sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

escrevo para te esquecer em palavras

acho que te deixo ir sem a suspensão do tempo enquanto você não volta. 

~ peço então que o relógio prossiga a contagem das horas ~

há um desejo que, sem nós, padece. quando viramos a esquina sem olhar pra trás enterramos nosso corpo, como se pudéssemos reaprender a viver com fome. sobre-vivemos. você é a forma mais ditatorial do mundo me dizer que só existe você pra mim - uma espécie de parada obrigatória.

seu sertão é meu mar, mas minha onda não te leva pro porto. você não descansa. corre de mim como quem foge do amor. o amor te dói. aliás, a memória que você tem do amor te dói. você nasceu sem berço, e por isso a sequência de despedidas próprias da vida não te doem mais que a primeira: embrionária. você olha para uma partida como parte da cifra musical. e pensa: "faz parte".  a dor como costume. incorporada. a possibilidade de me segurar, de me pedir para ficar, remete àquela vez que te faltaram recursos ante o abandono. 

~ você deixa a porta aberta, mas somente para as despedidas - ninguém pode entrar ~

trincados nos rebelamos à lei corpórea. delineamos razões mentais pra nossas vigas se manterem estruturantes. apegados ao medo da queda, nos cegamos para lados opostos. cambaleantes, caminhamos lentamente no meio fio. 

depois de você, desloco minha geografia. sento em outra mesa no horário de almoço. faço novas combinações com minhas roupas de sempre. junto estampas descombinadas. restando apenas tons de cinza, entristeço a vitrine. 

~ um corpo nublado ~

e escrevo... escrevo até esgotar as palavras sobre você. o término vem quando goteja a última letra. 

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