entre eles, a matéria. antes do abraço, o presente embrulhado. para a festa, a maquiagem. de uma foto, o manequim. entre as paredes, a beleza. diante do espelho, a incerteza.
faz tempo, e não me pergunte quanto tempo, que eles esqueceram do coração. desconhecem a razão pela qual um pé segue após o outro. apenas seguem. deixaram de querer saber das razões. já não importa. é porquê demais. melhor que siga. rápido. agora. tem que ser agora. mesmo que não saiam do lugar. mesmo que correndo, acelerando, eles já não consigam dar um passo.
as casas estão entupidas.
eles querem morar dentro das casas. pode? dentro destas caixinhas miúdas que escondem o mundo. eles querem design, tecnologia, conforto. querem um lugar onde possam chamar de seu. onde possam empilhar desejos em forma de móveis. querem empacotar-se. dia após dia. tudo fica velho, tudo ultrapassa a si mesmo. eles precisam acompanhar o ritmo. já não se pertencem. a velocidade não é deles. estão sempre atrasados, sempre incompreendidos, sempre insatisfeitos. e a casa lá. limpa, impecável. a casa é o retrato que eles podem produzir. mas... não podem se confundir. há espelhos demais nas casas. acontece que nos tempos atuais nem mesmo os espelhos são sinceros...
domingo, 9 de maio de 2010
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