terça-feira, 29 de julho de 2008

Eu poderia manter meus olhos abertos por toda uma noite só pra garantir um sonho seu...

quinta série

Lembro daquela menina de calças largas. As blusas eram longas, chegavam até a coxa. Mas de nada adiantava, era impossível esconder as curvas tão perfeitas. Os cabelos lisos viviam amarrados. E ela não fazia se quer um rabo de cavalo. Desajeitadamente prendia com uma gominha qualquer os fios despenteados. Não coloria os lábios. Usava duas pulseiras pretas no braço direito. Tinha dois furos na orelha e usava sempre o mesmo brinco de bolinha prateada. O tênis tinha um furo na ponta. Era pra ser branco, mas via-se cinza. Ela não gostava de usar outro tênis, então preferia chegar quase na cor preta para só então voltar a ver o branco. As amigas dela eram patricinhas, cheias de tintas. Mas ela se destacava. Era linda. O nariz delicadamente desenhado dava o tom de porcelana ao rosto. Os olhos eram pequenos, bem próximos um do outro. A boca tinha formato de beijo. E o sorriso... era dono de uma boa gargalhada. Essa menina encostava toda a sola dos pés no chão. Esbanjava segurança. Na sala de aula levantava o dedo pra fazer qualquer pergunta. Eu ficava olhando, admirada. E pensava: ah se ela soltasse o cabelo e colacasse uma blusa branca bem colada... só agora eu vejo quanta beleza havia naquelas roupas soltas.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

um FELIZ aniversário

Tia Maria,

Promessa cumprida. Ontem foi um dia feliz. Eu decidi que deixaria o dia crescer. Quanta alegria eu encontro nas pessoas. Isto me fez lembrar de uma professora de literatura da época de colégio. Ela dizia que as pessoas nunca poderiam dar a ela o que os livros davam. Que ela era feliz ali, quando folheava as páginas impressas daquelas estórias. A senti tão vazia ontem e em tantos outros dias... quis poder levar a ela um pouquinho mais de “gente”.

Eu fiz poucos e bons amigos aqui. Ontem nós fomos almoçar em uma pizzaria e eu ganhei presentes muito especiais. Três cds dos anos 80 que ainda estou aguardando o pedido dos meus pés para ouví-los. Uma camisola de oncinha. Estrelas e borboletas pra colar no teto do meu futuro quarto. Um caderno pra eu escrever suspiros. Um perfume pra exalar por aí. E uma vela pra acender minhas noites escuras. Eu podia enxergar tantas embalagens desfeitas ali na minha frente. É que meus amigos já não têm embrulhos. Eu posso ver por dentro das caixinhas coloridas. E é tão bom descobrí-los. Eu adoro ver os humores de cada um.

À noite a música roubou nossos passos. Nos intervalos eu recebia abraços tão apertados. Vinham do Brasil esses laços eternos. Desabafamos a partir de gritos, interpretamos o som e falamos de amor. Aqui as noites sempre terminam falando de amor...
"você fala que não tem coragem, mas é o que mais gosta de fazer... interromper em um momento importante, pra poder deixar uma marca bem grande"

domingo, 27 de julho de 2008

sábado, 26 de julho de 2008

lá em cima

- temos limites?
- nem o céu é nosso limite
- então vou dançar valsa com os deuses e casar com você no céu. dançaremos sobre as nuvens e festejaremos na lua....

amanhã...

Sonhei que chegava perto do fim do meu aniversário. Eu estava deitada num sofá e não pude segurar: me cobri de lágrimas. Tempestade! Me deixa aflita isso de datas marcadas. Resumo de todo um livro em 24 horas. Fico sem lugar pra colocar as mãos e todo meu corpo. Ter que parar e receber tanto num único dia... as pessoas acumulando sentimentos. Dá vontade de correr quando penso nos espaços entre os abraços. Na falta de certos olhares. Os únicos que eu esperava.

