sábado, 9 de janeiro de 2010
quando me falta eu mesma
ele ainda tem o mesmo nome, ainda sorri com os mesmos dentes, ainda usa a mesma cor de sapato, ainda olha para os mesmos cantos, ainda conversa do mesmo jeito, ainda é o mesmo... eu que pensava ser pessoa corajosa me vi com medo até de olhar. não queria perder aquilo que eu já nem tinha. queria guardar pra sempre toda aquela ausência. tive medo de enfrentar os olhos dele. como tive medo... não soube encará-lo, porque era o mesmo que encarar a mim mesma. nele estão tantas coisas minhas, que eu já nem sei resgatar. ficam lá, presas, enjauladas. quando ele se aproximou eu esqueci que sabia falar. fiquei muda, como se o silêncio pudesse dizer todas as coisas. mas silêncio não diz e muito menos disse o que eu queria. e desta vez não sei se resta futuro, nem passado. não sei onde é que foi parar as coisas nossas, o nosso tempo. já não sei aonde procurar... já não há lugar que eu não tenha remexido. não há uma pedra se quer no mesmo espaço. e por mais que sejamos os mesmos há uma grande diferença entre aquilo que fomos e aquilos que somos. ele já não sou eu, ele já não me carrega. me esqueceu por aí faz tempo e não sabe lembrar. a questão é, não é ele, mas você. todos sabem quem é você. eu não preciso fingir, nem chamá-lo de ele. e que você saiba: eu fiquei a noite toda a espera da sua despedida, daqueles poucos segundos em que você se encostava em mim, em que o meu e o seu olho eram um só. assim despedimos de não sei o quê exatamente, porque não havia nada para deixar pra trás... você já havia abandonado cada detalhe pelas esquinas... sem deixar nenhuma migalha para que eu pudesse encontrar o caminho de volta.
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