazendo carícias pela Internet. É... não é como um menino havia dito. As pessoas não se afastam. A corda permanece esticada. Chega quase a arrebentar de tanto que a gente puxa. Teve gente que até renasceu. Conseguiu me amar só agora. Sei que há muito de mim nesses fios cheios de texto...
Entre eu e esse mundo há muita alma.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

realidade minha

Eu vim correndo pra ver se encontrava vivas as suas palavras. Mas assim como outras tantas vezes li minha memória de páginas amarelas por tantas releituras. Entre as lembranças fui abrir a cortina. Meus olhos arderam um pouco com a claridade. Era um dia laranja. Nem pude esperar pra trocar o pijama... a grama também é minha cama. Foi nessa hora que olhei pra trás e vi você passando. Andava devagar e trazia nos lábios letras. Cantava baixinho, pro coração sentir que era em sua homenagem. Na mão esquerda trazia uma flor. Aquela que você achou no caminho e fez lembrar-se de mim. Exagero seu me enxergar naquelas pétalas vermelhas.

Arrepiei por ver você se aproximando. Quanto mais a distância se desfazia mais tempo parecia demorar a sua chegada. Eu fui perdendo as reações. Apertei as mãos e minhas unhas marcaram a pele. E você chegou! Me tirou do chão... feito susto. Vi todos os ângulos nos braços seus. Você me rodando e eu tentando acreditar. Combinou com meu vestido rosa de bolinhas brancas, próprio pra suportar muito vento. Quis descer um degrau pra recuperar o fôlego, mas a altura já era grande demais. Você não parava...

Me colocou no chão como se eu fosse algodão e me tirou o ar que restava com a sua janela da alma. Roubei seu ar num beijo. Nosso primeiro beijo. Só então pude perceber de quanta realidade você é feito.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

menos um

Não adianta. Uma hora a cabeça da gente não suporta e corre atrás da primeira porta. Foi assim com ele e agora somos nove. Passos largos como esses nossos precisam de base. E se não for de pedra arrebenta na primeira onda forte. Feito ele... é assim mesmo. A gente tem que se encher com nossas convicções pra poder suar deitado na neve. Pra seguir tem que escancarar o coração, segurá-lo firme nos olhos até fazer lacrimejar. Se não for assim não há pés que agüentem...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

chegou a minha vez


Para que cada time possa ir para a África é necessário arrecadar fundos, o equivalente a seis mil dólares por pessoa. Este dinheiro será usado para pagar a passagem, o seguro de saúde, o nosso salário, etc. Este trabalho é feito em quatro semanas alternadas em cidades diferentes. É o famoso fundraising.

Meu time começa a colocar os pés na rua neste domingo, dia 31 de agosto, em Nova York. Vamos para o Brazilian Day. Em seguida, cinco pessoas irão para Boston e a outra metade para Washington DC. Eu fiquei responsável por encontrar lojas brasileiras em Boston, lugar que eu vou. Já pude sentir a oscilação dos meus sentimentos, tocando o chão quando alguém nega ajuda e ganhando energia pra mais tantos nãos com um único sim. É gostosa essa sensação de desafio, de ver crescer a partir da gente um sonho maior que nossos olhos. Pisar em situações desconhecidas com a mesma pureza de ontem. Pra esses tantos lugares que vou quero levar brilho... pra falar dessa minha vontade de chegar lá e trocar máquinas por barquinhos de papel.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

protesto

Eu entraria sem pensar naquele avião em direção às Torres Gêmeas. Faz tempo que me tranquei em minha ideologia. Sem controle remoto. Joguei meu corpo nessa correnteza pra levar meus pensamentos. Pra elevar. Eu já deixei há muito tempo de encontrar os culpados. Abandonei a comida quente na mesa, a conta com cifrões no final do mês, as almofadas entre aquelas tantas paredes. Seguir o curso sem escolher as setas. Fantástico! Protesto às linhas sem forma! Eu vou gritar... ainda que apenas você me ouça. Porque por um sorriso eu viveria todos os meus dias.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

menino dos abraços

Ele é cheio dele. Não apenas às vezes, mas sempre, exageradamente em todos os momentos. Eu nem acreditava que ainda existisse alguém com tanta firmeza, pisando fundo em cimento. Vertical. Imagina! Mudar de humor porque brincaram com seus valores. Minha gente, isto é assunto sério! Será que a gente se esqueceu disso? Acho que sofremos de esquecimento voluntário. Mas ele não. Com ele nem há motivos pra relativizar, posso encher até as bordas pra dizer palavras como sempre, nunca, jamais... Não fica nada entre os abraços, entre um dia e outro. Tudo se faz ali, quando acabamos de respirar. Sem nada além daquilo que ele é, sem ele nem saber que é tanto assim. Ah! Que bom encontrar você... pra desenterrar pedaços de mim mesma.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

é hoje...


