domingo, 10 de janeiro de 2010

o tempo corre nas veias dele

o tempo não é invenção. poderia até viver sem calendário e sem relógio. sem data, sem ponteiros. e ainda assim saberia do meu tempo. ele vem pela pele, pelo rosto, pelos olhos, pelos passos. não me parece normal imaginar que um dia minhas mãos cabiam dentro de outras. eu vejo o tempo correndo pelos passos do meu pai. ele está envelhecendo e as vezes essa velhice me dá medo. medo de não dar tempo de fazer com ele todas as coisas que eu quero. hoje levei meus dedos para passear entre os fios de cabelo dele. vi que ele está ficando careca e que muitos fios estão brancos, mas cheios de cor. a pele dele já tem marcas das curvas mais percorridas. os olhos já não são independentes. eles precisam de lentes pra enxergar o vento. a memória já está quase lotada, sem espaço pra lembrar dos detalhes dos dias que vem e vão. e mesmo com todas essas páginas viradas ele continua o mesmo pai que me carregou no colo. ele já passa dos 50... e eu com metade da vida dele queria que fossemos um só, pra que nem eu nem ele tivessemos que ver a partida um do outro.

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