quinta-feira, 24 de setembro de 2009

pelas janelas de um ônibus

pelas janelas de um avião se vê poucas cores e poucas coisas. nem mesmo quem tem asas voa até lá. mas pela janela de um ônibus se pode ver o verbo acontecendo. os prédios subindo e descendo, até tocarem o chão. a chuva molhando e as sombrinhas se esticando o tanto que podem pra manterem secos os pedaços de gente debaixo delas. a mulher atravessando a avenida com o sinal verde pra pegar o ônibus de volta pra casa. a praça imóvel, sempre no mesmo lugar, com pessoas diferentes. é por isso que praça cada dia tem uma cara. tem também as janelas que se abrem pra dentro do ônibus. no banco da frente um casal de namorados saindo pra se conhecerem por um ângulo pouco experimentado, para o mesmo restaurante de sempre, mas com vontades diferentes dos dias de sempre. a rotina é desconhecida também. entre os que pagam e os que não pagam o trocador. ele já conhece algumas pessoas que vão e vem. ele fica, mas quando chega a sua hora também vai. nada realmente fica. lá na esquina a esquerda o motorista. ele leva gente que nem sabe o nome dele. diariamente conduz as pessoas até os objetivos do outro lado que o pé não alcança. ele é a ponte entre vários mundos. atrás do motorista eu já vi vários senhores com cabelos brancos transformarem o passeio em turismo. estão sempre lá, não descem, gostam das janelas. e aí sobe um cara se movendo a partir das rodas de uma cadeira. não há quem não olhe. não há quem não ame o ir e vir dos músculos. mas depois passa. é normal o ir e vir dos músculos. o problema é que ônibus sempre corre, pelo menos mais do que eu. aí chego no meu ponto, tenho que descer e deixar lá dentro todas essas janelas.

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