suas mãos tão maiores que as minhas. os dedos compridos, finos, afluentes como seu corpo. as unhas longas e arredondadas. entre os dedos, o cigarro fumando ideias vagas. você sempre gostou de vagar por aí. é com os dedos que você passeia por mim. com a ponta dos dedos. vez ou outra começa com a língua ou com a urgência da palma das mãos, como quem acumula desejos. foi assim naquela noite ao sair do elevador. eu vestida de batom vermelho, que você logo retirou sem a cerimônia das palavras ou da ponta dos dedos. teve também a outra noite quando você anunciou no carro o próximo passo, e ao chegar na sua casa, arremessou os objetos da mesa de madeira ao chão, jogou metade de mim em cima da mesa, e de costas penetrou sua vontade sem preliminares. e aliás, VOCÊ É A PRELIMINAR. o jeito de olhar sufocante, o dom de recuperar o mundo com a linguagem, a facilidade de ativar minha imaginação, a capacidade de afinar a voz no tom certo dos fios que percorrem meu corpo, o hábito de passar as mãos nos cachos libertando-os da forma, o modo de guardar fios por trás da orelha, a habilidade de acomodar infância no sorriso e decisão na paternidade, o mistério das respostas sem ponto final e sem futuro, e principalmente, a coragem de tomar banho de chuva.
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
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eu até olho, mas não vejo nada
ao olhar pra você, ainda que pondo meus olhos fixos em você, invariavelmente te perco. poderia supor que isso que evapora quando te olho é ...
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mas pra isso é preciso desejar sincero e profundo, ao ponto da rua ser toda sem saída, sendo o ponto de chegada o mesmo ponto de partida. ca...
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foi injusto, apesar de bonito, você ter me deixado o seu cheiro embrulhado. quando abri o presente senti o seu perfume em torno da minha mol...
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