quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

já entorna demais

se houvesse eternidade faltaria a vontade. não teria a loucura atravessando oceanos a nado. o pulso rasgando a pele que fez-se espaço comprimido para as batidas. não haveria malas prontas em uma hora correndo atrás do ônibus que acabou de partir. os textos seriam menos coloridos. foi pra salvar as lágrimas e as bochechas vermelhas que então criou-se a morte. foi pra gente entender que em um dia acontece uma vida inteira. pra fazermos do rosto um quadro vivo de emoções. mas aí, no meio de tantos possíveis caminhos alguém simplesmente nos interrompe pra dizer que há pouco tempo pela frente e que por isso é melhor manter os flashes. acho que muita gente segue os relógios regados a bateria. essa gente não tem relógio dentro de si. não percebe o quanto poucos minutos são maiores que muitos anos. e isso sufoca-me, como se me amarrasem de costas para o mundo, costurassem a minha boca e furassem meus olhos. é pior que perder os sentidos. é ter tudo tão vivo aqui dentro e ser obrigada a permanecer do lado de dentro. justo eu que coloco minha cabeça pra fora da janela todos os dias. é um exagero! sou mesmo um exagero!

4 comentários:

  1. débora, o esquema de vc responder no próprio blog é uma estratégia para a gente sempre ter que voltar aqui para ver sua carinha pra fora? rs. dá certo!
    p.s.: vc não tinha só franja, era franja com trança. são detalhes ou exageros que gritam.
    vc hj pode estar careca e com músculos, não importa, algo de franja com trança, escorrega nas palavras "lágrimas e bochechas vermelhas" em meio a um texto tão forte.

    "Pude vê-la sentada na cadeira de balanço, absolutamente só e perdida nos seus devaneios cinzentos, destecendo desde cedo a renda trabalhada a vida inteira... E, vendo o pente de cabeça em sua majestosa simplicidade no apanhado do seu coque, eu senti por um momento que ele valia por um livro de história..."

    valeu por responder, bjo.

    ResponderExcluir
  2. Eu também sou exageradíssima... amo superlativos... acho que eles zelam por algum tipo de eternidade no mundo das palavras... ; )

    ResponderExcluir
  3. entao tu nao acredita em eternidade?

    ResponderExcluir
  4. Mari, respondo porque sei que palavras valem muito. respondo pra não deixar que o vento as sopre pra longe de mim...
    e lendo você fica óbvia a sua sensibilidade pra enxergar além da moldura. você sabe que apesar de uma franja ser apenas uma franja, ela diz muita coisa. lindo!

    Rebeca, eu e você não cabemos dentro de nenhum copo. a gente sempre vai entornar. por isso a falta. por isso as sobras. e por isso tantos suspiros. e é assim que a gente torna eterna as palavras que saem da gente feito furacão de sentimentos. eu e você sempre estamos a pular de alturas que levam a morte, e por isso mesmo somos assim tão cheias de olhos e versos.

    e quanto a eternidade... eu acredito sim! em uma eternidade com divisões, conhecidas como mortes. de vidas se comunicam, além dos corpos. de águas que secaram, mas ainda molham. assim mesmo. eterno. feito o gosto de amora que não sai de mim.

    ResponderExcluir

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...