É muito importante que ele saiba da falta. Mas antes disso deve entender um detalhe. Houve felicidade também na ausência. Tantas despedidas me levaram ao telhado de mim mesma. Pra deixar ir hoje eu sei que é preciso antes me entregar com palavras, noites, flores e tempestades. Alivia a sensação de palavras ditas, sentimento explícito. Assim a morte se faz sem dor, porque a vida de fato aconteceu.

Hoje ele volta. Eu sei que quando ele foi eu nem precisei chorar. Ele alcançou as minhas conchas... onde já nem havia ondas. A gente se lia mesmo sem olhos. As costas começaram a falar tanto. As mãos... o tom da voz. Os horários. O sono. Até mesmo a cor do sorriso.

Desde o dia que ele se foi eu comecei a contar os dias até a volta. E agora... com poucas horas entre eu e ele eu me perco na tentativa de começar. Não sei exatamente onde eu parei. É que eu nem pude parar. Era muita presença dele em toda essa ausência...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

sessenta vezes

que ninguém aponte como erro se eu me apaixonar várias vezes num segundo. sessenta vezes. sessenta formas. simplesmente pra recriar sessenta vezes o mesmo sentimento...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

que seja eterno esse nosso lirismo

Esse lirismo dá mesmo medo. Já diria Gahyva. Dá medo de perdê-lo na próxima onda com sol forte. De sentir sede e faltar água. Pânico imaginar os dias sem os contos. Sem a madrugada e a roda gigante. Gente como eu precisa de letras arrepiantes. Sem glamour, mas bem sublinhadas. Negrito. As relações poéticas não sobreviveriam à realidade. Posso enxergar os buracos tão vazios por natureza. As ausências das presenças. É que a gente se faz ali... no meio das palavras. Fora de dicionários. Abstrato. Recriando nosso próprio vocabulário.

deixe passar

Esta mulher ainda irá sofrer demais. Ela dá abraços esperando beijos. Fica horas na varanda esperando ele passar. E se ele não vem o dia seguinte nem existe. Assim ela só faz enxergar a luz apagada de memórias acesas. Ah... se ela soubesse. Que o segredo está em abrir a porta e deixar passar. Pouco importa a eternidade. Profundidade é sentimento sem tempo. O problema é que tem gente que aprende a contar minutos e confunde intensidade com horas. Ah... se ela soubesse desse segredo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

outras cores

O problema não foi terminar. O pior foi ver você sem as batidas. Passos calmos, cheios de razão. Deixar as mãos abertas e ver você escorrer, completamente. Perceber que não é mais único. Que sem você a vida também é colorida. Há tantas cores além daquele arco-íris. Eu me abri até me secar de você. Cheguei a trincar tal era o nível do sertão. Não sei de onde nasceram aquelas gotas quando confirmei a sua ausência. Talvez fossem miragem. Ficaram no passado as alianças. Resta agora a eternidade das lembranças. A certeza do amor. Pra que quando eu vá contar a nossa estória eu possa começar assim: era uma vez... feito conto de fadas.
todos os dias eu ouço você nessa letra com som.

estava escrito

Você é o homem que me disseram estar traçado. Eu bem já estava a sua espera. Na carruagem. Estava escrito ali naquelas linhas tortas das minhas mãos que a gente escreveria junto os nossos versos. Hoje quando acordei eu fiquei horas respirando nossos suspiros. Senti seu cheiro no meio das amoras. Roxas. Logo me juntei a elas pra exalar você. Fui cantando a nossa música. Tão minha e sua. Quero decorar você em cada rima. Dos detalhes eu quero letra por letra. Pra não faltar nem sobrar. Apenas encher. Transbordar essas águas tão claras que a gente constrói dia-a-dia.

