domingo, 8 de junho de 2008

pegadas na floresta

É invasivo entrar sem bater. Acontece que na floresta não há portas e eu queria ir lá. Quis criar meu caminho, mas meus olhos se arregalavam a cada mudança das folhas no chão. O trovão da música que ouvia se misturou com a minha imaginação e meu pescoço girou. No desenho das árvores eu vi ursos de vários tamanhos e cores. Um deles descansava com o filho na sombra. Outro dava gargalhadas relembrando o dia em que se perdeu na floresta. Um casal tomava café e a última cena que vi foi o abraço. Eu achei melhor não dar boa tarde dessa vez.

Aqui você vê pedaços do céu, recortado entre os galhos e as folhas. O rio não quis parar pra eu passar. Eu sentei pra falar com ele e ele continuou a molhar com águas tão diferentes aquela mesma pedra verde. Só agora eu entendo a altura de algumas árvores. As mais baixas não gostam de ver apenas o céu. É que aqui em baixo tem raízes. O vento daqui fez carícias em mim. Eu não fiz restrições e ele entrou debaixo da minha roupa, rasgando o peito. Ele ainda está aqui. Acho que não sai mais. É a primeira vez que guardo um pedaço do vento.

Eu posso ver as migalhas de pão que João e Maria deixaram pelo caminho. São eternas nesse lugar. Continuei a andar e meus cds eu deixei na mochila e a minha cabeça eu abandonei no balanço.

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