terça-feira, 22 de dezembro de 2009

uma professora encaracolada

há um tempo atrás eu era criança. e já fui bem pequenina. cabia no colo da mamãe. nem andar eu sabia. mas amar eu já aprendia. quando já era um pouco maior, com passos meus e palavras minhas, eu tive uma professora de dança. ela tinha os cabelos enrolados e quando eles ficavam livres preenchiam toda a moldura do rosto. eu não faltava a uma aula se quer. eu gostava do ritmo encaracolado que a professora ensinava. um dia eu fui a uma festa e ganhei um sapatinho de cristal. guardei por algum tempo o brilho dele na minha estante, até que um dia resolvi dá-lo de presente à minha professora. passei dias imaginando como fazer isso, em como eu podia fazê-la entender o quanto eram especiais os seus cachos. fiz isso com o coração querendo rasgar a roupa colada no peito. eu nunca esqueci desse detalhe. essas coisas que a gente faz quando ainda tem esperança. hoje encontrei a minha professora no elevador. ela ainda tem os mesmos cachos e eu ainda fico sem saber o que fazer com as minhas mãos quando ela está por perto. acho que ela também lembra do cristal que tinha naquele sapato. não ficou lá atrás este detalhe. ficou nos olhos nossos, naquele elevador.

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