
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
mais Zuza do que Júlia
ela cabe dentro de mim. e isso não tem nada a ver com tamanho. a história dela comigo não tem início. lembro que já começou no meio, embolada, dando nós. o meu mundo ainda era quase aquilo que eu podia ver e ela me levou pra lua, estampada com as cores da noite. aos poucos ela me apresentava as esquinas de Belo Horizonte. foi assim, de repente, de uma lua pra outra, que Belo Horizonte se tornou gigante, maior que o Brasil. foi pelos pés dessa menina que eu vi o samba nascer em mim. é um tal de plantar e colher. acho que ela guarda nas bolsas pacotes cheios de sementinhas, e toda vez que ela me vê joga em mim várias delas sem eu perceber. ela me rega. ela me ri. ela me descobre. ela me inventa. e é importante saber: eu gosto.

praça da estação
por pouco eu não me envolvi com aquele chafariz. já tinha o visto quando cheguei, mas até então ele não fazia gestos tão atraentes quanto os que eu vi quando estava de partida. não tive escolha. escolhi parar. aquele chafariz jogava charme pra todo tipo de gente. mas não era todo tipo de gente que aceitava os seus convites. as pessoas têm medo de se molhar. eu também tive. parei onde eu pudesse ser tocada sem encharcar. tinha sabor de hortelã com pimenta. um calor com água esparramada no vento. imaginei várias possíveis realidades. realizarei uma: irei atravessar aquela transparência.
sábado, 26 de setembro de 2009
a minha versão de Gabriela
depois de tanto tempo as coisas já não são as mesmas. ocupam o mesmo espaço, mas se esparramam por corredores diferentes. ela mudou. a olho nú poderiam dizer que era a mesma, mas... era outra pra mim. são os nossos olhos que alteram tudo, até as cores! o que dirá os humores. por várias vezes, no meio das falas dela, eu me perdia em sua pintura. aos poucos voltava me agarrando nos fios castanhos-claros que emolduravam a realidade. o rosto era de verdade, mas eu só sabia concluir que era um desenho. essa menina não precisava de congelar a si mesma no tempo. ela acontecia ao vivo, na hora, uma espécie de improviso dela mesma. ela conseguia transportar para os olhos tudo que falava com o som, quase como se o que ela dissesse saísse antes dela dizer. ontem eu vi verdade através dela. ainda não sei definir o que ela era exatamente. por um tempo sentamos lado a lado nas cadeiras da sala de aula da nossa adolescência. e só. depois de tantas idas e vindas sentamos na mesma cadeira de um café. a sós. o tempo não é algo que se possa medir em segundos. eu sempre gostei de me sentir aluna de alguém. dela eu seria desde sempre. me parece que essa menina sabe amar. sabe o que é isso que a gente pensa que também sabe. por isso eu queria que o tempo pudesse ser medido por segundos. eu logo daria um jeito de colocar vários deles entre eu e ela. mas há tantas outras coisas. ela sabe disso.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009
pelas janelas de um ônibus
pelas janelas de um avião se vê poucas cores e poucas coisas. nem mesmo quem tem asas voa até lá. mas pela janela de um ônibus se pode ver o verbo acontecendo. os prédios subindo e descendo, até tocarem o chão. a chuva molhando e as sombrinhas se esticando o tanto que podem pra manterem secos os pedaços de gente debaixo delas. a mulher atravessando a avenida com o sinal verde pra pegar o ônibus de volta pra casa. a praça imóvel, sempre no mesmo lugar, com pessoas diferentes. é por isso que praça cada dia tem uma cara. tem também as janelas que se abrem pra dentro do ônibus. no banco da frente um casal de namorados saindo pra se conhecerem por um ângulo pouco experimentado, para o mesmo restaurante de sempre, mas com vontades diferentes dos dias de sempre. a rotina é desconhecida também. entre os que pagam e os que não pagam o trocador. ele já conhece algumas pessoas que vão e vem. ele fica, mas quando chega a sua hora também vai. nada realmente fica. lá na esquina a esquerda o motorista. ele leva gente que nem sabe o nome dele. diariamente conduz as pessoas até os objetivos do outro lado que o pé não alcança. ele é a ponte entre vários mundos. atrás do motorista eu já vi vários senhores com cabelos brancos transformarem o passeio em turismo. estão sempre lá, não descem, gostam das janelas. e aí sobe um cara se movendo a partir das rodas de uma cadeira. não há quem não olhe. não há quem não ame o ir e vir dos músculos. mas depois passa. é normal o ir e vir dos músculos. o problema é que ônibus sempre corre, pelo menos mais do que eu. aí chego no meu ponto, tenho que descer e deixar lá dentro todas essas janelas.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
espelho sem reflexo
o desejo que ele tinha dá saudades daquela liberdade de não precisar ser nada além de eu mesma. acho que espelho serve pra gente ajeitar o corpo de uma forma que agrade os olhos. e se começassemos a nos arrumar de acordo com as vontades da pele?
