domingo, 24 de setembro de 2017
estação das flores
é tempo de flores (nas árvores, em suas raízes: de onde vieram).
agora os dias serão de pétalas, de saias longas dançando conforme os ventos de cada litoral (ainda que alguns deles sem o mar - pra mim tudo é continuidade das ondas).
a primavera vem chegando cheia de si, sem pedir licença, intrometendo poeticamente na paisagem.
e ainda bem que as estações sempre mudam!
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
eis que estou flutuando
e de repente, nesse intervalo entre a calmaria e a tempestade, fiz-me ofegante, tal era o acúmulo de sonhos. ficou difícil respirar, parar pra respirar. costurei um amontoado de retalhos de anos atrás em segundos do presente instante, e não coube, como era de esperar. não coube nem o começo da estória que eu queria contar. continuei sem fôlego, e essa falta de ar era culpa da minha mania de me preservar. houve um dia que eu achei melhor evitar essa roda gigante, essa oscilação entre o vale e o pico. achei por bem ficar no plano, naquele pedaço de mundo onde não há risco de cair, tampouco de voar. destruí cada possibilidade de poço, e cortei logo os insistentes restos de asas. segui na linha imóvel do tempo, morei alguns anos numa rede de estabilidade, e guardei meu coração na gaveta. e agora abriram meu baú (com minha autorização), e eu não consigo desviar do risco permanente de minha perigosa erupção. não dá pra fugir de mim mesma, eu tô escancarada, nunca estive tão nua, despiram-me da etiqueta, roubaram-me o bom senso, e deixaram-me com a explosiva liberdade dos ventos.
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
amanhecendo
e tudo isso que se constrói pra durar mais tempo que a gente, traz em si a própria rachadura, toda a solidez guarda em si uma fenda, e essas brechas, esses cantos que parecem defeitos, que vez ou outra são escondidos dos olhos (mas não do coração), eles carregam fontes de luz, são enfim a prova de nossa inevitável metamorfose, não é que algo se acabe, afinal não há um fim e um começo com tanta exatidão, você não encontra na linha infinita do tempo o dia em que algo se inicia, é um processo, uma continuidade, é certo que minha vida começou bem antes de mim mesma, e não na data do meu nascimento, meu corpo é tipo um museu de várias gerações, guardo na pele o jeito de sentir dos meus avós, e meus avós, daqueles que eram os seus, e que alívio ou ilusão isso de se pertencer, de não seguir por aí sem um endereço pra falar de amor, sorte é ter um teto pra escolher quando se molhar na chuva, nossa sina é essa, é não ter sina alguma, é não saber o que virá no amanhã, e aprender (quase que engatinhando) como achar o ritmo da respiração quando a onda te engolir, e ao engasgar, encontrar logo um jeito de transformar o sufoco em passagem pra esse novo mundo que sempre há de chegar.
domingo, 3 de setembro de 2017
deixa eu ver sua alma?
{procuro apenas uma alma pra poder descansar a minha, feito aconchego, com sinais de porto, e fendas permanentes de luz}
bússola interna
o mundo girando e a gente deitado na rede só observando o pôr do sol. como se a transição do dia pra noite fosse de tudo o mais importante. e depois, a gente segue com essa bússola que trazemos de berço, e abrimos a porta contornados de intuição pra ver o que mundo tem pra hoje (e só pra hoje). se engana quem pensa precisar de mapas ou roteiros com setas antecipando os caminhos. a alma sabe da sua direção, só precisa se conectar ao corpo, pra seguir o faro da pele.
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