quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
das coisas que não eram dela
sentia raiva dos cabelos que lhe escorriam lisos em torno do rosto de pele macia sem espinhas logo acima das curvas atraentes aos olhos masculinos que passeavam entre as montanhas escondidas atrás do sutiã. sentia mais raiva ainda dos passos elegantes pé após outro ziguezagueando os quadris mantendo ereta a coluna que não se curvava. sentia repulsa às palavras organizadas gramaticalmente faltando sempre um pouco mais de verdade. sentia entre muros da cultura quando cruzava as pernas pra esconder o corpo debaixo da saia feito segredo que poucos poderiam ver aguçando então o desejo pelo mistério que só se desvendava de pernas abertas. sentia a ausência de pele quando sorria ao invés de puxar os fios de cabelo entoando palavrões bem menores que a explosão que se fazia ali dentro. sentia preguiça de tanta encenação, de tantos palcos fingindo serem ruas, de tantos atores simulando realidade, sentia preguiça por se fazer mais um deles, mais um personagem de uma peça que nem o enredo era seu...
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