terça-feira, 28 de dezembro de 2021

temos pavor, e omitimos

há em mim um antes e um depois de você. durante é a piracema. corremos atrás de nós dois, de nossas nascentes. como na primeira e única vez que dançamos. seu corpo meio que encantado pela flauta musical. te vi perder o medo de olhos fechados. dançar tem esse quê de coragem de dar forma à canção. hipnotizada, fundi meu pulmão ao seu, nos balancei para um lado, depois para o outro. como ondas. colei nossas margens e velejamos um passo. girei em torno de você, meu sol. pedi que segurasse minha loucura, e confiante me lancei no cume do navio. atirei meu cabelo implorando por ventos invasores, que me ocuparam sem declaração de posse. meu vestido longo estampava meu corpo, velando segredos. eu e você que tanto nos desenterramos não esgotamos os mistérios. 

não temos finais, descobrimos. mas temos pavor, e omitimos. há covardia no receio de atravessar a fronteira que nos levará para o lado de lá de nós mesmos. a brisa própria da rede se confunde com portos e solos firmes. nós, movediços que somos, fingimos não ser - longe de nós. 

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