Lembro como se fosse hoje. Num destes aniversários tristes eu sai de casa e desliguei o celular. Tentei fingir ser um dia normal. Tentava assim matar qualquer expectativa de uma declaração explícita. Entrei na sala de cinema e me entreguei para aquela história que não era a minha. Foi a única vez que assisti dois filmes no cinema num único dia.

E pra chegar amanhã faltam horas... nem mais um dia. Mas desta vez eu prometi que seria feliz. Tia Maria, farei das próximas velinhas um furacão de pedidos e sensações.

de bandeja

Me esparramei numa bela mesa de jantar, abraçada por um veludo azul-bonina. Coloquei-me bem ao centro pra destacar. Ao meu lado vinho tinto. Doce. Vim pra ficar de bandeja pra quem quisesse me levar. Eu iria com quem me desse a mão. No começo, sem dias seguintes, eu nem reiventava o futuro. Mas agora com tantas fitas de amarrar presentes sinto-me perdida entre tantas camas. Amanhã queria nascer João, abster dos meus desejos e apenas receber, seguindo os passos a minha frente. Mas esquecer minhas vontades parece impossível, porque elas estão aí... estampadas, escrachadas, indiscretas. Fazem de mim escrava... hoje mesmo colei estrelas no quarto de Eduardo. Eu sei! Eu também falei de planetas. Por favor, não me cobrem postura. Desmancho fácil demais.

Sinto cheiro de mentira quando falo que estou a me recriar. Na verdade são os novos acontecimentos que causam novas reações. E se você analisar bem não há nada de novo, há apenas aquilo que você já era sobre um novo ângulo. É. Estou usando óculos diferentes agora. Desfazendo a falsa cegueira. Assim eu posso cavar mais fundo o buraco. Você também poderia apagar tudo isso que escrevi... porque tem horas que acredito que a gente se quer existe. Penso que criamos molduras demais... e que se começarmos a desfazer as embalagens restarão apenas nós mesmos, a nossa desconhecida semelhante natureza. Queria eu poder ser o que não tivesse pensado ser. Apenas para ser eu mesma.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

ladrão de mim mesma

"não me preocupo que seja forte, porque é sincero dizer: Te amo! eu sigo teus passos sem compassos, só pelo prazer de estar do teu lado"

quarta-feira, 23 de julho de 2008

sobre borboletas

existe poesia nesse mundo virtual. posso afrimar isso quando sílabas cuspidas em páginas coletivas se juntam pra me confundir e entopem minha respiraçao. Vi este texto no blog Dele e por acaso totalmente pensado passeio por lá sempre que meu corpo muda as fases. a poesia atravessando os olhos, quem diria! e eu me entreguei quando o vi descrevendo a tal borboleta dos meus vôos. a mesma borboleta. eu sei...

"A BORBOLETA simboliza a alma, o renascimento e a imortalidade.

A metamorfose de seu ovo para lagarta e depois para crisálida e borboleta indica as etapas da alma para a iluminação.

No Japão, a borboleta está associada à mulher. Duas borboletas significam felicidade a dois.
Uma crença popular da Antiguidade greco-romana dava à alma que deixa o corpo, a forma de uma borboleta.

Nos afrescos de Pompéia, Psique é representada como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta. Entre os astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da boca agonizante.

Uma borboleta brincando entre flores representa a alma de um guerreiro caído nos campos de batalha. Os guerreiros mortos acompanhavam o Sol até o meio-dia; em seguida, eles desciam de volta a terra sob a forma de borboletas.

No mundo sino-vietnamita, a borboleta simboliza a longevidade e também o outono.

Um outro simbolismo da borboleta é baseado na sua metamorfose e vontade de mudança: o casulo é o ovo que contém a potencialidade do ser; sair do ovo é como renascer para a vida.

