domingo, 29 de abril de 2012
contador de histórias
enquanto seus fios se enrolavam em torno dos cachos, você se desenrolava nas histórias de outrora. com pausas ritmadas, você dava tempo do corpo voltar lá atrás e sentir a experiência outra vez. contava os dias de ontem com detalhes de quem usa lupas no lugar de lentes. você realçava os contornos de simplicidade da caminhada cotidiana. nenhum dia era como um dia qualquer. você não permitia. e não era porque a sua estrada era povoada, era a sua pele que se fazia extensão dos outros. ouvindo você dava pra entrar dentro da história, correndo sérios riscos de confundir a história contada com a história vivida.
sutilezas
não era tanto o lugar, mas o cheiro.
não era tanto o endereço, mas as pessoas.
não era tanto a pintura, mas a moldura.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
cheiro embrulhado
foi injusto, apesar de bonito, você ter me deixado o seu cheiro embrulhado. quando abri o presente senti o seu perfume em torno da minha moldura, você se concretizava bem ali, a olhos nús, eu te abraçava nas mínimas possibilidades de realidade. cheiro não é presente que se deixa pra qualquer um, principalmente quando não resta nenhuma fresta pra qualquer dois.
domingo, 22 de abril de 2012
histórias possíveis
entre tantas histórias possíveis era difícil escolher uma pela aparência que lhe vestia, de longe todas surgiam atraentes, pois contadas por meio de palavras selecionadas surgiam por detrás dos palcos feito realidade, mas tais mentiras já não me convenciam, e o beijo parecia pretexto pra dar conta do personagem.
corda arrebentada
desde que soltei a corda, descobri que na verdade eu a havia amarrado em mim e já não existia vontade de segurá-la. ficara então presa como se fosse desejo, mas era mesmo contorno de insegurança e grades fora de contexto.
terça-feira, 17 de abril de 2012
médica e paciente de mim mesma
carreguei-me no colo com toda a delicadeza que me cabia, abracei-me inteira, cuidei de mim até a noite alcançar o sono e assim por diante, respeitei-me em cada vão momento, em cada dor que corria dos olhos, ouvi lamentação por lamentação, dediquei-me exclusivamente a me dar todo o carinho necessário, fui paciente de mim mesma, só tenho a agradecer a mim por todo o companheirismo e compreensão neste momento.
domingo, 15 de abril de 2012
ausência dele
as vezes a ausência dele me dói tanto que não consigo segurar meu coração, ele me escapa entre os dedos, e se desfaz em tantos pedaços espalhados pelo chão que demorariam vidas inteiras pra cicatrizar.
sábado, 14 de abril de 2012
você por mim
eu te entendo tanto meu bem, a nossa história não foge da gente, não adianta tentar seguir sem ajustar o relógio aos passos seus, a nossa infância sobrevive até depois da chegada das rugas, a gente não esquece, nem poderia, sei que é assim com você também, sei que você criou armas pra deixar a paisagem um pouco mais bonita, quanta ilusão, bastaria a primeira lágrima pra desmanchar toda esta pintura, você se defende tanto, que se defende de si mesmo, dos próprios medos tão desconhecidos, você não se enfrenta, porque sabe que há poeira demais escondida ao longos dos seus 20 e poucos anos, aceitar a estação seja ela qual for não é sinônimo de saber viver, assim você se perde, deixa de ser autor, pra ser personagem, aí você corre, frenético, impede qualquer segundo de silêncio aumentando o som da música que fala por você, você acelera pra não deixar sobressair a sua desmedida ausência, você quer estar nos quatro cantos do mundo, mas de fato não está se quer em nenhuma esquina, você não existe, apesar do corpo latente, você não sente a vida a partir dos poros, sua pele se transformou em escudo, e você vomita qualquer possibilidade de desconforto, embriaga-se, é mais fácil assim, eu te entendo tanto, desde a nossa primeira conversa eu soube, falatvam sonhos nas suas palavras, você aceitou a estrada já construída, e não quis suar o corpo pra construir a sua.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
30 dias depois
o amor não termina quando o casal se desfaz (ainda bem), o fim do namoro não acaba tampouco com as relações (alívio), é que as vezes as casas, antes construídas pra dois, podem parecer abandonadas, mas na verdade elas estão em reforma (conclusão).
segunda-feira, 9 de abril de 2012
natureza emprestada
daqui de baixo parece que a Lua cabe na palma da minha mão, as vezes o céu surge tão perto dos olhos que chego a tentar catar estrelas pra guardar no teto do meu quarto, quando o Sol nasce preenchendo o dia com cores mais vivas que a realidade eu procuro seus pincéis pra tentar pegar ao menos um pra pintar a minha estrada, e quando as flores saem pra dançar e exibem descaradamente toda a beleza do mundo em pétalas, eu me pego desabrochando toda a minha primavera, fico assim, pegando emprestada a natureza só pra ver transformar a semente nos dias fertéis de amanhã.
sábado, 7 de abril de 2012
tons da primavera
terça-feira, 3 de abril de 2012
alívio imediato
aos poucos fui quebrando tijolo por tijolo, fui abrindo os caminhos, deixando as estradas mais largas, ao ponto de não saber onde é mesmo que se começa e se existe mesmo um lugar onde se termina, deixei o trem passar quantas vezes fosse necessário, até dar vontade de entrar no primeiro vagão e descer na primeira janela avistada, aos poucos consegui deixar o tempo fluir entre o meio-fio que me conduzia invariavelmente para aquela direção, quando senti meu corpo vestido de vento descobri-me inteira, sem faltar qualquer pedaço, no fundo eu sabia que o passar dos dias me traria alívio imediato.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
quem sabe numa próxima colheita?
apesar de madura o suficiente, o tempo da fruta não era o mesmo tempo que o meu.
domingo, 1 de abril de 2012
é tempo de travessia
neste momento de ponte quebrada, antes da passagem pro lado de lá, a gente reage instantaneamente tentando reconstruir e elo, é difícil reconhecer outros caminhos, mesmo existindo muitos deles, a gente insiste na mesma direção, porque depois de um tempo começamos a acreditar que aquele trajeto é único, e que nele residem todas as bonitezas possíveis, mas quando a gente se vê diante de uma ponte não reerguida, começa a caminhar em torno de si mesmo, a gente se torna evidente, o reflexo no espelho causa estranhamento, é que a gente se espalha em demasia no outro, e quando acontece a separação a gente se vê recuperando os detalhes deixados pra trás, cada fim de estrada nos recompõe de maneira diferente, e agora, passados esses dias em que o relógio correu mais devagar, eu me vejo diante de mim mesma, me abraço com toda a delicadeza que me convêm, me curo da dor concretizada pelo corpo, é o momento da travessia, pra dentro de mim mesma.

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