segunda-feira, 8 de novembro de 2021

você é a preliminar

suas mãos tão maiores que as minhas. os dedos compridos, finos, afluentes como seu corpo. as unhas longas e arredondadas. entre os dedos, o cigarro fumando ideias vagas. você sempre gostou de vagar por aí. é com os dedos que você passeia por mim. com a ponta dos dedos. vez ou outra começa com a língua ou com a urgência da palma das mãos, como quem acumula desejos. foi assim naquela noite ao sair do elevador. eu vestida de batom vermelho, que você logo retirou sem a cerimônia das palavras ou da ponta dos dedos. teve também a outra noite quando você anunciou no carro o próximo passo, e ao chegar na sua casa, arremessou os objetos da mesa de madeira ao chão, jogou metade de mim em cima da mesa, e de costas penetrou sua vontade sem preliminares. e aliás, VOCÊ É A PRELIMINAR. o jeito de olhar sufocante, o dom de recuperar o mundo com a linguagem, a facilidade de ativar minha imaginação, a capacidade de afinar a voz no tom certo dos fios que percorrem meu corpo, o hábito de passar as mãos nos cachos libertando-os da forma, o modo de guardar fios por trás da orelha, a habilidade de acomodar infância no sorriso e decisão na paternidade, o mistério das respostas sem ponto final e sem futuro, e principalmente, a coragem de tomar banho de chuva. 

domingo, 7 de novembro de 2021

o amor está na falta?

escrever é minha forma de tocar você na letra. esses dias duvidei de nós. oito dias cheios sem saudades. o amor está na falta? seguimos como um par sem nome, e isso me venda os olhos e me escancara o corpo. liberada da forma nominal, criamos presentes desencaixados. deixamos o futuro pra depois, e vivemos a urgência de tantos agoras. você entre os cacacóis da paternidade e da desterritorialização. nossos encontros têm começo, meio e fim. esse é meu jeito de me proteger de sua partida diária, sem que parte de mim vá junto com você. eu preciso ficar (em mim).

eu até olho, mas não vejo nada

 ao olhar pra você, ainda que pondo meus olhos fixos em você, invariavelmente te perco. poderia supor que isso que evapora quando te olho é ...