A MUDANÇA… O poder da borboleta é como o ar, é a habilidade de conhecer a mente e de mudá-la, é a arte da transformação… A gente deve observar a nossa posição na vida e, como a borboleta, nós sempre estamos em algum estágio."

retirado do blog http://palavraguda.wordpress.com/

domingo, 20 de julho de 2008

tarde minha

Reservei minha tarde pra mim. Acho engraçado ver os anos passando e eu continuar a ouvir Sandy e Júnior. Não aprendi a escrever cartas de amor por e-mail. Uso papéis de carta, os mesmos que trocava quando era pequena. Enfeitar meu cabelo me traz tantas dúvidas... ainda fico horas olhando apenas a mão dele. Fico vermelha quando me olham demais. Minha pele esquenta quando ele passa a ponta do dedo no meu rosto. Amo cor-de-rosa. Me sinto Alice quando corto franja. Vou deixá-la crescer porque também gosto de passar minhas mãos entre os fios e espalhá-los. É incrível. Eu falo do sol, da lua, das estrelas, das árvores... eu paro pra olhar a lua laranja à noite. Tenho medo de crescer. De não sentir vontade de recortar imagens de revista pra falar com você. Tenho pavor de não colorir minhas roupas, de pensar que bolinhas não ficam bem com listras. Eu faria uma serenata pra ele. Tocaria músicas por toda uma noite debaixo da janela. Fico sem sono quando deito do lado do amor. Falo mais alto quando quero que ele me veja. Construo castelos de areia quando vou à praia. Fiquei com muita vontade de dançar como aquele casal que vi beira-mar. É por isso que não uso relógio. Eu acordo de madrugada pra fazer algo. Tenho compromissos às 2h da madrugada também. Não suporto formalidades, nem programações. Impossível saber o que quero fazer amanhã. Desculpe, mas não chamarei sua mãe de senhora. Chamar de você facilita abraços. Ternos mascaram demais. Prefiro uma faixa de onça. As pessoas acreditam em mim quando me visto de oncinha. Então, não espere que eu vá cumprir as normas sociais. Elas não foram feitas pra mim. Sinto preguiça de pessoas cultas, que leêm demais, que sabem demais, porque elas acham bobeira falar da flor que vi nascer. Não troco sorrisos por política nem me adequo às diferentes situações. Me sufoco se me prendem, mas levo correntes se fogem demais. Apaixono por quem me faz metamorfosear. Eu me jogo nas mudanças e depois fico querendo catar migalhas de minhas lembranças.

parabéns Lio !!

ainda bem que ele existe… pra pontuar os meus poemas sem sentido.
espero poder continuar a entregar os meus papéis em branco pra gente permanecer escrevendo junto a nossa estória...

sábado, 19 de julho de 2008

bem pertinho

de repente Cuiabá me pareceu tão próxima de Belo Horizonte. faltando apenas um sim pra chegar lá com apenas dois passos.

lá no alto...

adoro quando minha imaginação pára nas suas palavras. acompanha seu tom. o toque que se faz bonito nas curvas. um verso seu é suficiente pra eu poder escrever um livro, sem vírgulas. eu chego a enxergar novas flores por lugares que passo todos os dias. o mundo se transforma com a gente. ontem a lua bem mostrou pra que viera. fez laranja nossos passos na noite. quisera eu poder congelar instantes assim.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

lágrimas


acho lágrimas tão lindas que eu não sei porque elas não me inundam sempre...
acabei de limpar uma que caiu de tanta alegria

aroeira

Nesta semana um amigo disse que não me reconhecia nos textos do meu blog. “Parece um livro. Um livro triste... eu sinto você muito longe quando leio seus posts”. Isto me intrigou de tal forma que li e reli várias vezes o e-mail que ele me mandou. Uma análise daquelas bem Aroeiras. De fazer você desconstruir tudo pra ver se chega debaixo da terra.

Tem várias formas de reflexo esse meu rio. Tem gente que vê colo, tem gente que vê tristeza, tem gente que se lê, tem gente que até deixa escapar um sorriso, mas de fato, não tem gente que vê felicidade. Não que eu saiba...

