terça-feira, 15 de dezembro de 2009

o quê é que fica?

havia nos dois uma necessidade de alguém. ele não a desejava, ela sim. ela sabia que desejo era coisa que passava. mas o quê é que ficava mesmo? ela só via tudo indo, como se o passado fosse intocável, como se o ontem fosse só ontem. o agora era algo solto demais, quase um nascimento envolvido em tantos abortos. o amanhã quando começava, matava logo o que se foi. ela tinha era medo disso. não aceitava que uma noite pudesse ter fim só porque o céu mudava de cor. ela queria colocar a vida num arquivo e escolher os sorrisos que gostaria de repetir. mas teria que ser o mesmo sorriso. ela que mal podia morar dentro daquela que a cabia. a lua não era tão perto assim como uma vez ela imaginara. quando voltou pra casa acreditava que bastaria seguir em frente pra chegar lá no infinito. fazendo isso viu-se imóvel, com os pés enterrados na terra. e assim tudo ia, tudo passava, tudo tinha ponto final. era só dentro dela que as coisas não morriam. lá dentro tudo era vivo demais, tão vivo que não era raro ela viver um dia pensando ser outro. é que ela já sentira coisas demais e as poucas doses de sentimentos que os outros mediam nas pequenas xícaras não despertavam nela o efeito de roda gigante. então ela girava sozinha, nas esquinas, nos cantos, nos corredores, nos lugares onde ela pudesse fingir que o agora era qualquer coisa de ontem.

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