quarta-feira, 29 de setembro de 2010
infância com gosto de roça
o fechar da janela do quarto fazia ranger a madeira de anos atrás. os móveis denunciavam que o tempo existia por ali, sem a menor tentativa de escondê-lo. lembro que no quarto que eu chamava de meu continha apenas o necessário pra fechar os olhos até o dia seguinte, e o restante das coisas ficavam lá fora, espalhadas por entre outros tantos espaços. ali se cumpria o ciclo da semente que se plantava, do milho que se colhia e do mingau que convidava todos ao redor da mesa. o leite que se fervia nas manhãs era tirado das vacas que amanheciam um pouco antes da gente. aquela casa parecia ser feita de café, tal era o cheiro que se exalava pela boca da chaleira. as mesas eram decoradas pelas mãos de minha avó, que tricotava a vida com o ir e vir das agulhas. nos instantes em que o céu deixava o dia pra ganhar a noite nós íamos pra varanda e de lá eu tinha a sensação de poder ver muito além das montanhas que tocavam as nuvens. naquela época, não tão distante, eu enxergava tantos caminhos pelos troncos, que as árvores não pareciam tão grandes como as que vejo hoje. a terra que suportava o mundo também suportava meu corpo, e não só os pés, mas toda a minha pele se cobria daquele marrom. é mesmo uma pena que hoje só me reste lembrar de tempos assim...
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