sábado, 1 de dezembro de 2012
casa comigo?
negou enquanto pôde a vontade de trocar alianças. inventou distâncias, desenhou objetivos pra além das fronteiras, pagou as próprias contas, mostrou-se independente, e quando ele chegou automaticamente desfez toda a maquiagem de mulher solteira. olhava para aquele homem e enxergava o ano seguinte, e o seguinte, e o seguinte... cada dia ela colocava uma dose maior de futuro nos dias de hoje. chegava até a entortar o pescoço só pra ver passar uma mulher com uma vida prestes a nascer em seu ventre. justo ela que não queria ser mãe do próprio filho, justo ela que dizia adotar pessoas pelo mundo afora sem precisar de uma pra chamar de sua. outro dia se viu construindo uma vida com endereço fixo nas contas de luz, debaixo do mesmo teto dele, compartilhando o mesmo edredon, com escovas de dente no mesmo banheiro. a questão é que agora que ela assumiu, a altura do prédio parece aumentar a cada dia que passa, proporcionalmente ao risco da queda. agora ela se vê subindo as escadas, e os degraus vão desaparecendo a medida que se sobe os andares. não dá mais para descer.
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