Passeando pelas últimas linhas da minha estória eu percebo de quanta inquietude eu sou feita. Algo bem Clarice mesmo. Eternamente incompleta. E incompreendida além desta eternidade. Não porque eu esteja num nível diferente dos outros. Eu consigo dividir certas partes minhas com pessoas diferentes, mas nunca consegui trocar um mundo inteiro. Sobram petálas, folhas secas, sementes nas mãos.

Quem me vê passar pensa que parei naquela gargalhada. Mas sei que me afogo de verdade é no drama. Foram raras as vezes que aluguei filmes de comédia. Eu busco o drama, o procuro em todas as coisas, até nas mais alegres. Talvez por isso quem me viu apenas em festas não me reconheça nas palavras...

Aqui não falo só de mim. Escrevo sobre pessoas que vivem a me despedaçar e carregar pedaços meus. Então me escrevo através delas também. Por isso pode parecer distância essa minha proximidade escondida entre letras...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

sapato alto


é estranho... porque fico me achando vulgar
é bom a gente se sentir meio menina... meio criança...
e de repente você vê que ja é mulher demais
e não dá mais pra se esconder debaixo da saia

quarta-feira, 16 de julho de 2008

bom dia

a senhora de cabelos de neve acordava todos os dias no mesmo horário. o sol sempre estava a sua espera pra poder nascer e enquanto ela não abrisse a janela ele não aparecia para os outros. então com toda a humildade ela se levantava pra que ele pudesse esticar seus raios e chegar em outras janelas distantes o mais cedo possível. assim surgia o primeiro sorriso dela. não tinha como passar despercebido aquele círculo no meio do azul.

acaso

Clarice vai dormir bem melhor agora que viu Eduardo passeando pela montanha...
é essa nossa mania de se reiventar através de outras estórias...

terça-feira, 15 de julho de 2008

contradição

ela deveria ser capaz de amar todas as cores. mesmo as cores sem cor. mas fica nessa de amar sob certas condições. se afoga na razão e sai dizendo que é so coração. mentira! Clarice ainda pensa demais nos tons claros e escuros, nas bolinhas e nas listras, nas infinitas formas de combinação.

parada

Naquela praça ainda tem um banco. É pausa, mas faz-se passagem. Trilho de trem. Respira comigo?

eterna inquisição

É impiedoso andar entre espinhos. Tem horas que me convenço que apenas pais e mães podem dar flores de verdade. Ainda existe inquisição. Mudaram apenas as formas de execução. Quero ir para aquele mundo sem tribunais. Puramente relativo. Perder o pudor. Avançar o sinal vermelho sem olhar pra trás. Desatar as amarras sociais. Limpar todo o sistema que absorvi. Desligar todas as tomadas. Pra assim poder nascer na lua e morrer no sol.
eu sei que a água escorre e que o vento passa. mas eu ainda vou conseguir colocar tudo aqui dentro, dentro de mim. pra eu ter essa falsa sensação de captura daquele instante.

sábado, 12 de julho de 2008

leitura

- Lê a minha mão?
- Hum… Não consigo ver muitas coisas… suas linhas são curtas, elas não têm fim. Você está perdida...

...

- Eduardo, uma pessoa leu a minha mão hoje e disse assim: "Não consigo ler a sua mão, porque não há traços definidos." Ele lê a mão através dos traços que existem entre as linhas principais, mas as minhas linhas são curtas e ele não conseguiu ver muitas coisas...
- Mas isso é fácil de ler. Eu vejo... vejo suas linhas. São perdidas. Não curtas. Longas. Ser perdida... é jeito de viver. Você não traça. Apenas pega e vai...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

nas pétalas desta demasiada flor

Eduardo… peço licença para prolongar a sua sensibilidade. É que eu não paro de me perguntar quais eram as juras de amor deste casal. Fico querendo entrar na intimidade deles pra adoçar a minha.

