estranho que lá fora não exista ninguém. está tudo tão calmo. nem ao menos ouço os tantos sons à quilômetros de distância. a gente não alcança nada muito longe. não com o corpo. hoje não usei roupa, a não ser pra ver alguém. enquanto estava entre as paredes sem graça de tão brancas eu me despia, não só das roupas. vesti apenas uma taça com um vinho suave, cor de ouro. era doce o suficiente pra me deixar amarga, pra me fazer sentar e escrever até o talo. até ser necessário abrir um buraco pra deixar a corrente entrar.
gosto destes dias meus. meus. meus. de cobertor em pleno verão. a pele quer pele e na falta de pele abraça um pedaço de calor. deitada na cama feita para dois eu estiquei o meu corpo até me transformar em dois. não consegui. fui sempre uma, mesmo quando eramos dois. mas esticava até não caber nenhum outro um. dormia e acordava para dormir em seguida. um sono para ver o tempo passar sem relógio. não quis ver ninguém. ele também não quis me ver. quando ele quer ele me faz convites que eu aceito antes mesmo dele perguntar.
tive que prender meu cabelo e o meu desespero. tudo num único laço. a cada vez que eu passava em frente ao meu reflexo eu olhava para o espelho. e gostava. bonito isso de ter um corpo seu, uma pele bonita, sensível. pele que sente até mesmo sem um toque. o vinho cor de ouro começa a me fazer suar. sai pelos meus poros a promessa de uma noite de estrelas no chão. há muitas promessas ainda a cumprir. ainda há tempo. então não faz mal que sejam muitas. ainda há uma vida inteira, a minha e a dele.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
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