sábado, 13 de fevereiro de 2010

naquele tempo

naquele tempo Clarice não desejava nada além do que já tinha, nada que fosse sólido. desejava muito os sentimentos, as buscas, as mãos. não faz tanto tempo assim, mas parece praticamente impossível voltar. naquele tempo Clarice não via teto, nem temperos. todas as coisas eram seguras e cheias de sabor. ela havia encontrado um lugar desses que existem em todas as esquinas. onde tudo se explica com as petálas de uma flor. além das petálas restam poucas coisas. está tudo lá, detalhadamente organizado. e ela sabia ler. muito mais do que palavras escritas em pedaços de papel. ela sabia ler as pessoas, o vermelho da terra, o calor do bom dia, o suor de uma gota d´água, ela sabia ler as flores. e isso a tornava a maior das escritoras. sem essa ambição de grandeza. era a maior não por subir um degrau a mais. ela era maior em comparação a ela mesma. não tinha como ninguém ser como ela, porque ela era uma e o outro era um. cada um grande em si mesmo. a diferença é que ela se reconhecia dentro do próprio infinito e não tinha pudor algum em usar o par de asas que ganhara no seu último nascimento. gente como ela nascia e morria várias vezes em uma vida só.

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