quarta-feira, 14 de outubro de 2009

um dia foi assim...

chega um tempo em que se veste o mesmo pedaço de pano por longos anos. antigamente não era assim. o sapato apertava, os dedos cresciam, a pele esticava. os bordados faziam mais sentido do que hoje, ainda que eu tente mantê-los nos tempos modernos. eu brincava de pique-esconde e acreditava mesmo que ninguém poderia me achar. eu enfrentava a chuva sem nada pra me tampar. e antigamente já existiam sombrinhas. eu pintava meus lábios com cores fortes, capazes de enganarem os olhos. as minhas bonecas conversavam comigo. e não há quem possa desmentir isso. elas me olhavam até a hora que eu me cansava delas e as guardava na caixinha de histórias de menina. na roça do vovô eu pude subir em um pé de manga. achava que eu era forte porque conseguia ficar mais alta que as pessoas lá em baixo. meu pai me levava pro mato, me deixava na terra, debaixo dela. já dei muito milho para aquelas galinha da minha avó. passava o dia a espera do lanche da tarde com hora marcada. mingau de milho verde. os mais gostosos que já comi. as vezes eu comia sem o relógio autorizar. eu adorava essas pequenas coisas proibidas. a noite todos assistiam o jornal nacional. eu deitava no colo da vovó. ela pegava os dedos e desenhava carinhos em mim. todas as noites. depois todos tinham que apagar as luzes, pra esperar o galo chamar no dia seguinte.

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