tornar-me escritora - escrevi como meta para 2025.
pressupus então haver uma passagem entre o que sou e o que virei a ser, como se algo externo precisasse me autenticar de algo interno. mas o que faria de mim escritora se eu já me sinto uma desde sempre?
há pouco tempo me autorizei férias de cursos calculados por notas. abandonei o barco de tentar me provar. quero ser sendo, escrever escrevendo. sabendo do meu sonho, conselhos multiplicam para eu fazer um curso sobre escrita. porém entendam: eu não quero aprender a escrever. eu quero escrever o meu corpo em um livro, sem precisar caber num método ou numa expectativa - esses matariam minha confusão literária.
lendo Clarice me percebo traduzida de tal forma que me aguça a possibilidade da palavra servir como encontro. leio Clarice no mesmo segundo que me leio. mas penso em Clarice e me vem uma grandeza, um Sol, um clarão, e me vejo por trás das cortinas assistindo o amarelo nascer lá fora - de mim. não é fácil sentir o Sol interno, e sei do meu vício de ficar lendo o Sol dos outros sonhando através deles os sonhos meus. como se assim pegasse carona no vento que é sonhar. ser passageira tem lá o seu conforto de não precisar ser guia e de ler no livro páginas já escritas previamente.
e o que teria do lado de lá? o que acontece quando escrevo, ao ponto de eu precisar não escrever?