Esta mulher provavelmente demorou para colocar essa flor na orelha dele, porque enquanto a encaixava se apaixonava por mais uma vez e inevitavelmente se esquecia das pétalas. É que o amor nos faz perder a memória. E por mais que ela já tenha olhado para o rosto dele por tantas perdidas vezes, ela sempre encontrava algo diferente. Acho que ele mudava de cor e forma. Ou pode ser que as pintas andavam pelo rosto dele… e a flor lá… parada no tempo.

Posso afirmar que eles estavam sozinhos, deitados na nuvem. Ele publicitário, recriando a mulher… e ela terapeuta, descobrindo infinitos sentidos naquela flor de asas brancas. Já estão juntos há dois anos e moram juntos há seis meses. Acho que eles nunca brigaram. Ela vive a plantar essas flores nos defeitos dele… e ele, como não poderia deixar de ser, perde a linha, e sai em disparada pintando o tom de pele dela.

Espero que ela nunca termine de encaixar as flores…

sufocando

Clarice começou a encher o balão. Ela adiou o tanto que pôde. Colocou todo o furacão acumulado dentro de si naquela bola laranja que se formava. Quando vazia tinha uma cor escura, mas Clarice soprava tanto que em poucos segundos já dava pra ver do outro lado. Ela nem conseguia mais segurar o balão com as duas mãos. E ainda assim continuava a encher. Vinha ar de todos os tempos verbais. As vezes, ainda que ela soprasse forte, o ar voltava e ela voltava a se encher. Parecia ar sem forma, daqueles dias que você esquece que pode falar. Fica muda tentando ouvir a própria voz silenciosamente. E o sopro continuava na tentativa de se esvaziar. Agora resta esperar alguém pra estourar esse balão... vai explodir flores de cetim entre abraços de quebrar costelas.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

rotina, ou a falta dela

De segunda a sexta-feira tem o morning course. Uma aula sobre assuntos diversos: situação da água no mundo, minas terrestres, escassez dos recursos minerais, apresentação de trabalhos realizados na África, geração de renda, segurança alimentar, prevenção de doenças, entre outros tantos temas. Esse mini curso acontece de 8h as 9h.

O café da manhã é servido às 9h. Geralmente comemos cereais com leite, panquecas com geléia e cream cheese, pão com manteiga, torradas, oat mealt (uma papa de aveia), ovos mexidos, etc. Aqui não há funcionários, são os voluntários que preparam as refeições e lavam as louças. No começo da semana é colocado num quadro o menu e cada um pode incluir seu nome no dia que quiser.

9h30 é a hora dos mobes. Cada um tem uma obrigação dentro da ONG: lavar um banheiro, limpar uma sala, recolher os lixos, lavar as vasilhas do café, etc. Às 10h eu começo a trabalhar no promotion. Converso via msn com pessoas interessadas esclarecendo dúvidas e tentando matricular novos voluntários. Comecei a trabalhar nessa função no dia 2 de maio. Como eu paguei metade do programa eu tive que vir três meses antes do ínicio do treinamento para compensar o valor restante em forma de trabalho. O programa custa 3.900 doláres no total.

O almoço é servido às 13h. Quem cozinha deve chegar 2h antes para que esteja tudo pronto no horário. Nesta semana há cerca de 30 pessoas aqui, então é importante que a quantidade de comida seja suficiente para todos. Come-se muito macarrão, arroz, feijão, almôndegas, peixe, camarão, frango, salada, etc. Não se faz suco aqui, serve-se um chá gelado. De 13h30 as 14h fico conversando, assistindo programas locais dos Estados Unidos, deito na grama, dou gargalhadas na rede, etc.

Em seguida volto ao trabalho e fico até às 17h. Troco de roupa e vou fazer exercícios. Nos últimos dias estou caminhando até a Five Corners, cerca de 8km por dia. O jantar é às 19h. Três vezes por semana há alguma atividade para os voluntários a noite: filmes, workshops, alguma apresentação, fogueira, churrasco, etc. A noite é livre... e é à noite que surgem as melhores conversas. Dispersas na madrugada.