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
meses que virão
eu não imaginava que depois de agosto pudesse vir setembro. e pensar que ainda tem outubro, pra em seguida abrir novembro e fechar com dezembro. delícia!
domingo, 20 de setembro de 2009
tanto faz o dia, basta apenas que seja dia
tenho vontade de criar meus aniversários sem datas marcadas. deixou de fazer sentido tantos abraços em um único dia. e já que o tempo passa posso dizer que já não comemoro mais como antigamente. faria sim uma festa em um dia sem títulos, sem a falsa cobrança de ser tantas coisas entre as meia-noites. é que não dá pra agendar os meus sentimentos. não dá pra amar assim, de uma vez só, numa data com tantos parabéns.
água e óleo
o homem não consegue deixar trincar o próprio espelho. sai pro mundo e acaba abrindo portas com os mesmos segredos das suas. lá fora cria espaços no meio de tantas ruas cheias de gente. fecha-se ali um universo, particular. busca-se um reflexo com os mesmos tons de panos e sorrisos. paga-se pra não esbarrar com o desconhecido. fecha-se. na rua o homem se faz passageiro, com quatro rodas. já não sabe dos buracos das avenidas, nem das casas sem parades. vive dentro de quadrados. sorte que toda casa tem janela, pena que poucos abrem as cortinas.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
entre os dedos de uma mão
dá vontade de pegar esse seu caderno em branco e escrever em todas as linhas possíveis dele. até naquelas transversais, que saem das páginas e chegam nos seus ouvidos. dá vontade de arrombar a porta do seu quarto de madrugada e te arrancar qualquer silêncio que você insista em fazer. mas eu não tenho coragem. e eu falo pra todo mundo que eu tenho. e ainda há quem acredite no que eu falo. um dia vão descobrir que a gente é bem mais a nudez do que todas os panos escondidos no guarda-roupa. até eles desvendarem isso eu vou fingindo a ausência de máscaras. mas eu juro que não acredito que eles não percebam a minha excessiva interpretação. é um tal de nascer e morrer. nada fica, nada vai. tudo escorre.
já não há volta
mesmo assim faltava ar. mesmo sabendo de todo o sangue correndo pelas varandas de si mesma. faltava ar porque dentro do seu mundo não cabia ela mesma. tinha vontade de abrir os braços e não havia espaço se quer dentro do próprio quarto. corria desesperadamente para o mundo, e ainda assim já não era a mesma coisa. tudo volta, tudo bem. mas nada volta intacto. a saudade de um tempo com ponto final trazia toda a angústia necessária para ela viver desde já a nostagia dos velhos tempos.
sábado, 12 de setembro de 2009
de uma felicidade
entrei, discretamente, como se não entrasse dentro de mim. as varandas se comunicavam com as ruas usando cordas firmes, o ar corria com mais velocidade pra dentro do pulmão numa tentativa de garantir a quantidade necessária pra uma menina que muito transpirava por inspirar qualquer tipo de cheiro, havia sangue por toda parte provando que a vida corria por todo canto daquele corpo e tudo se movia com as batidas vindas de um único coração. não havia nada solto, nem um olhar, nem um arrepio sem sentido. era felicidade. se me perguntassem é isso que eu diria.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
resumo de tudo:
"uma pessoa fisicamente forte, é fraca ao usar sua força contra outra pessoa. uma pessoa fisicamente fraca, é forte ao usar sua delicadeza com inteligência."
terça-feira, 8 de setembro de 2009
idade
depois de tanto tempo se volta ao começo. o que é velho fica novo e que é novo vai ficando velho. chegou a minha vez de carregar os meus pais no colo.
desde sempre
nos primeiros segundos de consciência ela já escolhia a direção contrária. não porque tinha necessidade do oposto, mas porque era torta mesmo. quando criança brincava de argila nas tardes da escola. os pedaços dela nunca se transformavam em realidade, ela não alcançava uma forma. moldava histórias que só ela conhecia. desde pequena já vivia em um mundo bem particular. e cresceu assim. com montes de argila não dizendo nada lá fora, mas escandalizando lá dentro. ela não achava que o correr do tempo poderia lhe cobrar qualquer imposto. ela se quer percebia a diferença dos dias. achava que era quase recém-nascida, ainda que tivesse rochas debaixo dos pés. não se reconhecia no corpo que tinha e falsficava a falta de compreensão com sorrisos de olhos infantis. dessa forma ela girava e fazia tremer as coisas que ficavam. tentava deixar tudo intacto, tornar sua saída imperceptível, natural. mas causava ventania, e a cada abrir das portas sentia receio de que fosse o último dos dias. mas ia. não voltava. chorava... mas ela sempre achou bonito o corpo se lavando. naquele ninho ela era uma estranha. ela não via a hora de encontrar o seu planeta.
sábado, 5 de setembro de 2009
tudo passa, até a dor
aí você descobre que uma dor pode ser bem grande, mas que você pode ser maior ainda. então você passa a se esticar, a alcançar o mundo com a palma das mãos, até se tornar gigante. e tudo começar a parecer pequeno quando se enxerga com os olhos de altura exagerada. você vê as coisas desaparecendo como se sua janela fosse sempre a de um avião. você se mantêm no ar. não sai de lá. nem mesmo com a dor. "tenho mesmo asas", você conclui.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
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