quinta-feira, 24 de junho de 2010

medo de dormir, medo de acordar

dava medo de dormir, de atravessar a realidade. evitava os sonhos velados pelos olhos fechados. tinha desejos que de tão lúcidos criavam contornos imaginários. não, lá ninguém podia entrar. qualquer interferência poderia desmanchar aquela ficção. ele tentava evitar. esticava as membranas, agitava a pele, gastava energia. mas o corpo não era dele e pedia sonhos. e então ele fechava os olhos... quando isto acontecia qualquer fresta desaparecia. não restava um fio de luz entre os muros que ultrapassavam os outros. eram instantes de invenção tão reais quanto as sementes que no outro dia se diziam flores. dava medo de acordar. aí dava mais medo de acordar do que de dormir.

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