quinta-feira, 22 de abril de 2010

resgate dos poros

é que toda vez que se termina imediatamente se começa. não há um fim das coisas. não sei como não me dei conta de mim mesma antes. eu estava ali me dividindo, me afastando do que eu era pra ser algo pra ele. não tem que ser assim. e aí, de repente, você se olha, não a partir de um espelho, mas a partir da pele. você está ali ainda. incrivelmente ali. desespero. lágrimas conclusivas de que você ainda está ali. e foi quando me dei conta da minha própria existência que ele deixou de existir. ele era tão pouco, era tão dele, que não poderia ser de ninguém. sei que não há posse quando se fala de gente, mas sei também que hoje já não sou minha. pertenço a qualquer coração que me deixe morar lá dentro. eu moro em tantas casas... que me falta o meu próprio lar. e é assim que deve ser, pra que de fato se possa ser. talvez um dia ele perceba o quanto ser apenas de si mesmo é pouco. ele não soube se doar, nem pra mim que estava com as mãos tão estendidas. havia muitos muros em torno dele, uma concretude que o pausava num instante só dele. perdia-se o outro, perdia-se a passagem. eu não o alcançava... e olha que ele estava bem na minha frente. isso eu já havia descoberto: distância tem pouco a ver com a física e com o alcance das retinas. a distância está naquilo que o coração consegue enxergar. o coração dele me pareceu cego. um coração que não cabe outro alguém só pode ser cego. foi por isso que não olhei pra trás. foi por isso que o deixei lá atrás. foi pra me deixar descalça novamente, com os pés beijando a terra viva que há em mim.

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