quinta-feira, 10 de julho de 2008
sufocando
Clarice começou a encher o balão. Ela adiou o tanto que pôde. Colocou todo o furacão acumulado dentro de si naquela bola laranja que se formava. Quando vazia tinha uma cor escura, mas Clarice soprava tanto que em poucos segundos já dava pra ver do outro lado. Ela nem conseguia mais segurar o balão com as duas mãos. E ainda assim continuava a encher. Vinha ar de todos os tempos verbais. As vezes, ainda que ela soprasse forte, o ar voltava e ela voltava a se encher. Parecia ar sem forma, daqueles dias que você esquece que pode falar. Fica muda tentando ouvir a própria voz silenciosamente. E o sopro continuava na tentativa de se esvaziar. Agora resta esperar alguém pra estourar esse balão... vai explodir flores de cetim entre abraços de quebrar costelas.
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