E quando a gente puder acabar com a saudade... ah... nesta noite haverá saltos. Altos e finos. Sapatos pretos. Vestido rodado pra não perder o movimento. Lábios vermelhos. Pupilas dilatadas. A explosão será tão grande que não sei se conseguirei ir até você. Caso isto de fato aconteça, peço com antecedência que me busque. Pegue as minhas mãos e dance comigo na praia. Eu estarei esperando por isso. Se encaixe nas minhas curvas. E não se esqueça de que é sempre você quem me acorda no dia seguinte.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

olhos oceano

Na semana passada a diretora da IICD, a Jytte, contou a história da Humana People to People, organização que a ONG faz parte. Quantas pegadas... Jytte tem passos certos, definidos. Não faz barulho. É contida. Interna. É alma. Hoje ela vive as conseqüências de tantos caminhos: já não se pode enxergá-la, misturada entre tantas versões. Penso que ela se fragmentou em partes... deixadas nessas viagens. É dinamarquesa e tem 58 anos. Seus cabelos de neve deixam os olhos ainda mais oceano. Sua vida começou aos 18 anos, quando um grupo de dinamarqueses resolveu atravessar fronteiras. Naquela época na Dinamarca as pessoas não se interessavam em olhar além da própria janela. A curiosidade foi o berço. Nela eu vejo fonte. Faz crescer minha sede. Tem olhos tão profundos que para ouví-la é preciso antes saber ler seus olhares. Ela não há de descansar. Ela já nem pertence a si mesma. Se doou para o mundo...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

quatro

Somos quarteto. De lá onde se fala uai. Quatro cores. Quatro desejos. Quatro maças. Um sentimento. Várias mãos em movimento. Pouco sono. Muitos sonhos. Explosões. Quebramos paredes. Desfazemos muros. De mãos dadas. Entre as faíscas de Camila há toda a brisa de Tatiana. Michele vem devagar pra soprar com sorrisos a chama. Cor-de-rosa. Elas também enxergam palcos nas ruas. Tudo bem que Michele fique mais na platéia... a gente bem precisa de alguém pra nos olhar. Tatiana se perdeu no meio de tanto açúcar... se espalhou quando Camila passou e fez tudo mudar de lugar. Ah! Ainda bem que Michele estava lá pra dar colo e olhos. É assim. Dois mais dois. Três mais um. Sempre quatro!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

o arco-íris acabou de pintar a chuva com todas as cores. parei pra olhar.

falsa cegueira

- acho que perdi as lentes.
- você acha? você não sente se elas estão aí?
- não.
- elas já fazem parte do seu olho, né?
- acho que é isso. vou conferir.

minutos depois...
- então? você tinha perdido as lentes?
- não. elas estavam aqui. é que eu já não sei como é enxergar sem elas.

profundamente

achei que tinham me abandonado essas gotas salgadas. mas nessa semana eu molhei minha felicidade com lágrimas. eu pude nadar entre elas, dar braçadas longas, passear de navio e ainda acenar pra quem estava do outro lado. pra só assim chegar na nascente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

saudade digital

é melhor não misturar. o óleo nunca vai se diluir na água. e o virtual não chegará a ser realidade. mas preciso deixar claro que sinto saudades de você escancarado nessa tela. falta das letras meladas de chocolate.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

meu time

começou. mas ainda não chegou na veia.

ontem foi o meu primeiro dia com meu time. são dez pessoas: cinco brasileiros, duas coreanas, um japonês e dois americanos. ainda não consigo ver uma unidade, nem poderia. vejo apenas perfis isolados com sapatos nos pés.

Rui, de Fortaleza (CE), 21 anos, gay, começou a estudar Relações Internacionais. os passos dele chegam antes do corpo.
Marcela, de Araras (SP), 18 anos. quer fazer cinema. só um minuto. ela estava aqui agora... passou.
Nayoung, da Córeia do Sul, 25 anos, formada em Designer têxtil. vive a esperar flores na janela.
Uliana, de Salvador (BA), 26 anos, formada em Antropologia. acho que ela pensa ser Alice.
Eduardo, do Texas (EUA), 32 anos, gay, formado em Biologia. tem um rato de estimação que ele achou aqui nos Estados Unidos. chama-se Pipin.
Valério, de Fortaleza (CE), 22 anos, formado em Relações Internacionais. estou tentando ver pela fresta de luz que ele deixou aberta quem ele é.
Kunihiko, do Japão, 21 anos, estudou Letras. não sabe dar abraços.
Shanae, de Chicago (EUA), 25 anos, formada em Sociologia. Ah! hoje é um dia lindo... amanhã? também será!
Hee Jim, da Coréia do Sul... chegará amanhã. veremos.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...