Assim é a minha semana. Mas uma pequena observação: a gente não segue tanto a programação. Tem dez dedos meus na minha falta de rotina...

terça-feira, 8 de julho de 2008

sem retrovisor

Clarice desceu as escadas correndo, bebeu água com bastante gelo quente e saiu. As mãos estavam cheias de flores brancas bordadas de azul. As petálas ficaram apertadas quando os dedos se encontraram. Um espinho para desafogar. Ufa!

Ela soria demais, exagerava no tom. Quase não dava pra ouvir o seu riso de tão alto que era. Sorria até quando a água salgada caía dos olhos. Sobrava. Tinha que limpar. Tentava achar a medida, mas espirrava demais. E quando contaminava... ah... aí já não dava mais pra voltar.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

vestido rodado

Eu pensava que pra dançar bastava ter pés. Que não precisava molhar a sede. Podia ser descalço mesmo. Numa sala escura, sem data marcada. Pronto, quero dançar agora. E assim se embalava. Mas naquela noite de cortinas fechadas e luzes apagadas havia muitas cadeiras e gargalhadas. Ninguém ouvia o mesmo som que eu. Parecia humor o meu corpo jogado ao vento. Me disseram ser loucura escancarar passos dessa forma. Que eu deixava as janelas abertas demais. Essas palavras espalharam perfume pelas esquinas do meu ego. Vi, em alta resolução, mais uma chave no chão.


quinta-feira, 3 de julho de 2008

áfrica

Eles morrendo de fome, feito corpo sem pele. Esqueleto. E cá estou eu, morrendo de amores, desperdiçando o pão com as minhas quatro mãos. Não vejo a hora de chegar lá. Falta coragem pra ir sozinha. Ainda faltam sete meses. Muito tempo debaixo do edredon, tomando banho com água quente e podendo dizer até logo. Sigo aqui nesse tapete muito vermelho. Me sinto distante daquilo que vim fazer tomando sorvetes em dias de suor. Quero saber da alma de cada um, porque amanhã poderei dançar na rede com eles. Não faço idéia do que seja não querer saber nomes, na falta do dia seguinte. Não imagino o que possa ser a dor do corpo, que sofre a ausência de condições dignas de sobrevivência. Assim a mente não suporta e acaba cedendo. A ponte quebra. O lirismo acaba. E o rio que passa em meu rosto seca.

resgate

Onde será que eu o deixei? Não me lembro se foi na grama, debaixo das canções que você tocava pra mim. Uma parte eu guardei em uma das petálas daquelas trinta rosas, uma pra cada dia do mês. Sei que fiz evaporar alguns suspiros com a minha falta de memória. Ainda bem que guardei outros nos infinitos planos que fiz. Fico a esperar as rugas pra eu poder ler a nossa estória pra você. Porque no final é você quem não consegue mais se lembrar. E serei eu quem nunca deixará você esquecer... as noites vermelhas.

terça-feira, 1 de julho de 2008

de passagem

A mulher com asas nas costas chegou correndo e deu um abraço na amiga. O abraço era forte, mas as mãos não se encontravam nas costas. Faltava cobrir uma parte do corpo. Talvez pudesse ser suave, pra durar mais. De forma que a amiga nem percebesse a ausência dos braços. Mas cada um respira num ritmo. E a mulher não parava de respirar. Por isso se cansava tanto de si mesma e dos outros. Se fechava no quarto como se pudesse construir muros maiores que o homem. Acontece que entre quatro paredes costuma ter alguma janela e a noite os olhos aparecem mais. E mesmo sem querer a mulher era obrigada a parar pra olhar.

70 anos e sonhando...

 sonhos, os seus, não envelhecem. não porque sejam eternos - mas porque são renováveis, e mudam de cor.  sonhando desde sempre, você não foi...